Brasileiros naturalizados comandarão 28 cidades; há ainda 158 vereadores. Para ocupar cargo eletivo no Brasil, o estrangeiro precisa da cidadania
Candidatos da Hungria, Líbano e Japão, entre outros países, foram eleitos no último dia 7 nas eleições municipais do país. Os brasileiros naturalizados vão governar 28 cidades e ocupar 158 cadeiras em câmaras municipais a partir de 2013.
A proporção de estrangeiros eleitos neste ano se manteve em relação ao registrado em 2008, quando 12,7% dos 1.770 candidatos conquistaram uma vaga. Na época, foram eleitos 34 prefeitos e 255 vereadores nascidos no exterior.
Nascido na cidade de Barranquila, na Colômbia, Carlos Amastha (PP) é o único estrangeiro que irá governar uma capital. Empresário do ramo de shoppings, ele foi eleito prefeito de Palmas no primeiro turno com 59.680 votos (49,65% do total). Não há segundo turno na cidade porque o município tem menos de 200 mil eleitores. Amastha disse que “a população recebeu alguém que não nasceu no Brasil”.
Já o empresário libanês Mohsen Hojeije, de 63 anos, venceu a disputa em Juquiá (SP), município situado a 132 km da capital paulista, na região do Vale do Ribeira. Ele foi reeleito para governar a cidade de 19,2 mil habitantes por mais quatro anos. “Juquiá é a cidade que me acolheu quando criança e me vi na obrigação de fazer parte da política e ajudar o município onde fui tão bem recebido”, afirma.
Conhecido como Merce, ele é natural do sul do Líbano e chegou ao Brasil em 1956, acompanhado da mãe e de dois irmãos. “Meu pai passou um tempo trabalhando na África. Quando retornou ao Líbano, estava com o desejo de vir para o Brasil. Ele veio primeiro, juntou dinheiro e mandou buscar a gente”, relembra.
Fluente em árabe, o libanês chegou a acompanhar a comitiva do ex-presidente Lula ao Líbano. “Fui como empresário e como político”, explica Merce. O objetivo da visita a Beirute, capital libanesa, era promover um intercâmbio entre empresários brasileiros e árabes.
“A gente não escolhe o lugar que nasce, mas pode escolher o lugar onde quer viver. Eu tenho duas mães [pátrias]. O Brasil é um país que abraça todo mundo e hoje sou feliz por poder ser brasileiro”, relata Merce.
Primeira vez
O japonês Yugi Yamada, de 65 anos, conquistou o comando da Prefeitura de Janaúba – cidade de 66,8 mil habitantes no Norte de Minas Gerais – após sua primeira incursão pela política. Ele mora na cidade há 30 anos. “Foi uma disputa bem apertada, difícil. Eu ganhei com apenas 300 votos de diferença”, conta.
O empresário nasceu em 1947 na província de Hokkaido, no norte do Japão. Quando ele tinha 13 anos, os pais mudaram para o Brasil, trazendo consigo os sete dos dez filhos em busca de melhores condições de vida.
“Logo depois da guerra, o Japão estava em crise. Havia muita pobreza e sofrimento”, relembra Yugi. Foi quando a família conheceu um japonês que havia morado no Brasil. “Ele dizia que aqui era quente o ano todo, que tinha muita terra e que dava fruta o ano todo.”
Em território brasileiro, ele pôde comprovar as promessas de fertilidade do solo. Empresário do ramo do hortifruti, ele tem sob seu comando 2 mil funcionários e dez pontos de venda, espalhados pelo país. “Eu me candidatei com a intenção de utilizar minha experiência administrativa no município. Quero fazer o melhor para Janaúba”, conclui.
Já o húngaro Géza Ferenec Gyorgy Arbocz, de 68 anos, foi eleito vereador em Holambra (SP), município localizado na Região Metropolitana de Campinas. Eleito com 322 votos, ele ocupará uma cadeira na Câmara Municipal da cidade, que tem 11,2 mil habitantes. Aposentado, ele vive no município há dez anos e há seis começou a acompanhar a política local.
A vitória no pleito não causou surpresa em Géza, embora ele tenha disputado uma eleição pela primeira vez. “Eu realmente achava que seria eleito, como conseqüência desses seis anos de trabalho. Além disso, criei um blog que me ajudou muito, usei principalmente a internet para fazer a campanha”, afirma.
Natural da cidade de Szombathely, no oeste da Hungria, a família dele chegou ao Brasil em 1950, fugindo da insegurança do pós-guerra que dominava o continente europeu. “Meu pai era oficial do Exército húngaro e temia o avanço dos comunistas. Ele queria deixar a Europa e o Brasil foi o primeiro país que aceitou a imigração de uma casal húngaro, com cinco filhos”, relembra o vereador eleito.
Na Câmara Municipal, Géza quer atuar na fiscalização do Poder Executivo, pois considera essa a principal tarefa dos legisladores. “Faz seis anos que acompanho a gestão pública e meu lema é: dinheiro público mal gasto é fonte de problemas. Eu me candidatei porque via uma necessidade de estar dentro do sistema para contribuir com esse tipo de controle.”
Partido
O partido que mais elegeu brasileiros naturalizados nestas eleições foi o PMDB. A sigla emplacou 29 estrangeiros, 15,5% do total de candidatos não natos, seguido do PTN (13,4%), PT (10,7%) e PP (8,6%).
Já o estado brasileiro em que mais estrangeiros conseguiram se eleger foi Minas Gerais, com 27 eleitos, seguido de São Paulo (24), Goiás (16) e Ceará (13).
Legislação
Para ocupar um cargo eletivo no Brasil, o estrangeiro precisa da cidadania brasileira. Salvo os casos previstos na Constituição Federal, brasileiros natos e naturalizados possuem os mesmos direitos e deveres.
A exceção é o cargo de presidente da Republica. O cargo é exclusivo para nascidos em território nacional. Também é vedado aos brasileiros não natos ocuparem a vice-presidência e as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados.
Aos cidadãos portugueses não é exigida a cidadania brasileira, apenas residência permanente no país. De acordo com a Constituição, eles possuem os mesmos direitos políticos inerentes aos brasileiros.
Agência Globo