Empresário instala cerca elétrica em manguezal e mata pescador. De acordo com Movimento dos Pescadores Populares, o manguezal onde ocorreu a morte integra unidade de conservação federal de uso sustentável
O aposentado José Ribeiro dos Santos, 74 anos, faleceu ao tocar numa cerca eletrificada dentro de um manguezal. De acordo com o Movimento dos Pescadores Populares, o fato aconteceu no dia 14 de fevereiro, por volta das 16h, em Baixão do Guaí, município de Maragojipe (BA).
A área onde ocorreu o crime é reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares e está com o processo de regularização paralisado desde 2006, devido à interferência de grandes empreiteiras que cobiçam o território dos pescadores. Também trata-se de uma unidade de conservação federal de uso sustentável, integrando a Reserva Extrativista Baía do Iguape, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que tem sido omisso diante das várias denúncias realizadas pelos pescadores da região, segundo o Movimento dos Pescadores Populares.
José Ribeiro pescava caranguejo dentro do manguezal acompanhado de seis companheiros que testemunharam a tragédia. Bartolomeu, um de seus companheiros, tentou acudi-lo e também foi afetado pela descarga elétrica que lhe deixou graves sequelas. Alex, que também o acompanhava, teve a ideia de chutar sua mão e só assim conseguiu desgarrá-la da cerca, porém José Ribeiro não resistiu e morreu instantaneamente.
Ele foi carregado pelos companheiros para fora do manguezal até a beira da estrada, onde o corpo permaneceu até ser conduzido para o Instituto Médico Legal de Santo Antônio de Jesus. No atestado de óbito está registrado: parada cardiorespiratória provocada por descarga elétrica industrial.
A vítima morava na comunidade do Retiro, zona rural do município de São Felipe, próximo à Maragojipe. Além dos amigos e familiares, deixou dois filhos, sendo que o mais novo tem apenas 13 anos de idade. A família e os numerosos amigos estão inconformados com esta crueldade. Conforme nota do movimento, os pescadores da região clamam por justiça.
O Movimento dos Pescadores Populares salienta que não se trata de um caso isolado. “Depois das negociações escusas entre governo do estado da Bahia e as empreiteiras OAS e ODEBRECHT, parte da Reserva Extrativista (Resex) do Iguape foi suprimida e a especulação imobiliária tem sido cada vez mais violenta”. O movimento relata que as cercas no manguezal e nas restingas podem ser vistas em todas as áreas da Resex do Iguape.
Os pescadores acionaram o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) e o ICMBio, mas o Movimento dos Pescadores Populares afirma que estes órgãos se omitem, “configurando a situação como racismo institucional”.
O responsável pela morte de José Ribeiro dos Santos é um empresário conhecido por João Amazonas, também chamado de Coscoba. Ele alega ser proprietário de três pousadas na região entre São Roque e a vila do Guaí e, para apropriar-se de uma área de manguezal próxima a uma de suas pousadas, fez uma ligação clandestina da rede alta-tensão para eletrificar a cerca que causou a morte do pescador. (com informações do Movimento dos Pescadores Populares)