Cuba: Verdades e mitos sobre os mísseis de outubro de 1962
Crise dos mísseis: documentos desclassificados, narrativas verbais e memórias de autoridades ofereceram abundante novo material aos historiadores, assim como lições úteis às novas gerações de políticos
O mundo encontrou-se à beira do colapso nuclear durante 13 dias inteiros de outubro de 1962, quando o então presidente dos EUA, John Kennedy, traçou uma linha imaginária sobre o mapa do Oceano Atlântico, enquanto, simultaneamente, ameaçou a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com “terríveis consequências”, se o então premiê soviético, Nikolai Khruchov, se atrevesse a atravessá-la.
Um avião-espião (U-2) dos EUA, que já realizava vôos sobre a ilha de Cuba, havia conseguido tirar fotos aéreas de baterias de mísseis balísticos soviéticos instaladas no país, capazes de lançar mísseis contra diversos pontos do território norte-americano, sem o menor aviso ao governo de Washington. A eclosão desta crise sinalizava o recrudescimento da Guerra Fria.
Navios cargueiros da União Soviética que transportavam materiais nucleares já navegavam nas proximidades das costas de Cuba, antes de reverter seu curso e pouco antes de cruzarem a linha de bloqueio que havia sido traçada pelo presidente Kennedy. Na véspera do 50º aniversário da crise, os historiadores e outros curiosos sustentaram que “as consultas de bastidores, e não as ameaças dos EUA, foram aquelas que solucionaram a crise”.
Documentos desclassificados, narrativas verbais e memórias de autoridades ofereceram abundante novo material aos historiadores, assim como lições úteis às novas gerações de políticos. Seguem algumas largamente divulgadas percepções sobre a crise dos mísseis e a realidade por trás destas:
Mito: A crise constituiu o triunfo da coragem e da audácia dos EUA.
Realidade: os historiadores apostam que a solução da crise constitui triunfo da diplomacia secreta. Kennedy resistiu com coragem contra as propostas dos conselheiros da Casa Branca para que assumisse posição “dura” contra o governo de Moscou e até desferir o primeiro golpe. Ao contrário, optou pela intensa diplomacia secreta com a União Soviética e outros países, assim como por consultas com Meha Thray U Thant, então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mito: O presidente Kennedy recuou, ordenando a retirada dos mísseis norte-americanos Júpiter instalados na Turquia, após acordo secreto com o governo de Moscou, conhecido por apenas alguns, poucos, conselheiros presidenciais.
Realidade: tanto os EUA quanto a União Soviética saíram vencedores. Os mísseis Júpiter já encontravam-se instalados na Turquia e assestados para atingirem alvos dentro do território da União Soviética. Sua retirada, assim como o compromisso de Kennedy de que não invadiria Cuba, permitiram que Khruchov aceitasse a “troca”, aparentemente recuando para que, um dia após, anunciasse a retirada de toda e qualquer instalação de baterias de mísseis de Cuba.
Mito: Alguns dias mais tarde. Washington e Moscou foram interligadas com a famosa “linha vermelha” de telefone, enquanto, os dois países iniciaram conversações que resultaram na formalização do Acordo de Proibição de Testes Nucleares. Tudo isso representou um grande sucesso de coleção de informações pela Agência Central de Inteligência (CIA).
Realidade: além do atraso de 24 horas para informar a mudança de rota dos navios cargueiros soviéticos que aproximavam-se de Cuba, carregados com materiais nucleares, a CIA cometeu vários outros erros, dificultando o gerenciamento da crise pela Casa Branca. Ainda, a CIA foi informada com atraso sobre a existência de baterias de mísseis instaladas em Cuba, quando estas baterias já haviam sido assestadas e no momento em que o presidente Kennedy foi informado pela primeira vez sobre sua existência na ilha de Cuba.
A CIA ignorava, também, que a União Soviética havia instalado e assestado, também, outros mísseis nucleares destinados a eventual campo de batalha em Cuba, capazes de repelir qualquer provável tentativa de invasão norte-americana.
Os arquivos oficiais do governo da República de Cuba dispõem de mais informações e referências sobre “Os Mísseis de Outubro”, assim como sobre as diversas tentativas da CIA de invadir o país e de assassinar o comandante Fidel Castro.
Vermelho