Apoiar Romney é um direito de Clint Eastwood. O que chocou foi imaginar um diálogo em que claramente desrespeita o atual ocupante da Casa Branca
De repente, como ápice, surge um cidadão respeitado e monta uma cena insólita. O público vibra, vibra não, urra de gozo. Afinal, ele representa a doce vingança aos intelectuais que sempre os rejeitaram. Agora, eles sentem que são valorizados, estão certos, possuem a espada da justiça.
O preâmbulo serve para fazer uma imagem do que foi a convenção nacional do Partido Republicano com a presença de Clint Eastwood, simulando uma hipotética conversa com o presidente Barack Obama, pouco antes da entrada de Mitt Romney para receber a ovação dos correligionários, dar o discurso de aceitação e ser sagrado oficialmente o candidato do Partido Republicano, tendo como companheiro de chapa Paul Ryan.
A surpresa, como dissemos, ficou por conta de Eastwood. O ator, diretor e roteirista é hoje um dos mais respeitados no círculo cinematográfico de Hollywood, com filmes que comovem os espectadores, encantam os críticos e servem como referência para os atores, diretores e produtores de Hollywood.
Eastwood, aliás, é um exemplo clássico do profissional que soube dar a volta por cima. Depois de um início de carreira, no qual se notabilizou por fazer filmes de faroeste B, caiu no ostracismo juntamente com o gênero western que saiu de moda no circuito cinematográfico. O revisionismo mostrou que brancos matando índios para pegar terras não era mais uma boa mensagem e os conflitos resolvidos à bala também prejudicavam internacionalmente a imagem dos Estados Unidos, mostrando o país como uma terra sem lei.
A salvação dele veio através dos chamados westerns spaghettis, criado pelos italianos para reviver o gênero. Convidado a trabalhar na Itália, Eastwood voltou para os EUA mudado, para melhor. Além de ter aprendido a falar italiano, aprendeu também a linguagem dos grandes diretores de cinema italiano e levou para Hollywood o conceito europeu de cinema.
Claro que continuou fazendo a linha de durão, com Dirty Harry, um policial que fazia justiça à sua própria maneira. Mas à medida que o tempo foi passando ele foi para trás das câmeras e se notabilizou por escrever roteiros e dirigir filmes sensíveis. Tanto que se tornou um dos mais prestigiados diretores do cinema americano na atualidade.
Com um currículo dessa envergadura, fica estranho entender por que motivo um sujeito respeitado, com 82 anos de idade, se expôs ao ridículo desta forma. Ora, apoiar Romney e Ryan é um direito dele, por sinal, na contra-mão de 90% da fauna hollywoodiana que apoia Obama. O que chocou foi imaginar um diálogo em que claramente desrespeita o atual ocupante da Casa Branca.
Os republicanos, por sua vez, que odeiam Hollywood, por seu pensamento liberal, vibraram com a cena de mais de dez minutos em que ele tenta mostrar que Obama, em quem teria votado em 2008, não cumpriu suas promessas.
O irônico é que as duas promessas cobradas de Obama, que não se concretizaram, foram o fechamento da base militar de Guantanamo em Cuba e a retirada dos soldados do Afeganistão. A última já vem sendo cumprida, seguindo àquela realizada no Iraque e a primeira não foi fechada por oposição dos republicanos, apoiados pelos setores mais conservadores das forças armadas. Ou seja, se Romney for eleito, evidentemente estas promessas não serão cumpridas e o país ainda corre o risco de se envolver em outra guerra externa.
Do ponto de vista estratégico, outra crítica. Ora, quem garante que na convenção do Partido Democrata, que começa nesta terça-feira, não seja convidado um esquerdista mais radical de Hollywood – como Micahel Moore ou Sean Penn – para dar o troco em Eastwood. Aí, com certeza, será a vez dele e dos republicanos se queixarem de que “não estão respeitando a carreira de um homem deste naipe”.Mas, aí vale aquele velho ditado: “Quem fala o que quer ouve o que não quer”.
Em termos eleitorais, depois da festa democrata, é que vai começar de fato a batalha eleitoral. Porque as recentes pesquisas mostraram Romey na frente de Obama depois da convenção republicana. Isto é normal, porque os republicanos estiveram em evidência e atraíram toda a atenção da mídia americana. Esta semana o mesmo deve ocorrer com os democratas e provavelmente Obama recupere a liderança ou seja mantido o empate técnico. Os debates entre os dois candidatos é que devem ser decisivos para que os eleitores optem pelo candidato que julguem ser o melhor para governar os EUA nos próxmos quatro anos.
Antonio Tozzi, Direto da Redação