A ficha falsa de Dilma e a foto falsa de Lula
A ficha falsa de Dilma divulgada pela Folha e a foto falsa de Lula divulgada pela revista Veja revelam a podridão da velha mídia de sempre. Por outro lado, a história recente tem provado que nada disso serve para ganhar eleição
Rodrigo Vianna, Escrevinhador
A campanha de 2014 começou. Dois anos antes. E a prova disso não é o lançamento prematuro de Aécio Neves à Presidência pelo PSDB.
Toda uma rede de militantes – apócrifos, em geral – ocupou a internet nos últimos dias, para uma campanha de ataques múltiplos contra a honra de Lula. A campanha é parecida com aquela feita contra Dilma em 2009 e 2010 – apontando a então ministra como “terrorista” perigosa. Fotos, montagens, “denúncias” falsas alimentaram as redes sociais. Em 2009, Dilma chegou a aparecer ao lado de um fuzil. A “ficha” (falsa) da ministra no Dops (“capturada”) circulou em blogs de extrema-direita.
Jornalistas mais afoitos embarcam em ondas desse tipo. Foi o que fez a Folha em 2009. Estampou a ficha de Dilma em primeira página. Quando a patranha ficou demonstrada, o jornal deu uma explicação inesquecível: publicara a ficha porque sua autenticidade “não podia ser confirmada, mas tampouco podia ser descartada”.
Agora, em 2012, Ricardo Setti da Veja pelo menos pediu desculpas. O jornalista (!) publicou fotomontagem grosseira em que Lula aparece abraçado a Marisa Letícia e Rose (veja aqui). A foto circulava pelas redes sociais. Setti achou genial ilustrar um post usando a foto – que imaginava ser verdadeira.
A Veja é capaz de qualquer coisa. Já caiu em conto de 1º de abril. O glorioso “boimate” (piada de uma revista estrangeira, escrita sob encomenda para o primeiro de abril) foi levado a sério na publicação da família Civita. Os editores acreditaram na mistura genética de boi e tomate. Agora, a Veja de Ricardo Setti acreditou na montagem para agredir Lula, assim como a Folha acreditara na ficha falsa de Dilma.
Tudo isso mostra a podridão da velha mídia de sempre. Mas nada disso – diga-se – serve para ganhar eleição.
Aliás, imaginava eu que os tucanos seriam mais cuidadosos com a estratégia para 2014. O PSDB tem alguma chance de ganhar se caminhar para o centro com Aécio. O figurino pitbull – adotado por Serra, sob inspiração de blogueiros e pastores com estranhas obsessões sexuais – não deu certo! O figurino pitbull serve só para tornar os antipetistas mais raivosos, da mesma forma que unifica os lulistas para o combate contra os tucanos e a velha mídia.
Acontece que – no meio do caminho – há um eleitorado mais centrista que, nas eleições desde 2002, o PT conseguiu atrair. Gente que não detesta o PT, mas também não ama o Lula. Não é com montagens grosseiras que o PSDB vai conquistar essa gente.
Mas a publicação que ganhou destaque no site da Veja é só a ponta do iceberg – se me perdoam o lugar-comum. Na rede, no submundo da política e da velha mídia, o vale-tudo corre solto.
Um amigo jornalista procurou-me ontem [5/12] para contar que passou a receber e-mails falsos nos últimos dias – com as denúncias mais absurdas contra Lula. Outros colegas na redação confirmam: há em curso a tentativa de criar – nas redes sociais – uma “onda” incontrolável para colar em Lula a imagem de bandido/cafajeste. O “mensalão” não colou, a ideia de chamá-lo de “apedeuta” não havia colado, o terrorismo religioso também não. Sobraram ataques pessoais. Foi o que Collor fez em 1989.
Mas, podem perguntar alguns, por que atacar Lula se o adversário de 2014 deve ser Dilma? Escrevi sobre isso no blog: “Lula, Dilma e o PT: fatiados”. Enfraquecer a imagem de Lula é passo fundamental para a oposição. Dilma forte, tendo apoio de um ex-presidente tão forte como Lula, tornaria a batalha perdida antes de começar. Por isso, os ataques são “fatiados”. É preciso minar Lula, o PT e – num segundo momento – Dilma.
Suponho que a “onda” na internet não garanta coisa nenhuma aos tucanos. Imagino até que os mais refinados entre eles sequer concordem com essa “onda” moralista rastaquera. É só mais um passo rumo ao pântano, onde a oposição sem programa se deixa dominar por blogueiros enfurecidos, pastores dementes e gente do submundo da política.
Ataques exagerados contra Lula e atos como a recusa em colaborar pra redução das contas de luz (esse sim adotado sob a égide da liderança mais “orgânica” do tucanato) só ajudam a reforçar a imagem de que a oposição joga contra o Brasil – numa tentativa desesperada de voltar ao poder.
Tenho a impressão que Aécio, se assumir de fato o comando do PSDB, vai mudar essa linha de ação. Até porque uma campanha em que se exponha a vida pessoal de políticos e candidatos não é algo que possa interessar ao senador mineiro – fustigado, dentro do próprio partido, por dossiês e histórias sobre seus hábitos pessoais.