Luis Soares
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Saúde 09/Abr/2013 às 15:10 COMENTÁRIOS
Saúde

Vírus da dengue: a confusão na hora de diagnosticar a doença

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 09 Abr, 2013 às 15h10

Vírus dissimulado. É comum confundir os sintomas da dengue com os de uma simples gripe, por isso é preciso estar atento aos sinais da doença

Por Drauzio Varella

São quatro os vírus causadores da dengue: sorotipos 1, 2, 3 e 4. A infecção por um sorotipo confere imunidade duradoura contra ele, mas não protege contra os demais. A infecção sequencial por sorotipos diferentes aumenta o risco de formas graves da doença. A gravidade está ligada ao comprometimento da função do endotélio, camada que reveste a parte interna dos vasos sanguíneos. A infecção rompe o equilíbrio por meio do qual essa camada regula o tráfego de moléculas para dentro e para fora dos capilares. Como consequência, a albumina e outras proteínas do sangue extravasam para os tecidos vizinhos (espaço extravascular), eventualmente causando queda de pressão e choque.

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Drauzio Varella é um médico oncologista, cientista e escritor brasileiro (Foto: Reprodução)

A maioria dos casos é assintomática. Quando presentes, os sintomas podem simular quadros gripais ou evoluir para complicações com risco de morte. Quando há queda da pressão arterial, a dengue recebe o nome de hemorrágica, denominação imprópria porque um doente pode entrar em choque sem sofrer hemorragia, enquanto outro apresenta sangramento sem alteração da pressão arterial.

Essa inadequação levou a OMS a propor a classificação da doença em duas categorias: dengue sem complicações e dengue grave, esta quando há extravasamento de plasma, que leva ao choque, acúmulo de líquido na pleura ou no abdome, sangramento grave ou falência de órgãos.

O período de incubação é de três a sete dias. Os sintomas se instalam de forma abrupta, com febre alta e calafrios. A evolução compreende três fases: febril, crítica e de recuperação. Na fase febril, picos que ultrapassam 38,5 graus são acompanhados de dor de cabeça (que se inicia atrás dos olhos), vômitos, dores nos músculos e articulações, e áreas de eritema na pele. Podem surgir hematomas e pontos hemorrágicos no corpo (petéquias). O hemograma mostra queda do número de glóbulos brancos e de plaquetas. Essa fase dura de três a sete dias, depois dos quais a maioria dos pacientes se recupera sem complicações.

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A fase crítica aparece entre quatro e sete dias depois do primeiro sintoma, durante o período de efervescência. É caracterizada pelo extravasamento de líquido e de proteínas para fora dos capilares, aumento da concentração dos glóbulos vermelhos no sangue, derrame pleural e ascite. Na tentativa de preservar a irrigação dos órgãos, o pulso fica mais acelerado e a frequência cardíaca aumenta.

O problema se agrava quando a pressão arterial cai, a circulação periférica entra em colapso e se instala o choque, que torna mandatória a internação em -unidade de terapia intensiva. Os sinais que permitem suspeitar da iminência de choque são: dores abdominais persistentes, vômitos, ascite, derrame pleural, sangramento nas mucosas, agitação e letargia.

Esse período crítico termina entre 48 e 72 horas, com a reversão espontânea do extravasamento capilar e melhora do estado geral. Na fase de recuperação pode reaparecer na pele o eritema da fase febril, seguido de descamação. Pacientes adultos eventualmente se queixam de fadiga intensa com semanas de duração.

O diagnóstico é confirmado pela presença de componentes do vírus no sangue ou indiretamente pela identificação de anticorpos contra eles, detectáveis a partir do quarto dia de infecção. Não existem medicamentos eficazes contra o vírus, embora haja alguns em fase de teste. O tratamento consiste em manter a hidratação e combater os sintomas com repouso, antieméticos e antitérmicos, como a dipirona.

Remédios que contêm ácido acetilsalicílico jamais devem ser administrados, porque aumentam o risco de sangramento. Como muitos deles são populares, é obrigatório conferir a bula.

Pacientes com dengue grave precisam ser internados para hidratação intravenosa, controles laboratoriais, administração de drogas para elevar a pressão, transfusões de sangue e outros cuidados intensivos capazes de reduzir a mortalidade dos casos mais graves para menos de 1%.

Não é possível acabar com a dengue, mas é vergonhoso conviver com índices de mortalidade altos como os nossos.

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