Renan Calheiros, candidato da Veja e da Globo
Revista Veja é grata a Renan pela blindagem que o PMDB proporcionou ao editor-chefe Policarpo Júnior na CPI do Cachoeira. Razões da Globo também passam pela cpi do bicheiro, mas não só isso
Helena Stephanowitz, Rede Brasil Atual
Não se engane com as aparências superficiais. O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito pela Rede Globo e pela revista Veja à presidência do Senado.
A Veja, apesar de seus blogueiros dispararem dardos contra Renan – em doses inofensivas, apenas para consumo interno de seus leitores – fez corpo mole, e não produziu nenhuma matéria com potencial para derrubar a candidatura de Renan. Tivesse empenhada de fato contra sua eleição haveria contra ele pelo menos uma grande denúncia, com destaque na capa, no último mês, como fez várias outras durante três meses, quando a revista quis derrubá-lo, em 2007.
A TV Globo também não chegou a tentar desconstruir Renan no Jornal Nacional como fez em 2007. Limitou-se a noticiar “protocolarmente” a denúncia do Procurador-Geral Roberto Gurgel, sem fazer juízo de valor e dando ênfase às declarações da defesa do senador de forma até respeitosa. Deu para perceber que tratou a candidatura com certa naturalidade, tentando fazer a maioria dos telespectadores absorverem-na.
Por trás desse tratamento cortês, percebem-se dois motivos.
O primeiro é a dívida da revista com Renan pela blindagem que o PMDB proporcionou ao jornalista Policarpo Júnior na CPI do Cachoeira. A TV Globo, por corporativismo ou rabo preso, também atuou nos bastidores junto ao PMDB contra as investigações sobre o bicheiro pela CPI – e ficou devendo esta ao PMDB.
O segundo motivo é que esta velha imprensa julga que Renan no comando do Senado vem a calhar para gerar embaraços desgastantes à base governista e à presidenta Dilma, favorecendo a oposição nas eleições 2014, tão querida da Globo e da Veja.
Renan sabe que se não tiver munição capaz de conter a imprensa, sua vitória de hoje será tão alegre quanto o porre do peru na véspera da ceia de natal. O chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista) e a oposição o deixaram ser eleito de propósito, já com o forno aceso para abatê-lo e assá-lo.
Por isso ele procurou se precaver, mostrando suas armas em seu discurso. Fez “juras de amor” à liberdade de imprensa, dando a entender que, se não for incomodado, nenhuma lei passará no Senado contra os interesses dos barões da mídia. Nas entrelinhas, passou o recado de que, se os barões da mídia não forem “seu amigo”, ele tem cartas na manga para se aliar ao PT e ao PCdoB e apoiar uma “Ley dos Médios” – como a que a Argentina tenta emplacar – contra o oligopólio de uma dúzia de magnatas donos de jornais e TV’s.
Diga-se que o senador não estaria descumprindo qualquer promessa assumida em seu discurso quanto ao compromisso com as liberdades de imprensa e de expressão, pois democratizar as comunicações só aumenta estas liberdades.
Outra salvaguarda de Renan é o vice-presidente do Senado ser Jorge Vianna, do PT. Se o derrubarem, quem assume interinamente é um petista, coisa que os barões da mídia consideram pior para eles.
E o que Dilma tem a ver com isso? Nada!
Para a presidenta, como para qualquer presidente da República de qualquer democracia no mundo, o que importa é ter harmonia institucional com o Legislativo e garantir a governabilidade para cumprir o programa de governo. Sendo o Senado presidido por qualquer senador apto a ser eleito, da base governista, comprometido com o programa do governo e que não seja dado a atos impensados, nem golpista, pouco importa o nome.
Há quem diga que seria melhor se o PMDB tivesse escolhido um nome que não estivesse na linha de tiro do denuncismo. Mas Renan e o PMDB não abriram mão se sua postulação, e resolveram ir para o enfrentamento. A sorte está lançada. Resta saber até que ponto os pactos, mesmo que implícitos, de Renan com a velha mídia irão durar.
Às 5 horas da madrugada da sexta-feira (1), poucas horas antes da eleição, a revista Época – das Organizações Globo –, publicou a denúncia do Procurador-Geral da República contra Renan. Não surtiu efeito. O candidato adversário de Renan teve apenas 18 votos, quando era esperado pela oposição entre 20 e 25. No Senado não houve discursos fortes explorando a matéria. Mesmo os discursos críticos foram suaves, de quem não queria comprar briga, nem desestabilizar a candidatura, apenas marcar posição. Se a matéria da Época fosse ou ainda vier a ser repercutida no Jornal Nacional com força, o pacto (implícito ou não) Renan-Globo estaria (ou estará) rompido.
O fator Gurgel
Antes da eleição no Senado, o senador Fernando Collor (PTB-AL) discursou abrindo fogo contra o Procurador-Geral da República (PGR) Roberto Gurgel, chamando-o de “chantagista” e “prevaricador”. Além das acusações fortes que já vem fazendo desde o ano passado, disse algo novo: tramita no Senado um processo contra Gurgel (provavelmente devido ao “sobrestamento” da Operação Vegas da Polícia Federal, fato que paralisou as investigações sobre a organização do bicheiro Cachoeira).
É o Senado que tem poderes constitucionais tanto para processar o PGR por crimes de responsabilidade, como para exonerá-lo do cargo por maioria absoluta em votação secreta.
Sob a presidência de Sarney, parece que o processo no Senado a que Collor se referiu não teve andamento. Agora, com Renan, o que acontecerá?