Colunista diz que comparação usada na semana passada para expressar o desejo de ser única e especial foi inadequado; ela havia afirmado que ir a Paris a Nova York perdeu a graça diante do perigo de dar de cara com o porteiro do próprio prédio; “lamento, foi um exemplo infeliz”, desculpa-se
Na última semana, a colunista da Folha Danuza dizia que ir a Paris ou Nova York havia perdido a graça porque já não era algo exclusivo – uma vez que até o porteiro do prédio pode realizar esses desejos. “Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?” (leia aqui).
Alguns leitores apontaram que Danuza estava sendo irônica em seu texto diante dos novos ricos que que buscam sempre algo que os outros não possam possuir. O texto, no entanto, era um retrato da elite brasileira, que busca o prazer aristocrático e não se conforma com a ascensão social do resto. O conteúdo refletia a visão de mundo da própria Danuza, que, em determinado momento de sua existência, conseguiu se descolar do restante da sociedade.
Neste domingo, ela voltou ao tema. Pediu desculpas (sinceras, ou não) aos porteiros e aos leitores. E reforçou sua necessidade de se sentir única e especial. Leia abaixo:
Por Danuza Leão
Folha de S.Paulo
Escrevo na Folha há dez anos; são mais de 500 colunas, e acho que nesse longo tempo já deu -ou deveria ter dado- para saber quem eu sou. Reli o que escrevi na minha última crônica, refleti sobre o que queria verdadeiramente dizer e cheguei ao seguinte: nós, seres humanos, somos únicos, ricos ou pobres, gênios ou pessoas comuns, e essa é a grande riqueza da vida: não existem duas pessoas iguais, e ninguém quer ser igual ao outro. Se eu comprasse o mais lindo vestido para uma festa e lá encontrasse Madonna com um igual, talvez voltasse em casa para trocar o meu. Se comprasse um iate com 38 cabines, com uma tripulação vestida por Jean Paul Gaulthier, e cruzasse com outro igual, pertencente a Donald Trump, meu brinquedinho perderia a graça. Porque faz parte querer ser original e único, por isso os artistas, os costureiros, os arquitetos, os decoradores, os escritores, os médicos, os cientistas, todos trabalham para conseguir que suas obras sejam as melhores e, consequentemente, únicas. Existem dois tipos de pessoa: os que vivem para seguir o que está na moda em matéria de viagens, estilo, restaurantes, hotéis, etc., enquanto outros preferem viver na contramão. Eu pertenço ao segundo grupo: não gosto de multidões, não vou a shows, não vou a festas, não vou a restaurantes da moda e não viajo na alta estação, prefiro ficar em casa lendo um livro; falei sobre o porteiro como poderia ter falado sobre qualquer pessoa que faz parte dessa multidão que passa a vida indo atrás do que ouviu dizer que está “in”, o que para mim é apenas impossível. Lamento, foi um exemplo infeliz.
Brasil 247