Gays, negros, latinos e mulheres determinaram eleição de Obama
A vitória de Obama entre negros, latinos, mulheres e joevns foi gigantesca. Se só brancos machos adultos votassem, Romney teria levado de goleada
Romney venceu entre os homens por 52 a 48. As mulheres, mais uma vez, nos salvaram, dando vitória a Obama por 55 a 45. Obama teve 93% do voto afro-americano, o que já era esperado – menos esperado foi o comparecimento altíssimo desse eleitorado, que em alguns lugares (como a Pensilvânia) excedeu o entusiasmo de 2008.
Quatro de cada cinco LGBTs (!!) e 69% dos latinos votaram em Obama, apesar da política migratória dos últimos quatro anos, muito longe da ideal. Obama selou a vitória com o cinturão industrial em volta dos Grandes Lagos (Michigan, Wisconsin, Ohio) e ali – quem conhece a demografia dos EUA sabe disso –, decisivo foi o voto da classe trabalhadora, que viu que com Romney o pesadelo seria ainda pior. A vitória de Obama entre a juventude foi gigantesca.
Se só brancos machos adultos votassem, Romney teria levado de goleada
Em outras palavras, Romney não perdeu porque foi centrista demais, como estão dizendo os malucos do Tea Party. Perdeu porque teve que ser tão direitista durante as primárias republicanas – para agradar a esses mesmos malucos – que quando tentou voltar para o centro, na eleição geral, já era tarde demais. Obama não venceu porque foi para o centro, abandonando sua base de esquerda. Ele venceu APESAR de ter várias vezes traído sua base de esquerda, pois esta percebeu o perigo de ter um lunático misógino na Casa Branca e compareceu em números recorde.
Pense, por exemplo, no efeito devastador das declarações dos correligionários de Romney sobre estupro ser “vontade de Deus”, o que decretou derrota republicana na corrida para o Senado até mesmo no ultraconservador estado de Indiana. A demografia está aí para ser lida. Esta eleição não foi ganha no centro. Foi ganha na esquerda, apesar de Obama ter feito um governo de centro-direita.
Resumo da ópera: operários, mulheres, negros, latinos e LGBTs, esta vitória é sua, e é hora de ir pra cima e lembrar o Presidente disso. Cobrar o fim da vergonha de Guantánamo, o fim das leis de exceção e invasão de privacidade, o fim dos “drones” nas cabeças dos paquistaneses, o fim dos assassinatos extrajudiciais, o fim da perseguição ao Wikileaks, compromissos de verdade com o casamento igualitário, política migratória realista e humana, medidas de defesa dos direitos reprodutivos das mulheres e passos reais para a correção dessa vergonhosa condição dos EUA, a de nação mais desigual do chamado primeiro mundo.
Para os governistas brasileiros, fica a lição: foi justamente quem mais criticou Obama pela esquerda quem garantiu sua vitória. Ajudar a eleger um(a) Presidente significa forçá-LO (a ELE ou a ELA) a comprometer-se com um programa, não você, cidadão, comprometer-se a apoiá-lo(a) não importa o que ele(a) faça, só porque você ajudou a elegê-lo(a).
É só olhar a demografia com cuidado para saber que foram as forças à esquerda do centro que garantiram essa parada e evitaram a catástrofe. É hora de ir pra cima e cobrar.
Idelber Avelar, Facebook