Bispo cita bíblia para justificar matança de cães
Dom Bernardo Bastres, de Punta Arenas, diz que muitas vezes parece que os animais "têm mais direitos que os seres humanos"
No extremo sul do Chile, a poucos quilômetros do Estreito de Magalhães, a fria e pacata cidade de Punta Arenas – capital da província de Magallanes, a menos povoada do país – não costumava ser manchete dos jornais, pelo menos até a imprensa chilena conhecer o bispo da região, dom Bernardo Bastres, e suas polêmicas declarações.
Nesta quarta-feira (9/1), o religioso publicou um artigo no jornal regional Hoy Por Hoy, no qual condena a falta de atenção do Estado chileno para “a praga de cachorros de rua que infesta diversas cidades do país e especialmente a esquecida Punta Arenas”. O artigo foi motivado também por um incidente ocorrido no último sábado (5/1), na catedral da cidade, quando um idoso de 73 anos foi atacado por seis cachorros de rua após uma missa ministrada pelo próprio bispo.
No artigo, Bastres diz que, na Europa, algumas cidades têm autonomia para eliminar os cachorros de rua quando eles são um incômodo para a sociedade e tal medida está justificada pela Bíblia. “Deus criou todas as coisas e as colocou à disposição do ser humano, esse é um princípio do Gênese, tudo está ao nosso serviço, e, portanto, também podemos nos desfazer problemas criados pela natureza”, afirmou.
Segundo a Secretaria Regional da Província de Magallanes, existem aproximadamente 12 mil cachorros de rua na capital Punta Arenas, número bastante superior à média entre as capitais provinciais chilenas, de 7,5 mil – excluindo Punta Arenas, a média das capitais diminuiria para 5,5 mil, segundo a Secretaria.
Para concluir o seu artigo, o bispo Bernardo Bastres admitiu que “o tema é delicado e não se trata de matar os cachorros por matar, porque isso sim seria considerado barbárie.Mas também não podemos aceitar que neste momento nós tenhamos uma invasão desses cachorros, que parecem ter mais direitos que as pessoas”.
Outras polêmicas do bispo Bastres
Não é a primeira vez que as polêmicas opiniões do bispo Bastres se propagam por todo o Chile. Aliás, em sua primeira aparição no noticiário nacional, ele também usou a “praga dos cachorros de rua” como argumento.
Em 2008, quando o governo da então presidente Michelle Bachelet anunciou que sua política de saúde da mulher incluiria a distribuição da chamada “pílula do dia seguinte” nos hospitais e postos de saúde públicos, Bastres foi um dos porta-vozes da Igreja Católica na ofensiva religiosa para tentar reverter a medida.
Em artigo publicado na época pelo jornal El Mercurio, um dos mais importantes do país, Bastres comentou que “não cabe aos governos ditar normas que alterem as regras da vida humana e atentam contra o próprio ser humano”, e logo complementou dizendo que “é exagerada a prioridade que os políticos de esquerda (a ex-presidente Michelle Bachelet é socialista) dão à legalização desta e de outras políticas de controle de natalidade, enquanto não tomam nenhuma iniciativa em outros problemas como, por exemplo, o excesso de cachorros de rua que existe em algumas cidades”.
Outra controvérsia criada pelo bispo Bastres aconteceu às vésperas do esperado dia 21 de dezembro, quando o sacerdote participou de um programa da televisão regional de Magallanes, em um debate sobre a profecia maia. Na ocasião, Bastres afirmou que os fiéis católicos que acreditavam no apocalipse deveriam deixar seus bens materiais aos cuidados da Igreja Católica antes de esperar o fim do mundo.
Victor Farinelli, Opera Mundi