Datafolha realiza pesquisa 'sinistra' sobre retorno da ditadura
Pesquisa ‘sinistra’ do Datafolha testa popularidade da volta da ditadura. A velha imprensa ainda aposta na vigarice golpista e faz de tudo para desqualificar o voto popular e fazer o cidadão desistir da sua própria participação política
Pouca gente viu, quase ninguém comentou. No feriado de 1º de maio, o instituto de pesquisa Datafolha, dos mesmos donos do jornalão “Folha de S.Paulo”, divulgou uma pesquisa, restrita à capital paulista, para conferir se os paulistanos apoiariam a implantação de uma ditadura no Brasil.
Na pesquisa, sinistra – para dizer o mínimo –, os números estimulados foram:
– 53% dos entrevistados disserem concordar com a afirmação: “democracia é sempre melhor do que qualquer outra forma de governo”.
– 19% escolheram: “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que um regime democrático”.
– 20% escolheram: “tanto faz se o governo é uma democracia ou uma ditadura”.
Os 8% restantes se dividem entre quem se declarou explicitamente favorável a uma ditadura e os que respondem “não sei”.
A notícia saiu sob o título “Apoio ao regime democrático tem ligeira queda” e tem viés de pregação antidemocrática. Isso porque, segundo a publicação, houve oscilação nos números em relação há 10 anos atrás, quando 57% dos entrevistados responderam “democracia sempre” e os que responderam “depende das circunstâncias” foram 16%.
Lições e cuidados
A partir do momento em que as velhas oligarquias econômicas, incluindo aí os barões da mídia, passaram a perder eleições no voto popular, voltaram a flertar com o golpismo. O jornalão foi notório conspirador pelo golpe de 1964 e um dos principais bastiões de sustentação da ditadura por mais de uma década, até iniciar o processo de abertura política no final dos anos 70. Hoje as oligarquias que perderam poder político, sonham com um golpe nos moldes hondurenhos, aplicado pelo judiciário.
Isso explica os jornalões e TV’s demonizarem os políticos eleitos pelo voto popular e endeusarem os juízes do STF.
É verdade que muitos políticos fazem por merecer certa dose de má fama, mas há também muitos que honram seus mandatos e representam com dignidade e honram os votos que receberam de seus eleitores. Da mesma forma, no Judiciário também tem muita gente honrada e outras nem tanto. E há outros que, mesmo agindo dentro das leis, também usam e abusam de privilégios, vantagens, mordomias e luxos com dinheiro público. E há ainda os que são parciais nos julgamentos por afinidade política.
Aliás, bem ou mal, quase todo político tem de enfrentar as urnas de quatro em quatro anos, tem de expor seus bens na internet e, numa campanha, em geral, tem a vida devassada, nova denúncias aparecem e antigas são requentadas, as promessas descumpridas são cobradas. Se todos os juízes tivessem de passar por uma prova de fogo semelhante de tempos em tempos, quantos conseguiriam manter suas imagens de impolutos?
Além disso, paradoxalmente, é o Judiciário co-responsável pela eleição de muitos picaretas, por ser lerdo em julgar quem é notoriamente ficha suja, mas oficialmente ainda não tem condenação final. Não é justo dizer que o só povo escolhe mal, se a própria Justiça Eleitoral atesta que o candidato tem situação regular para se candidatar e tomar posse de sem mandato.
Logo, é simplismo demonizar o Poder Legislativo e endeusar o Judiciário. Ambos têm muito o que melhorar, corrigir antigos vícios e se tornarem mais republicanos. E só a democracia, com ampla transparência pública, levará à depuração destas instituições.
Mas a velha imprensa aposta nessa vigarice golpista, fazendo campanha de demonização só de parlamentares, sem separar o joio do trigo. Tudo para desqualificar o voto popular e fazer o cidadão desistir da sua própria participação política. Tudo para levar o cidadão a não acreditar no seu próprio poder de transformar a sociedade pelo engajamento.
No fundo é a tentativa de aplicar o velho golpe: tirar o povo do caminho, para colocar no governo um preposto que governe só para as velhas oligarquias que atrasaram o Brasil por 500 anos.
Helena Sthephanowitz, Rede Brasil Atual