Ator da Globo critica pouco espaço para negros na televisão brasileira
Érico Brás deu como exemplo a própria série onde atua. “Sou o único negro do programa e, além disso, apareço em menos de 10% das cenas. Isso está errado”
Horas antes da abertura do Festival Latino-Americano e Africano de Arte e Cultura 2012 (Flaac 2012), na Universidade de Brasília (UnB), estudantes de escolas públicas tiveram a oportunidade de ouvir o ator Érico Brás, que interpreta o papel do garçom Jurandir na série Tapas & Beijos, da Rede Globo. No encontro, ele reclamou do pequeno espaço que atores negros têm na televisão brasileira.
Érico Brás deu como exemplo a própria série onde atua. “Sou o único negro do programa e, além disso, apareço em menos de 10% das cenas. Isso está errado”, disse. O ator volta à Flaac à noite, às 18 horas, para ser o mestre de cerimônias do evento de abertura, no espaço Mandala Global Mestre Teodoro, e recitar poemas que contam a história da miscigenação brasileira. Ele é baiano e sua formação se deu no Bando de Teatro Olodum, de Salvador, grupo conhecido pelo conteúdo crítico do trabalho.
A discussão sobre discriminação racial, ideológica e religiosa, entre outras, está presente no Flaac 2012, cuja programação pode ser consultada na internet. Os organizadores querem incentivar a reflexão sobre a valorização das etnias. “Nós não reconhecemos que somos latino-americanos”, disse o coordenador-geral do festival, Zulu Araújo, que também é negro.
Zulu lembrou que o espaço escolhido para a palestra de Brás e a conversa com os estudantes, pela manhã, a Oca dos Povos Indígenas Darcy Ribeiro, é um exemplo de convivência entre os diferentes. “Ela [a oca] é toda feita de material orgânico”, explicou. O coordenador também relacionou a vitória da política de cotas da UnB, que reserva vagas para mestiços e indígenas, com a preocupação do festival de estimular a integração das culturas latinas e africanas.
Durante as palestras do ator Érico Brás e de Zulu, os estudantes, todos do ensino médio de escolas públicas do Distrito Federal, reconheceram que o debate sobre os temas latinos e africanos está presente de forma limitada no cotidiano deles. “Temos o Dia da Consciência Negra, mas é preciso dar continuidade a esses trabalhos”, disse Thiago Palma, de 17 anos, que cursa o terceiro ano do ensino médio em uma escola de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal.
As alunas Mirielle Tomaz, de 16 anos, e Kerollainy Lopes, de 18 anos, querem conhecer a cultura da América Latina e a da África. “É interessante, é diferente”, disse Mirielle. “Quero aprender sobre a universidade e sobre essas culturas, às quais não tenho acesso”, acrescentou Kerollainy.
Agência Brasil