Novo papa Francisco segue a tradição da Igreja: é contra a ordenação de mulheres, contra o uso de camisinha, contra o uso de contraceptivos, contra o aborto e contra o casamento gay
A Associação Mães da Praça de Maia acusa Bergoglio de ter delatado dois jovens sacerdotes jesuítas — Francisco Jalics e Orlando Yorio — à repressão da ditadura de 1976-83, que foi a mais sangrenta da América Latina.
O jornalista Horacio Verbistky, estudioso desse período da história argentina, afirmou que Bergoglio, como chefe da Companhia de Jesus, anulou a proteção eclesiástica dos dois sacerdotes, que acabaram sendo sequestrados pelos agentes do regime. Agora que Bergoglio virou papa, essa história certamente vai ser mais bem pesquisada pelos historiadores e jornalistas.
Bergoglio foi nomeado cardeal em 2001 e desde então fez poucas declarações públicas. Uma delas ocorreu em julho de 2010, quando a Argentina discutia uma lei (que acabou sendo aprovada) autorizando os cartórios a aceitarem casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Na época, o cardeal divulgou uma carta afirmando que o projeto de lei do casamento gay era uma iniciativa de “agitação do Pai da Mentira [o diabo] para confundir e enganar os filhos de Deus”. E acrescentou: “Não sejamos ingênuos, [porque] não se trata de uma simples luta política. É pretensão destrutiva do plano de Deus”.
Por aí já dá para se prever que a oposição ferrenha da Igreja Católica ao casamento gay deve continuar. Doutrinariamente, Francisco não diferente de Bento 16. Ambos seguem a tradição da Igreja: são contra a ordenação de mulheres, contra o uso de camisinha, contra o uso de contraceptivos, contra o aborto.
A grande diferença é que Bento 16 é um teólogo, um estudioso da Bíblia e dos dogmas da Igreja, e Francisco é evangelizador — o que certamente foi levado em conta pelos cardeais que o elegeram, porque a fuga de fiéis da Igreja tem sido grande, principalmente nos países europeus. O próprio Bento 16 vinha falando da necessidade de uma nova evangelização para recompor o rebanho.
O cardeal Bergoglio
Bergoglio foi ordenado sacerdote tarde, aos 33 anos, mas aos 36 já era o chefão dos jesuítas na Argentina, o que não é pouca coisa, considerando que essa ordem, por sua combatividade dentro da própria Igreja e disciplina militar, só conseguiu agora ter um dos seus como papa.
Ele é filho de um ferroviário e de uma dona de casa, ambos imigrantes italianos. Nasceu no dia 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, no bairro de classe média de Flores. É torcedor fanático de San Lorenzo, time fundado por um padre. Costumava usar o transporte coletivo, o que é apontado por seus inimigos como populismo.
Aos 20 anos, Bergoglio foi submetido a uma operação de extração de um pulmão por causa de uma infecção. Mas a sua saúde aparentemente é boa. Se não fosse assim, não teria sido escolhido para segurar a barra pesadíssima que a Igreja, em crise.
Ele se formou como químico e teve uma namorada até um pouco antes de entrar na Companhia de Jesus. Passou uns tempos dos anos 80 na Alemanha e quando retornou para Argentina foi designado para cargos de pouco importância. Em 1992 ele foi promovido para bispo auxiliar do cardeal Antonio Quarracino, em Buenos Aires. Na avaliação de Quarracino, Bergoglio “é um jesuíta sereno e preciso que tem uma velocidade mental foram do comum”.
Fortunato Mallimacci, especialista em catolicismo, avisa que vai se frustrar quem acreditar que o novo papa vai promover uma grande reforma da Igreja. O que significa, em outras palavras, que a Igreja vai continuar se distanciado dos tempos atuais, em uma decadência que, agora mais do que nunca, parece irreversível.
Com Paulopes