De acordo com o cientista, 90% dos participantes do estudo, incluindo os profissionais da saúde, creem que a genética aumenta “fortemente” o risco de câncer
Um dos maiores desafios na luta contra o câncer é esclarecer os mitos que cercam a doença, dizem os especialistas.
Por exemplo, muitos pensam que a genética tem um papel muito maior na incidência do problema do que realmente tem, e que o estresse e pancadas no corpo são fatores de risco importantes.
Mas o principal mal-entendido, como mostra um estudo apresentado durante o congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (Esmo, na sigla em inglês), em Viena, na Áustria, é que as pessoas ainda não têm clareza o suficiente sobre a importância do estilo de vida para a prevenção da doença.
Para o professor Hans-Jörg Senn, presidente da Faculdade de Prevenção do Câncer da Esmo, “o estudo revela que há uma grande confusão sobre os fatores de risco do câncer: usar roupa apertada não aumenta o risco da doença, mas a obesidade, sim”.
Mitos
No estudo, dirigido pelo médico Derek Power, oncologista clínico dos hospitais universitários de Mercy e Cork, na Irlanda, participaram 748 pessoas da população geral, incluindo 126 profissionais da área da saúde.
Os participantes da pesquisa responderam a um questionário para analisar seu conhecimento sobre os riscos do câncer.
“Há muitos mitos sobre os riscos do câncer que seguem sendo muito populares. Por exemplo, muitas pessoas pensam, erroneamente, que uma pancada contra os seios, o stress, usar roupa apertada, telefones celulares, alimentos geneticamente modificados e aerossóis, são fatores de risco de câncer importantes”, diz o chefe da pesquisa.
De acordo com o cientista, 90% dos participantes do estudo, incluindo os profissionais da saúde, creem que a genética aumenta “fortemente” o risco de câncer.
“Mais de um em cada quatro participantes pensava que mais de 50% dos tipos de câncer são genéticos”, acrescenta.
A cifra, diz o pesquisador, contrasta com o dado de que apenas entre 5% e 8% dos tipos de câncer são, dependendo de sua localização, de fato causados por um gene herdado.
“Mas o mais inacreditável é que as pessoas acreditavam que não se pode modificar o risco de câncer ao longo da vida”, diz Power.
Dietas de desintoxicação
Quando questionados sobre como reduziriam seu risco de câncer, 27% dos entrevistados assinalaram como sua opção colocar em prática uma dieta de desintoxicação, enquanto 64% achavam que a comida orgânica protege contra o câncer.
Até o momento, no entanto, não há estudos que demonstrem evidências de que esses métodos sejam efetivos. A pesquisa também mostrou que 28% dos indivíduos não sabiam que as verduras e frutas congeladas possuem os mesmos benefícios do que as frescas.
Outro dado importante é que 41% dos entrevistados não conhecia o vínculo –demonstrado em vários estudos- entre o consumo da carne vermelha e o aumento do risco de câncer.
Mas 85% sabiam do risco de ingerir carne processada e 46% conheciam os riscos de comer sal em excesso.
Hábitos
O professor Hans-Jörg Senn chamou atenção para a necessidade de mudar hábitos.
“Este estudo chama a atenção para o fato de que uma grande parte da população europeia não gosta da ideia de ‘autorresponsabilidade’ para a prevenção pessoal de câncer. Isto é, mudar seus hábitos e estilo de vida para esse fim”, disse.
“No lugar disso, responsabilizam a genética e a sociedade pelo desenvolvimento da doença”, diz. Já o médico Derek Power diz que a única forma de reduzir a incidência de câncer é esclarecer os mitos em torno do problema.
“Precisamos combater esta informação equivocada com campanhas de promoção à saúde, colocando ênfase na dieta e estilo de vida, que inclui o tabagismo, que é responsável por 90% a 95% dos casos de câncer”, diz o cientista.
Ele alerta que é necessário fazer bem mais esforços para que a população tome consciência sobre a importância de manter um peso sadio e os perigos do álcool.
BBC Brasil