O jovem israelense foi para a prisão. Em solidariedade a Gaza. Natan Blanc, 19, se apresentou no dia 19 ao escritório de recrutamento do exército israelense para informar que se recusava a prestar o serviço militar
Natan Blanc, 19 anos de idade, nasceu em Haifa, cidade palestina tomada com violência por Israel em 1948. No dia 19 de novembro, ele se apresentou ao escritório de recrutamento do exército israelense, informou aos oficiais que se recusava a prestar serviço militar e foi preso. Essa atitude, de objeção de consciência, é em parte consequência da atual ofensiva sionista contra Gaza.
A decisão já tinha sido tomada muito antes de Natan ter conhecimento, no domingo, dia 18, do terrível assassinato de cinco mulheres e quatro crianças, resultado de mais um bombardeio israelense em Gaza.
Leia o depoimento de Natan:
“Comecei a pensar em não me alistar no exército durante a Operação Cast Lead [ofensiva militar de Israel a Gaza que matou quase 1,5 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, e deixou centenas de milhares de feridos, além de mais de 50 prédios destruídos, entre 2008-2009], em 2008. A onda de militarismo agressivo que tomou conta do país na época, as expressões de ódio mútuo e a conversa vazia sobre esmagar o terror* e criar um efeito de dissuasão foram os motivos principais da minha decisão.
Hoje, depois de quatro anos cheios de terror*, sem um processo político [em relação a negociações de paz] e sem calma em Gaza e Sderot [cidade no sul de Israel onde as brigadas de Gaza atiram os foguetes Qassan de fabricação caseira], está claro que o governo de [Benjamin] Netanyhau, como o de seu antecessor [Ehud] Olmert, não está interessado em encontrar uma solução para a situação, mas sim em preservá-la. Do ponto de vista deles, não há nada errado em iniciar uma “Cast Lead 2” a cada três ou quatro anos (e depois a cada 3, 4, 5 e 6 anos): vamos falar em dissuasão, vamos matar alguns terroristas*, civis dos dois lados serão mortos e prepararemos terreno para uma nova geração cheia de ódio, de ambos os lados.
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Como representantes do povo, os membros do gabinete [do governo] não têm o dever de apresentar sua visão para o futuro do país e podem continuar com esse ciclo sangrento, sem término à vista. Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos o dever moral de recusar participação nesse jogo cínico. Por isso decidi me recusar a entrar para o Exército de Israel no dia de minha convocação, 19 de novembro de 2012″.
Natan não é o único a recusar-se ao alistamento no exército israelense, ou a sair dele por rejeição aos crimes praticados contra os palestinos. A organização Breaking the Silence reúne pessoas que, por objeção de consciência, abandonaram as forças armadas sionistas.
No portal da entidade (http://www.breakingthesilence.org.il/) podem-se assistir a vídeos e ler documentos em que ex-soldados e ex-oficiais contam os horrores praticados pelo exército de Israel contra a população desarmada da Palestina.
* Natan, assim como toda a população israelense, fala em “terror” e em “terroristas” em função da propaganda dos sucessivos governos israelenses, que usam esses termos para se referir às brigadas de Gaza. Trata-se de mais uma mentira dos sionistas que governam Israel, massivamente divulgada entre os israelenses. A legislação internacional e resoluções da ONU são muito claras em garantir a povos sob ocupação, como os palestinos, o direito à luta armada como defesa de ataques e opressão exercidos pela potência ocupante (no caso, Israel). Portanto, as brigadas de Gaza não são terroristas. Fazem, isso sim, resistência armada, e evitam alvos civis (os foguetes Qassan são atirados, em geral, em locais inabitados). Isso não é terrorismo. Trata-se de autodefesa, ação legal e legítima, assegurada pelo direito internacional.
Baby Siqueira Abrão, Brasil de Fato. Com informações de Adam Keller, da organização pacifista israelense Gush Shalom