Como Michaela, milhões de jovens e talentosas artistas estão por aí, sem chance de serem descobertas, escravizadas por um sistema injusto de distribuição das riquezas, onde os poucos que têm mais, estão pouco ligando para os muitos que não têm nada
Leila Cordeiro, Direto da Redação
Infelizmente o sucesso não acontece para todos nessa vida. Tem muito mais gente com talento desperdiçado do que aqueles que conseguem um lugar ao sol. Explicar o fenômeno é difícil. Alguns falam em sorte, outros em oportunidade e há quem acredite em predestinação. Mas, justificativas à parte, o fato é que existem aqueles que se sobressaem e conseguem realizar seus sonhos mesmo que tenham vindo ao mundo sem privilégios.
Este é o caso de Michaela DePrince, que tinha tudo para ser apenas um número a mais na estatística de um pobre e distante orfanato da longínqua África e acabou se tornando uma excepcional bailarina profissional.
Michaela nasceu em Serra Leoa, perdeu os pais na guerra da região e foi mandada para um orfanato. A jovem conta que, na época, tinha apenas três anos de idade, mas o suficiente para não esquecer o quanto fora hostilizada principalmente por que sofria de vitiligo, doença que faz com que partes da pele do corpo percam a pigmentação. Por isso, as responsáveis pelo orfanato a discriminavam e cruelmente, diziam que ela jamais seria adotada pois ninguém iria querer uma “criança demônio”.
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Entretanto, uma professora que ajudava na educação das crianças no local sentiu pena de Michaela e passou a dar a ela mais atenção, ajudando-a a ler e escrever.
Mas a alegria da pequena órfã durou pouco. Um dia, ela e a professora, que estava grávida, vinham juntas da escola quando foram surpreendidas por soldados rebeldes que mataram covardemente a professora.
Com a morte dela, Michaela ficou novamente só, mas como já havia aprendido a ler, catava revistas no lixo do orfanato e lia às escondidas no quarto, até que um dia viu algo que a interessou muito: a foto de uma bailarina durante um espetáculo de dança.
– É isso que eu quero ser um dia, pensou Michaela.
Pouco depois, a região onde ficava o orfanato foi bombardeada e ela foi parar num campo de concentração. Lá, depois de passar por maus tratos e privações, acabou chamando a atenção de um casal americano que, penalizado com seu estado de inanição, adotou-a levando-a para viver com eles em Nova Jersey (EUA).
A partir daí, o sonho de Michaela começou a se realizar. Aos cinco anos de idade ela pediu a mãe adotiva para levá-la a uma apresentação de balé, conseguindo depois reproduzir muitos passos que assistiu sem nunca ter aprendido.
Impressionada, a mãe matriculou-a numa escola de dança na Filadélfia, o que a obrigava a viajar diariamente 45 minutos para levar a filha à escola. Os complexos causados pelo vitiligo foram superados pelo apoio recebido de colegas e professores que passaram a admirá-la pelo seu talento e dedicação à dança.
Agora aos 17 anos, Michaela participou de uma turnê com a companhia Dance Theatre do Harlem, onde é uma das primeiras bailarinas ao lado de outros afro-americanos ou mestiços.
Michaela correu atrás de um sonho e conseguiu realizá-lo, depois de passar pelos piores sofrimentos que um jovem ser humano pode enfrentar. Teve a sorte de encontrar o amor e o apoio de uma família que acreditou no talento dela.
Como Michaela, milhares, talvez milhões, de jovens e talentosas artistas estão por aí, sem chance de serem descobertas, escravizadas por um sistema injusto de distribuição das riquezas, onde os poucos que têm mais, estão pouco ligando para os muitos que não têm nada.
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