“Cuba precisa do apoio de países próximos e distantes para o progresso, que é prejudicado pelo bloqueio econômico que golpeia sua população”, avaliou Dilma Rousseff, que disse ainda: “o mundo, em lugar de armas, quer alimentos”.
No discurso de abertura da 67ª Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) realizado nesta terça-feira (25/09), em Nova York, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, afirmou que a solução para o conflito armado sírio não ocorrerá através das armas e reforçou um apelo de paz para os países mais afetados. Segundo ela, o conflito militar no país árabe traz consequências para todos os vizinhos no Oriente Médio.
“Como presidenta de um país que é pátria de milhões de descendentes sírios, lanço apelo aos envolvidos para que deponham as armas. Não há solução militar para a crise síria. A diplomacia e o diálogo são, não só a melhor, como a única opção”, afirmou, pedindo aos dois lados do conflito para que juntem-se aos esforços da ONU e da Liga Árabe.
Ela também disse que “a maior responsabilidade” do conflito recai sobre o governo sírio, que luta contra grupos armados que exigem a deposição do regime do presidente Bashar al Assad. No entanto, também criticou a interferência de países ocidentais no conflito, que ajudam os opositores: “sabemos também da responsabilidade das opções armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico de fora”, afirmou.
Sob aplausos, Dilma afirmou repudiar o que chama de preconceito islamofóbico em países ocidentais, citando o Brasil como um país “com milhares de brasileiros de confissão islâmica” – segundo levantamento, o número já teria chegado a um milhão. “Registro neste plenário nosso mais veemente repúdio à escalada do preconceito islamofóbico em países ocidentais.”
Ela também condenou o ataque às representações diplomáticas norte-americanas e ocidentais após a divulgação do filme “A Inocência dos Muçulmanos”, que ofende o Islã. “Com a mesma veemência, repudiamos os atos de terrorismo que vitimaram diplomatas na Líbia”. Um dos ataques matou o embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, no consulado em Benghazi.
No campo geoestratégico, Dilma voltou a pedir o fim do bloqueio econômico à Cuba coordenado pelos Estados Unidos, classificado de “anacronismo”. “Cuba tem avançado no seu modelo econômico. Para isso, precisa do apoio de todos. A cooperação para o progresso de Cuba é prejudicada pelo embargo. É hora de por fim a esse anacronismo”.
Crise mundial
No plano econômico, ela rebateu as críticas sobre as políticas de proteção econômicas brasileiras dizendo que muitos dos países que criticam o Brasil é que merecem ser chamados de protecionistas. As críticas seriam em razão da decisão brasileira em aumentar os impostos para importação de mais de cem produtos, dentro dos limtes da OMC (Organização Mundial do Comércio).
“Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam consideradas protecionismo”, disse a presidente.
A presidente também criticou as políticas monetárias dos países desenvolvidos, afirmando que medidas de austeridade fiscal que não prevejam o crescimento econômico são insuficientes, citando exemplo do próprio Brasil. “Superamos a visão incorreta que coloca de um lado as medidas de austeridade e o estímulo ao crescimento. Esse é um falso dilema”, disse.
“A grave crise econômica de 2008 ganhou novos e inquientates contornos. A opção por políticas econômicas ortodoxas vem agravando a crise em economias desenvolvidas. […] As principais lideranças do mundo desenvolvido ainda não encontraram caminho que articulam ajustes fiscais para interromper a recessão”.
“Os bancos centrais dos países desenvolvidos insistem em política monetária e os países emergentes perdem mercado devido à valorização artificial de suas moedas”.
Ela também classificou como urgente “a construção de um amplo pacto” pela retomada do crescimento global. Não haverá resposta eficaz à crise enquanto não se intensificarem esforços de cooperação entre os países e organismos multinacionais, como o G20 (grupo das economias mais fortes do planeta e a União Europeia)”.
Como já havia feito em 2011, Dima também defendeu a criação de um estado para o povo palestino como a única via para se atingir a paz no Oriente Médio. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel de segurança em suas fronteiras e de estabilidade regional”.
Reformas
No plano institucional, a presidente criticou o funcionamento das Nações Unidas em relação à demora para a resolução de conflitos. Para a presidente, “a comunidade internacional tem dificuldade para lidar com as crises internacionais”, por isso, vê necessidade de mudanças na instituição. “As guerras e os conflitos regionais cada vez mais intensos demonstram a imperiosa urgência da reforma institucional da ONU e a reforma de seu Conselho de Segurança”.
“Não podemos permitir que esse conselho seja substituído, como vem ocorrendo, por coalizões formadas à sua revelia. O recurso fácil a esse tipo de ação imobiliza o conselho. O Brasil sempre lutará para que prevaleçam as decisões emanadas da ONU. Mas queremos ações legítimas, respaldadas pelo direito internacional”.
O Brasil tradicionalmente abre os discursos da Assembleia-Geral da entidade desde 1949. O encontro em Nova York reúne representantes dos193 países-membros da organização.
Opera Mundi