Se houvesse maior seriedade com as informações no Brasil, a “falha interna” da Veja seria investigada pelos órgãos competentes do governo. Foi apenas uma “barriga” ou mais um jogo de especulação da mídia rentista? Quem saiu ganhando?
Paulo Donizetti de Souza, Revista do Brasil
Barriga é um antigo jargão das redações. Significa erro feio de informação. As publicações sérias costumam corrigir seus próprios erros e, elegantemente, evitam comentar o erro alheio. A menos que seja muito, muito grave.
No caso do site da revista Veja – que na quarta-feira (9) manteve por 22 minutos na manchete a fusão dos bancos Bradesco e Santander – digamos que a barriga não foi tão grave assim. Afinal, que importância teria o segundo maior banco privado do Brasil incorporar a unidade brasileira de um dos maiores bancos do mundo e se tornar o primeirão do país, superando Itaú Unibanco e até o Banco do Brasil?
Afinal, o boato é antigo e a tentação de dar o “furo”, sair na frente, é sempre grande no mercado editorial.
E por que mencionar aqui o erro alheio, se não é elegante com a concorrência? É que Veja assumir um erro é notícia. Lembra outra expressão antiga das redações. Algo corriqueiro, que acontece com frequência, não é caso de manchete. Dizia-se: “Manchete é o homem morder o cachorro; e não o contrário”.
Denúncias de autoridades grampeadas sem revelar a fonte nem mostrar o áudio dos grampos, remessas fictícias de fortunas para contas em paraísos fiscais transformadas em “furos”; associação de profissionais da editora com a organização criminosa de Carlos Cachoeira para viabilizar operações políticas e “jornalísticas” e defesa de mútuos interesses… nada disso é caso de se desculpar, nem sequer de um “veja bem…”.
Então, manchete para o gesto nobre de Veja. Mais nobre até do que desmentir a invenção do boimate.
Está certo que foi meio assim, assim. Como diria o José Simão, a publicação da Editora Abril tucanou a barriga. Na nota que em que se desculpa, “explica” o erro, diz que o dito cujo foi decorrente de “falha interna de procedimento”.
O Infomoney publicou negativas sobre a transação. Leia aqui. (Ah, não, essa é de maio do ano passado. A atual é esta aqui.)
Vamos e venhamos, instituições financeiras negarem boatos de fusões que depois acabam se confirmando equivale a um cachorro morder o homem. Mas Veja, ao admitir que errou – ainda que a motivação maior seja o peso dos anunciantes envolvidos –, mordeu o cachorro.
Leia a nota da Veja
Por uma falha interna de procedimento, durante 22 minutos, de 17h59 às 18h21 desta quarta-feira, o site de VEJA [maiúsculas do autor da nota] deixou no ar uma manchete errada sobre o que seria o anúncio da fusão dos bancos Bradesco e Santander. A informação foi corrigida em seguida pela redação do site, que publicou também os desmentidos oficiais dos bancos em questão. Essa falsa informação, que reaparece de tempos em tempos na internet, é fruto de boatos infundados que circulam há seis meses dando como fonte mensagens atribuídas a funcionários de um dos bancos. VEJA [idem] se desculpa com seus leitores por ter mantido por 22 minutos no site uma notícia errada que trazia no seu próprio enunciado a chave da sua falsidade. O texto dizia, infantilmente, que a negociação da fusão fora “informada” pela instituição a funcionários. Como qualquer pessoa do meio financeiro sabe, uma operação desse tipo tem que ser, por lei, mantida em absoluto sigilo e comunicada antes de qualquer outra forma de divulgação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
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