Amolecido pelo momento ternura, Jabor dá um último conselho. Serra deveria fazer uma concessão ao “populismo midiático” e terminar de uma vez por todas com este papo de quebra de juramento
Waldemar Figueiredo Filho, em seu sítio
A linguagem do Arnaldo Jabor é virilidade castiça. Faz lembrar o pastor Silas Malafaia. Em artigo no jornal O Globo de 04/09/2012, o hábil articulista partiu para o escracho geral e no final, enternecido, dedicou afetuosos conselhos para o candidato José Serra. No métrico Segundo Caderno coube exaltação viril ao lado conselhos sentimentais.
Só mesmo um gênio das palavras para conseguir tamanha façanha. Por isso, me lembrei do formato de comunicação do Silas Malafaia: cospe fogo contra seus adversários olhando fixo para uma câmara, mas, no final do programa, com música suave ao fundo, olha para outra câmera, muda suas expressões faciais e modula a voz. É claro que no close final Malafaia fala com os seus “amados irmãos”, enquanto nos enquadramentos precedentes ele arde em ira contra toda sorte de perversão dos seus inimigos reais e imaginários.
Jabor escrachou geral: o marketing político perverte os homens de bons costumes; na cena política paulista existiria um espaço da ignorância historicamente ocupado por populismos de ocasião; a classe C é formada por conservadores idiotas que andam atrás de soluções mágicas e imediatas; o movimento evangélico prospera neste espaço de gente opaca que reclama por líderes totais; a mistura entre política e religião na versão do movimento evangélico brasileiro seria o “islamismo caboclo”; líderes reacionários surgem em tempo de crise. Em suma, dentro dos impasses geram-se os canalhas.
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Quando parece que tudo está perdido… é como se Jabor olhasse para outra câmera e em close, refeito, afável, amável, aflouxa o nó da gravata e relaxa a musculatura facial. Agora não fala com a “opinião pública”, dirige-se àquele que conhece há muito tempo. Pensar no José Serra levou-o concluir que não é absurdo esperar por um redentor. O jornalista cineasta diz conhecer o amor do Serra pelo progresso, além de sua inveterada adesão à razão.
O bom amigo não falta com a verdade. Para que haja perdão é necessária a confissão de culpa. Em 2002, o Serra errou. Diante das infâmias lançadas no debate pelo inimigo Lula, que tentava macular o brilhante governo de FHC, Serra tinha que reagir. Jabor deixa transparecer a sua mágoa e acusa a linha adotada pelo marketing como a culpada pelo silêncio do amigo. Mas são águas passadas. Nas eleições deste ano o que precisa ser feito? Ora, que pergunta! Chamar imediatamente o FHC para a campanha.
Russomanno é o inimigo a ser batido. A humilde contribuição do Jabor seria a consultoria de marketing político num dos principais jornais do país. Sem constrangimento algum o jornalista cineasta escracha uns e afaga outro. Passa a mão na cabeça do Serra como conselheiro sentimental.
Amolecido pelo momento ternura, Jabor dá um último conselho. O Serra deveria fazer uma concessão ao “populismo midiático” e terminar de uma vez por todas com este papo de quebra de juramento. Que o Serra faça um novo juramento solene que caso eleito prefeito de São Paulo vai cumprir o mandato até o final. Para tanto, chame como testemunhas religiosos e juristas para dar credibilidade ao rito.
O espaço do Jabor é pequeno, por isso que não deu para nomear os avalistas do Serra. Se me permite sugestões desse negócio de mão direita na Bíblia e esquerda na Constituição para jurar, que tal o Silas Malafaia e o eminente Ministro Gilmar Mendes? Para efeito de registro audiovisual, o próprio Arnaldo Jabor podia dirigir a cena, digo, o simulacro.