Alckmin e o assassinato de Dj Lah: quem reagiu está morto
DJ Lah foi assassinado em um bar na rua Reverando Peixoto da Silva, número 75. Absolutamente de frente para o bar, na mesma rua, mas no número 92, fica a casa onde o servente de pedreiro Paulo Batista do Nascimento foi executado por cinco policiais militares
Por Renato Rovai, em seu sítio
Segue um relato-reportagem, a meu pedido, feito pelo repórter Igor Carvalho sobre o caso do massacre de Campo Limpo e seu contexto. Igor esteve ontem no local da chacina e conversou com uma série de pessoas que pediram anonimato. O clima em Campo Limpo e em outros bairros da periferia é terrível. Misto de revolta e medo. Perfeito para produzir reações extremadas.
Quem acha que a situação atual é ruim, vai ter saudades do hoje. São Paulo pode virar um inferno. Eu, acima assinante, responsabilizo Alckmin por isso. Foi ele quem disse que quem não reagiu está vivo. E que de certa forma autorizou a bárbarie.
DJ Lah, Alckmin e quem reagiu está morto
“De uniforme cinza assassinos são os homens
Pilantras como eles por aqui existem um monte
…Ratos e mais ratos circulando as favelas
Muito bem, saiam da mira dos tiras
São eles é quem forçam,
são eles quem atiram
Reze pra sobreviver”
A letra é da música “Click Clack Bang”, do grupo Conexão do Morro, que tinha como integrante o DJ Lah, assassinado na recente chacinha, no Campo Limpo, zona Sul de São Paulo, que vitimou sete jovens.
Na música do Conexão do Morro, é narrada a atuação da Polícia Militar nas favelas, segundo a visão dos que vivem lá. Essa PM, questionada na canção, foi responsável por 15,2% dos assassinatos cometidos na capital paulista no ano de 2010. Em 2011, por 14,7%. Em 2012, no terceiro trimestre foram 389 assassinatos, 95 deles cometidos por PMs, alcançando a incrível marca de 19,6%.
A Anistia Internacional considera “admissível” 3%. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, compilados pelo Instituto Sou da Paz.
Na última sexta-feira (04), DJ Lah foi assassinado em um bar na rua Reverando Peixoto da Silva, número 75. Absolutamente de frente para o bar, na mesma rua, mas no número 92, fica a casa onde o servente de pedreiro Paulo Batista do Nascimento foi executado por cinco policiais militares. A cidade de São Paulo possui mais de 65 mil logradouros, segundo o Arquivo Histórico, da Secretaria de Cultura da Prefeitura, mas, “quis o destino” que justamente na mesma rua e no bar de frente para a casa onde morreu o servente Nascimento, ocorresse a primeira chacina do ano de 2013. Coincidência? Destino..
É possível, indo até a rua, vislumbrar de onde foi feita a gravação que assombrou o país, e que foi divulgada no dia 12 de novembro pela TV Globo, no Fantástico. No vídeo amador, de pouco mais de quatro minutos, cinco policiais aparecem conduzindo Nascimento para fora de casa, o servente resiste, mas é executado em frente à sua residência.
Com medo, pouco falam. Os que resolvem se manifestar o fazem anonimamente. Eles querem afastar da rua, do bairro, da cidade, do país, a possibilidade de novas retaliações. É quase unânime, para os moradores, que o fato foi um revide de policiais militares que ficaram insatisfeitos com a denúncia, com o vídeo e com a prisão dos cinco colegas, acusados pela execução de Nascimento, são eles:
– Soldado Francisco Anderson Henrique, 32 anos, há nove anos na Polícia Militar.
– Soldado Marcelo de Oliveira Silva, 32 anos, há sete anos na corporação.
– Soldado Jailson Pimentel de Almeida, 39 anos, com nove anos de polícia.
– Soldado Diógenes Marcelino de Melo, 37 anos, há 17 anos na Polícia Militar.
– Tenente Halstons Kai Tin Chen, conhecido como tenente Chen, de 24 anos. Com quatro anos de corporação.
Todos os agentes permanecem presos.
Voltando para o dia 04: O músico que ousou reagir, denunciou em sua música uma polícia assassina, agora está morto, com a chancela de um governador que pede a submissão quando diz: “Quem não reagiu, está vivo.”
No final da tarde de sábado (05), o delegado geral da Polícia Civil, Luíz Maurício Blazeck, disse que o DJ era o possível alvo da chacina, pois se colocava como um dos autores do vídeo. “Ele era uma pessoa que tinha notoriedade local e poderia alegar que ele seria um dos responsáveis por aquilo”. Em seguida, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) soltou uma nota desmentindo o delegado geral e imputando aos moradores do bairro a culpa pelo boato. “a Polícia Cívil de São Paulo esclarece que não há indícios de que uma das vítimas da chacina, ocorrida sexta-feira à noite, em Campo Limpo, zona Sul da capital, tenha participado de uma gravação de vídeo que mostra PMs atirando contra um servente de pedreiro. A hipótese havia sido aventada por moradores do bairro, as investigações prosseguem com intensidade, com vistas ao esclarecimento do crime”, afirmou a SSP. A promessa, do governador Geraldo Alckmin e da SSP, é a mesma de sempre: “Investigação”. Porém, segundo levantamento da Folha de São Paulo dessa segunda-feira (7), das 24 chacinas ocorridas na capital e na Grande SP, registradas em 2012, apenas uma foi esclarecida. No total, 80 pessoas morreram.Testemunhas disseram, informalmente, à Polícia Civil, que após a chacina, antes que a Polícia Militar chegasse ao local, um Corsa preto estacionou e e seus ocupantes recolheram rapidamente as cápsulas dos disparos que ficaram próximas ao bar.
Outro fato estranho, que poderia ligar a ação à policiais militares é que o grito disparado, por um ou uns dos 14 homens encapuzados que invadiram o bar atirando, foi: “Polícia”.