Ex-sindicalista, Maduro é homem de confiança de Chávez. Visto como “conciliador” pela oposição, vice-presidente chefia o Ministério das Relações Exteriores do país desde 2006
A especulação terminou. O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, é o escolhido para suceder Hugo Chávez caso o presidente não possa cumprir suas funções. O anúncio foi feito após o líder da república bolivariana comunicar que o câncer, do qual havia se curado este ano, retornou.
Dentre todas as opções de sucessão levantadas ao longo do período de tratamento de Chávez, Maduro era uma das mais populares. Além de ter um histórico de militância de esquerda consolidado e ser uma das figuras mais próximas ao presidente, ele é o político venezuelano mais conhecido fora do país.
Nascido em 23 de novembro de 1962 em Caracas, Maduro é ex-militante da Liga Socialista e trabalhou desde jovem como condutor de trens no Metrô de Caracas, onde chegou a dirigir o sindicato. Aos 50 anos, Maduro representa um sonho socialista de que um trabalhador chegue ao poder. “Olhem até onde chegou Nicolás: de metroviário a vice-presidente. Nicolás trabalhava no metrô e como a burguesia ri disso”, afirmou Chávez na nomeação de Maduro, em outubro.
O contato com Chávez aconteceu em 1992, quando o então tenente-coronel dos paraquedistas, que liderou um fracassado golpe de estado contra o governo de Carlos Andres Pérez (1974 a 1979-1989 a 1993), estava preso. Maduro acompanhou a esposa, Cilia Flores, uma das líderes da campanha pela libertação de Chávez. Naquele momento, o nome do futuro presidente já tinha eco nacional.
Após participar da campanha que levou à eleição do presidente em 1998, Maduro foi eleito deputado pela Assembleia Nacional em 2000, onde ajudou a escrever a nova Constituição venezuelana, sendo reeleito em 2005, quando se tornou presidente da casa. No ano seguinte, se tornou chanceler.
Política externa
Maduro chefia a pasta do Ministério das Relações Exteriores desde agosto de 2006 e é o ministro que está há mais tempo no mesmo cargo. Durante esses seis anos, o chanceler revolucionou a política externa venezuelana, transformando a integração regional no novo eixo. A mudança foi coroada com o ingresso da Venezuela no Mercosul, facilitada após a derrubada do presidente paraguaio Fernando Lugo, em junho passado. O Congresso paraguaio, que depois arquitetou o golpe contra Lugo, barrava a entrada do país no bloco.
Com Maduro, o foco nas alianças regionais se intensificou. A aposta no desenvolvimento da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e, recentemente, do bloco sul-americano, é uma das marcas de sua gestão. O estreitamento das relações com países não alinhados com os Estados Unidos, como Irã, Bielorrússia, e com superpotências, como Rússia e China, também. Tanto que documento divulgado pela Wikileaks assegura que Maduro é mesmo o preferido desses dois países em uma possível sucessão.
Quem o conhece garante que Maduro é socialista “desde sempre”, enquanto que nos círculos diplomáticos lhe atribuem os louros por “uma nova forma de fazer diplomacia” na Venezuela. “Sua capacidade para costurar consensos e vencer divisões foi vital nos processo de integração da América Latina”, afirmou à agência Reuters o embaixador equatoriano em Caracas, Ramón Torres Galarza.
Oposição
No círculo oposicionista, Maduro é visto como uma figura “conciliadora”. Ele é a principal ponte entre o governo e os partidos da oposição, o que pode lhe render alguma vantagem caso precise tomar as rédeas do país.
O nome do chanceler é bem visto até pelos mercados financeiros. Após o anúncio de Chávez, bancos de investimento e analistas financeiros disseram ter visto a indicação de Maduro “com bons olhos”. “Caso lidere um governo, poderemos esperar um enfoque mais moderado que o de Chávez”, afirmou o Barclays Capital. O grupo Nomura indica em informe que Maduro é uma figura menos polarizadora dentro do chavismo ecapaz de unir mais rapidamente as diferentes tribos que existem em seu interior.”
Laço com Chávez
Além da biografia contando a seu favor, Maduro também é uma das pessoas mais próximas a Chávez. Durante aparições públicas e entrevistas coletivas é evidente a boa sintonia entre o presidente e seu vice. “Não recomendo a ninguém que seja vice-presidente. Por isso, quero aplausos de apoio e estímulo ao novo vice-presidente Nicolás Maduro (…) Vamos lhe desejar muito êxito (…) ele tem sido também um grande servidor público em todos esses anos”, elogiou Chávez.
A proximidade também foi verificada durante as seguidas viagens do presidente a Havana para o tratamento contra o câncer. Maduro era sempre um dos únicos políticos que o acompanhava até a ilha caribenha e esteve ao seu lado nas três vezes em que foi operado. Dessa vez, ficará em Caracas com a função de presidir o país. “Minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável absoluta, total, é que nesse cenário que obrigaria a convocar eleições presidenciais, vocês elejam Nicolás Maduro como presidente”, afirmou neste domingo o presidente.
Marina Terra, Opera Mundi