O debate sobre Yoani Sánchez exibido pela Globo News: questões menores e apresentadora sedenta para fazer valer o seu ponto de vista à força
Por Edu Guimarães, em seu blog
Pena que não tenho como reproduzir aqui o vídeo do último programa “Entre Aspas”, da Globo News, em que a apresentadora Monica Waldvogel recebeu os jornalistas Sandro Vaia, ex-diretor do Estadão, e Breno Altman, editor do site Opera Mundi, a fim de debaterem os fatos que marcaram a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez. É divertidíssimo.
Mas você, leitor, não ficará sem assistir. Pode conferir a íntegra do programa por aqui ou, se quiser, pode apenas ler este post. A escolha é do freguês.
Sobre o programa, um de seus méritos foi o de revelar quão desvirtuado vem sendo esse debate, pois a discussão que ali se viu girou, em grande parte do tempo, em torno das manifestações contra a blogueira.
Apesar de ser elogiável a coragem de Monica em convidar um divergente “fera” como Altman, este deve ser eximido de culpa pelo desvirtuamento do debate. Foram ela e Vaia que o desvirtuaram ao tentarem impedir o rumo que tomava entoando um mantra sobre os protestos de que Yoani foi alvo.
Muito nervosos, Vaia e Monica agiram em dupla pondo Altman sob fogo cruzado. Todavia, este conseguiu manter a linha de pensamento. Antevendo que perderiam o debate se o deixassem falar – a cada vez que abria a boca, estremeciam –, recorreram ao velho recurso de quem não tem argumentos.
Vaia começou a comparar os protestos contra Yoani a movimentos do nazismo e do fascismo que, na aurora da ascensão daqueles regimes na primeira metade do século XX, espancavam pelas ruas da Europa os que pensavam diferente e ousavam dizer de público o que pensavam.
As expressões de incredulidade que se estampavam no rosto de Altman eram talvez mais demolidoras do que sua eloquente argumentação. Apontou a Vaia o “pequeno” detalhe de que os contrários de Yoani só exerceram o direito constitucional à liberdade de expressão em locais públicos e que não houve violência, ainda que possa ter faltado critério.
Aliás, vale explicar que se os protestos contra Yoani tivessem tido o menor resquício de violência – conforme tentaram vender Vaia e Monica – os manifestantes teriam sido reprimidos pela polícia, inclusive no último evento de que a blogueira participou, na Livraria Cultura, em São Paulo, no qual ocorreram novos incidentes e onde abundaram policiais.
Mesmo estendendo uma discussão menor e atuando de forma injusta, na base do dois contra um, Vaia e Monica ficaram vendidos. A apresentadora, acuada, decidiu fazer uso do poder de condução do programa e cassou a palavra de Altman em favor do outro entrevistado. E fez isso por mais de uma vez.
Quem assistiu ou vier a assistir ao programa constatará que Monica prejudicou um dos debatedores. Inclusive como é costume dela fazer nesse tipo de debate que promove, posicionando-se ao lado de um deles e, assim, reduzindo a possibilidade de argumentação do outro.
O mais interessante é que Vaia, sempre entoando mantra que comparava a garotada que vaiou (ops!) Yoani a vários movimentos autoritários europeus, em nenhum momento, ao falar naquelas ações autoritárias e antidemocráticas, citou as que mais fazem sentido aos brasileiros: as ações golpistas de 1964.
O entusiasta da “Revolução” tupiniquim fez isso porque a parte da direita que ele integra envolveu-se até os ossos com o estupro da democracia do país no século passado, razão pela qual foge de discutir aquele período de trevas. Assim, qualquer menção à única ditadura que todos conhecemos é logo respondida com frases pré-fabricadas sobre Cuba.
Esse escapismo do debate, porém, vai ficando cada vez mais frágil, sobretudo com uma Comissão da Verdade se preparando para contar ao Brasil uma história que já provoca suor frio e tremedeira nos adeptos de ontem e de hoje daquele regime de horror.
Não houve, então, uma parte interessante no programa? Houve, sim. E foi cortesia do editor do Opera Mundi.
Altman descartou que Yoani seja “agente da CIA”. Em sua opinião, é só uma ativista de perfil light que foi “abraçada” pelo conjunto de forças político-ideológicas que faz propaganda negativa contra o regime cubano e que viu nela oportunidade de “aggiornamento” da própria imagem pública, desde sempre identificada por uma face de ultradireita.
Além disso, o grande serviço que o jornalista progressista prestou à verdade foi o de desmontar a distorção que tentaram fazer de reunião em que o embaixador cubano ofereceu ao governo brasileiro material contendo a sua versão dos fatos e a sua visão sobre a natureza das ações de Yoani.
Monica tentou contrabandear insinuação descabida de que o governo brasileiro teria organizado os protestos contra a cubana, mas Altman a interpelou, de forma incisiva, cobrando explicações sobre a quem se referia, pois foi uma acusação velada.
O editor do Opera Mundi quis saber por que o governo cubano não poderia oferecer sua visão sobre a sua detratora e onde estaria a evidencia de que o governo brasileiro organizara os protestos contra ela. Monica abandonou a linha de argumentação em seguida devido à boa e velha falta de argumentos.
Não se pode deixar de reconhecer, entretanto, que a apresentadora prestou um serviço a esse debate mesmo dando espaço menor à opinião divergente. Afinal, apesar de ter tentado cassar a palavra de um entrevistado, o que ele conseguiu dizer por certo fez muita gente refletir que a blogueira de pés de barro tem excelente$ razõe$ para falar mal de seu país.
Altman deu, no ar, informação que a mídia nunca dá quando exalta Yoani: ela recebe fortunas de corporações – inclusive de mídia – que se opõem ferozmente ao regime cubano. Assim, sendo ou não agente da CIA, suas posições políticas a recompensam muito bem financeiramente, além da fama e da exaltação que as mesmas corporações fazem de si.
E o que é melhor: Yoani ganha tudo isso sem correr risco algum de retaliação pelo alvo de tanto ideali$mo, a terrível “ditadura” que a deixa sair pelo mundo detratando-a e que, em Cuba, nada faz para impedi-la.
Muito estranha a “ditadura” cubana, não? Se a tal Yoani fosse viva nos idos de 1964 e divergisse da “ditabranda” brasileira (by Folha de São Paulo) como diverge do regime cubano, a esta altura estaria vendo capim crescer pela raiz. Afinal, ditadura que é ditadura não permite uma palavra de quem diverge. Quanto mais verborragia como a dessa mocinha.
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