Rejeitamos todos os esforços para denegrir as crenças religiosas de outros. Mas não há absolutamente nenhuma justificativa para essa violência sem sentido. Nenhuma", disse Obama
Misturar Deus (qualquer Deus) ou seus profetas com política é receita certa para o horror.
A evidência mais recente é o assassinato anteontem do embaixador norte-americano na Líbia, Christopher Stevens, e três outros funcionários dos EUA, vítimas de fanáticos islamitas, açulados por fanáticos islamofóbicos.
Breve rememoração dos antecedentes: começou com vídeo claramente ofensivo ao profeta Maomé, produzido por Sam Bacile, supostamente judeu norte-americano que considera o islã “um câncer”, segundo disse ao “Wall Street Journal”.
Mas, atenção, não é o caso de aceitar candidamente que se trata de um fanático isolado. Ele próprio contou, também ao “WSJ”, que levantou US$ 5 milhões entre cerca de cem judeus para custear a produção de seu filme.
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Poderia ter sido um desses filmetes que passam despercebidos não fosse o fato de ter sido promovido por outro fanático, um certo Terry Jones, conhecido por pretender fazer de todo 11 de setembro um dia de queima do Corão.
Mesmo assim, pouca gente, nos Estados Unidos, prestou atenção ao vídeo, difundido pelo YouTube.
Mas os fanáticos do outro lado cuidaram de dar a ele a difusão que não havia tido na vida real, o que levou a protestos tanto no Egito como na Líbia (estenderam-se ontem à Palestina).
Relato de Ashraf Kalil, da Time.com: “Alguns dos manifestantes pareciam estar sob a impressão de que o vídeo estava sendo amplamente difundido em muitos canais americanos -quando a verdade é que a maioria dos americanos provavelmente nunca ouvira falar dele até que a embaixada fosse atacada.
“Trata-se essencialmente do caso de um grupo marginal de fundamentalistas cristãos provocando com sucesso e enraivecendo um grupo similar e marginal de fundamentalistas islâmicos”.
Até aí, estamos contando uma história de piromaníacos.
O que assusta é que Mitt Romney, o candidato republicano, tenha entrado com mais gasolina no incêndio ao atacar a reação inicial da embaixada norte-americana no Egito, supostamente um pedido de desculpas pelo vídeo.
“A primeira resposta dos Estados Unidos teria que ser de indignação pela quebra da soberania de nossa nação. Pedir desculpas por valores americanos nunca é o caminho certo”, disse Romney.
A posição do governo, na verdade, foi de puro bom senso: “Rejeitamos todos os esforços para denegrir as crenças religiosas de outros. Mas não há absolutamente nenhuma justificativa para essa violência sem sentido. Nenhuma”, diria Obama.
Ao sobrepor incondicionalmente a liberdade de expressão à sensibilidade de outros, Romney definitivamente não contribui para dissolver as resistências que seu país encontra em muitas partes e em especial no Oriente Médio.
O ataque às embaixadas americanas não teve nada a ver com políticas de Washington.
Mas, como escreveu Blake Hounshell, supervisor do site da revista “Foreign Policy”, “é uma sombria recordação não apenas da profunda raiva e da disfuncionalidade que aflige o grande Oriente Médio, mas também das enormes dificuldades dos EUA em lidar com essa parte do mundo”.
Clovis Rossi
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