Serra terá de digerir agora a sua maior derrota política e tende a se isolar no PSDB. Em 2014, tudo indica que o partido não dará a ele uma terceira chance na disputa pela Presidência
Após 12 anos e duas derrotas seguidas, o PT voltou a vencer uma eleição na maior cidade do País. Neste domingo 28 o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, de 49 anos, foi eleito prefeito de São Paulo. Com 94,23% das urnas apuradas, ele soma 55,91% dos votos válidos contra 44,09% do tucano José Serra. O ex-governador, ex-prefeito e ex-presidenciável protagoniza assim uma das mais duras derrotas do PSDB em seu principal reduto eleitoral.
Haddad, ungido candidato pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o terceiro petista a vencer uma eleição na metrópole. Repete os feitos de Luiza Erundina, em 1988, e Marta Suplicy, em 2000. Nos três casos o partido triunfou nas urnas após o eleitor demonstrar cansaço com a força política até então vigente.
Erundina foi eleita depois de quatro anos de governo insosso de Jânio Quadros e Marta, após a dobradinha Maluf-Pita. Haddad é num momento de má avaliação do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), pupilo e sucessor de José Serra. Um dos principais nomes do PSDB, Serra chegou à segunda derrota em dois anos ( em 2010, perdeu a disputa pela Presidência para Dilma Rousseff) e atingiu em 2012 um índice de rejeição superior a 50% dos eleitores, o que indica o esgotamento de sua força política em sua base.
Haddad liderou as pesquisas de intenção de voto durante todo o segundo turno. Na véspera da eleição, ele aparecia com 18 pontos de vantagem sobre Serra no Ibope (59% a 41%) e 16 no Datafolha (58% a 42%).
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Haddad começou a campanha com 3% das preferências e desbancou na reta final da primeira fase o então líder Celso Russomanno (PRB). Serra encerrou o primeiro turno à frente. Contra ele pesou o alto índice de rejeição, quase sempre superior a 50%. O tucano, derrotado na corrida à Presidência há dois anos, teve dificuldade em convencer o eleitor de que, desta vez, cumpriria o mandato até o fim – em 2006, ele deixou o posto para se candidatar para o governo do estado. Outra dificuldade foi se livrar dos lastros de Gilberto Kassab (PSD), seu sucessor e afilhado político que deixa a prefeitura com alto índice de reprovação.
Na reta final, em desvantagem nas pesquisas, Serra, que lançou seu programa de governo a poucos dias da votação, elevou o tom contra o adversário petista ao tentar associá-lo com o escândalo do “mensalão”, julgado hoje pelo Supremo Tribunal Federal e que funcionou em meados de 2003, quando Haddad era professor de Teoria Política da Universidade de São Paulo. A estratégia tucana soou “falsa e oportunista”, nas palavras até mesmo de Roberto Jefferson, o delator do “mensalão”.
Serra se desgastou ainda ao se aliar ao pastor Silas Malafaia, líder religioso que ganhou notoriedade por incitar a violência contra gays. Ele levou ao centro do debate a mal sucedida tentativa do Ministério da Educação de distribuir uma cartilha anti-homofobia nas escolas, chamada preconceituosamente como “kit gay”. Para Serra, o material – defendido por sérias lideranças da comunidade gay pelo País – incentivava a prática do “bissexualismo” entre os alunos. A ideia era espalhar a ideia de que, caso eleito, o “kit” seria ressuscitado em São Paulo. A tentativa, mostraram as urnas, também não funcionou.
Haddad foi escolhido candidato pelo ex-presidente Lula após sua passagem pelo Ministério da Educação, quando ampliou o Enem, consolidou o Prouni e bancou o Plano Nacional da Educação, antiga demanda da sociedade civil que, entre outros pontos, prevê metas específicas de investimentos no setor. A exemplo do que havia feito com a ex-ministra Dilma Rousseff dois anos atrás, Lula projetou em Haddad a “novidade” para rejuvenescer o quadro petista na maior cidade do País. Para isso, barrou os planos de voltar à prefeitura da então senadora Marta Suplicy, favorita durante a pré-campanha nas pesquisas eleitorais. Contrariada, a ex-prefeita, bem avaliada sobretudo na periferia paulistana, só se engajou na campanha de Haddad após ser nomeada ministra da Cultura.
Idealizador do projeto Haddad, Lula também costurou o acordo com o Partido Progressista de Paulo Maluf, que garantiu mais tempo de tevê ao seu candidato mas criou uma saia-justa que acompanharia Haddad até o fim da campanha. A imagem do abraço na casa do ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, preso e investigado por evasão de divisas e símbolo de tudo o que o PT combateu em seus primórdios, até hoje não foi bem digerida por parte da militância histórica.
Azarão durante boa parte da disputa, Haddad só se tornou favorito na virada do segundo turno. Ele contou com o apoio de Gabriel Chalita (PMDB), quarto colocado na disputa, e foi favorecido pela neutralidade anunciada por Russomanno. Herdou naturalmente os votos dos ex-rivais sem precisar posar em fotos ao lado do ex-candidato do PRB, a quem combateu durante.
Serra terá de digerir agora a sua maior derrota política e tende a se isolar no PSDB. Em 2014, tudo indica que o partido não dará a ele uma terceira chance na disputa pela Presidência. Como o governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o candidato natural para a reeleição, Serra só teria chance de disputar um cargo majoritário em 2016, quando terá 74 anos.
O clamor por renovação das lideranças tucanas foi ensaiado antes mesmo da abertura das urnas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os rivais também não o perdoaram. Ao votar neste domingo 28, Marta Suplicy, derrotada por Serra em 2004. “Desta vez se enforcou com a própria corda. Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é. Foi bom ver que os paulistanos perceberam e deram o troco”.
Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, batido em 2006 para Serra na disputa pelo governo paulista, esta é a maior derrota da história do PSDB em eleições municipais.
Agências
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