Russomanno se indispõe com jornalista: "Sou religioso, me respeite"
Celso Russomanno, candidato do PRB à Prefeitura São Paulo, vai à missa e pede respeito ao ser questionado sobre o fato de religião ter virado tema político. Tempo da igreja Universal tem sido utilizado como comitê de campanha do candidato
O candidato do PRB à Prefeitura São Paulo, Celso Russomanno, exigiu respeito após ser questionado neste domingo, 9, sobre o fato de religião ter virado tema político enquanto a legislação trata o Estado como laico. “Eu sou religioso, me respeite. Por favor, me respeite como religioso. Eu sou uma pessoa religiosa e acho que cada porta aberta onde existe uma religião é importante para o ser humano”, disparou antes de assistir à missa na Paróquia Assunção de Nossa Senhora, no centro São Paulo.
Cada vez que é perguntado sobre o tema, Russomanno mostra que já está vacinado contra o rótulo de ser o candidato da Universal. Diz que fica feliz com o apoio de todas as igrejas e que continuará frequentando todas elas. Ele afirmou já ter visitado de terreiros de umbanda a mesquitas.
Ele também desconversou quando foi perguntado sobre sua equipe ter sido flagrada usando um templo da Igreja Universal, na zona sul, como um comitê improvisado, segundo matéria feita pela Folha de S. Paulo.
Surpresa
Quando soube da ida do candidato do PRB à missa, a assessoria de imprensa da Paróquia Assunção de Nossa Senhora disse ter sido surpreendida e falou até de certa irritação do padre Juarez com a suposta visita desavisada de Russomanno. A equipe de campanha disse ter avisado o padre, que negou ter ficado bravo.
“Estava na agenda dele. Não foi nada de surpresa, ou de pegar de surpresa. O assessor dele já tinha falado. É muito bem vindo. Uma coisa é a propaganda que é feita através dos meios de comunicação, outra coisa é o contato com as pessoas”, afirmou o padre.
Ao abrir a cerimônia, o padre apenas anunciou a presença de Russomanno e disse que sua ida à igreja não se tratava de campanha. Ele disse que espera receber também os outros candidatos.
Apesar disso, padre Juarez não descartou a importância política das igrejas. “A igreja tem que ter uma consciência política, de conduzir os fiéis para que possam ter mais consciência ao votar. Nem é permitido pela lei eleitoral que se faça campanha política nos templos. A gente não pode instrumentalizar a missa, o culto para que seja direcionado a um ou outro candidato. Seria violentar a consciência das pessoas”.
Sede da Igreja Universal serve de comitê informal para Celso Russomanno
O comando da campanha eleitoral do candidato a prefeito de São Paulo Celso Russomanno (PRB) está usando a sede da Igreja Universal do Reino de Deus como comitê informal. É o mesmo prédio onde Edir Macedo, o chefe da igreja, celebra cultos. O PRB é o braço político da Universal, e a campanha do candidato é coordenada por pastores.
Russomanno não quis comentar o uso do templo em sua campanha, conforme noticiou hoje (9) a Folha de S.Paulo. Ele disse não ter informações, mas cabos eleitorais que estavam no prédio informaram que trabalham para o candidato.
Os cabos eleitorais se reúnem no estacionamento do templo, na avenida João Dias, em Santo Amaro, zona sul da cidade. Ali, eles são abastecidos de bandeirinhas e adesivos para distribuir nas às ruas. À tarde, retornam para devolver a sobra, em uma mesa com a inscrição Força Jovem Brasil, que é um grupo da Universal.
Os jovens recrutados também fazem campanha para o pastor Jean Madeira, líder da Força Jovem e candidato a uma cadeira na Câmara Municipal. Cada um dos jovens ganha R$ 150 por semana para sete horas de trabalho por dia, de acordo com o jornal. O pagamento é feito no local.
A Assembleia de Deus Ministério em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, também se envolveu diretamente com a campanha de Russomanno. Os líderes dessa congregação estabeleceram para cada um dos seus 500 pastores a meta de garantir pelo menos 100 votos para o candidato. Durante um culto, houve um pedido formal de voto. Ver vídeo abaixo.
A participação da Universal e da Assembleia de Deus na campanha de Russomanno pode ser considerada como ilegal porque a Lei Eleitoral afirma que os templos são bens públicos, e nenhum candidato pode se valer deles. Pelo artigo 38 dessa lei, bens públicos são “aqueles a que a população em geral tem acesso, ainda que de propriedade privada”.
Por isso, para o advogado Augusto Aras, professor de direito eleitoral da UnB, o envolvimento de igrejas em campanhas políticas é uma prática ilícita porque configura abuso de poder.
Ele afirmou que há, no caso, ilícito eleitoral porque é “proibida qualquer tipo de propaganda eleitoral, mesmo se ela ocorrer em espaços privados, e o espaço é público pelo seu acesso, que é livre”.
Ricardo Chapola, Estadão. Com Paulopes.