Luis Soares
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Religião 27/Fev/2013 às 14:57 COMENTÁRIOS
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"Renúncia de Bento XVI foi gesto de desespero pessoal"

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 27 Fev, 2013 às 14h57

Renúncia de Bento XVI desmistificou figura do papa, diz Leonardo Boff. Para teólogo, decisão do pontífice alemão foi “gesto de desespero pessoal” diante de problemas enfrentados pela Igreja Católica

O teólogo Leonardo Boff afirmou nesta terça-feira (26/02) que a renúncia de Bento XVI é “o grande legado” de seu pontificado, devido a seu caráter inédito e por ter “desmistificado a figura do papa”.

Em entrevista publicada hoje pelo jornal mexicano Reforma, Boff disse que a renúncia foi “um gesto de desespero pessoal” de Bento XVI, “em conjunto com suas limitações físicas e psicológicas” diante dos problemas enfrentados pela Igreja Católica.

renúncia papa bento xvi

Leonardo Boff diz que renúncia do Papa Bento XVI foi ‘gesto de desespero pessoal’ (Foto: Divulgação)

Entre os problemas que perturbaram o papa alemão, mencionou os impedimentos para que sacerdotes pedófilos fossem entregues à justiça civil, o vazamento de informações e documentos do “Vatileaks” e os escândalos do Banco do Vaticano.

No final, disse, Bento XVI “recebeu um balanço altamente negativo da situação da cúria, pois tinha sido instalado, praticamente, um governo paralelo da Igreja” e “o seu mundo veio abaixo”.

“O papa se deu conta de que já não conseguia dirigir a Igreja. Outro deveria vir para regular a situação. Renunciou com elegância, sem denunciar ninguém e fazendo menção somente às suas limitações de saúde. Mas foi uma advertência fortíssima à cúria vaticana, que deve agora esperar profundas reformas”, apontou.

Para o teólogo, Bento XVI “é um intelectual refinado e um professor, não tem carisma e é extremamente tímido. Sentiu-se o sucessor de Pedro, mas não soube dirigir o governo da Igreja”.

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“Eu, que o conheci, sempre imaginei o quanto sofria quando tinha que enfrentar as multidões de fiéis. Sua grande preocupação era a secularização da Europa e o relativismo da modernidade”, comentou.

“Para nós [latino-americanos], que estamos na periferia do mundo e no meio dos pobres, optar pela Europa significa, politicamente, optar pelos ricos”, destacou.

Boff considerou que Bento XVI entrará para a história como “uma pessoa que enquanto era presidente do ex-Santo Ofício condenou mais de 100 teólogos, dos melhores, especialmente da Teologia da Libertação”, uma corrente de pensamento que “nunca entendeu”.

Boff reprovou o fato de Bento XVI aceitar “a versão dos críticos” da Teologia da Libertação, “os militares e as elites opulentas [latino-americanas] que acusavam qualquer tentativa de mudança da realidade social, como livrar os miseráveis de sua pobreza, como coisa de comunistas”.

Nascido em Concordia (1938), Boff é um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação e terminou abandonando a Igreja por suas divergências com o Vaticano.

Hoje considera a Igreja Católica “muito ocidental, patriarcal, machista e antifeminista”, e afirmou que a instituição necessita “dialogar com o mundo” urgentemente.

O ex-frade franciscano chegou a ser castigado com o silêncio pela Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano quando esta era comandada pelo então bispo Joseph Ratzinger, atual pontífice que encerrará seu papado na próxima quinta-feira (28/02).

Agência EFE

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