Pastores fazem mutirão para colher assinaturas para o novo partido de Marina. O ‘Rede’ agora corre contra o tempo para conseguir o registro da Justiça Eleitoral até 5 de outubro, prazo que permitiria disputar a eleição de 2014
Em frente à Assembleia de Deus – Ministério do Belém, na capital paulista, duas mulheres, com prancheta nas mãos, se aproximam dos homens que chegam apressados à igreja, segurando Bíblias. Vestidas com camiseta do Rede Sustentabilidade, as voluntárias pedem assinaturas para o partido articulado pela ex-senadora Marina Silva, antes da reunião mensal que reúne até 3 mil pastores e obreiros. “É para apoiar a Marina”, diz uma das mulheres, exibindo uma foto da ex-senadora. Na porta do templo, são distribuídas fichas para a coleta de 66 mil assinaturas.
Cada religioso ganha um envelope com 11 folhas, com espaço para 33 assinaturas. “O pastor Lélis pediu para pegar e devolver preenchida”, diz o pastor que entrega as fichas. A orientação é devolver tudo completo dentro de uma ou duas semanas.
O nome do pastor Lélis Washington Marinhos, uma das lideranças do Ministério do Belém, quebra a resistência dos que não sabem para quem coletarão assinaturas. “Não é um trabalho oficial da igreja, mas é um exercício de cidadania”, diz o pastor, que é presidente do conselho político nacional da Convenção Geral das Igrejas Assembleia de Deus no Brasil. “Temos formadores de opinião e é justo que eles opinem. Todos têm liberdade”, afirma. A relação com Marina é amistosa. “Ela goza da simpatia da igreja”, diz, lembrando que a ex-senadora é integrante da igreja em Brasília.
Além das igrejas, partido busca apoio de artistas em show destinado a apoio de signatários
O pastor Luciano Silva, de 37 anos, que acompanhava a ação na igreja, diz ter pego fichas para coletar 9 mil assinaturas. “Marina é irmã. Tem origem humilde e sempre lutou pelas causas sociais. As pessoas têm boa aceitação”.
À frente do contato com os evangélicos está o presbítero Geraldo Malta, de 54 anos, um dos fundadores do PSDB e responsável pela aproximação de José Serra com pentecostais e neopentecostais nas campanhas pela Prefeitura de São Paulo em 2012 e pela Presidência em 2010. Malta é assessor do deputado federal Walter Feldman (PSDB), um dos articuladores do Rede Sustentabilidade.
A expectativa de coleta nas igrejas evangélicas da capital paulista, diz Malta, é de 80 mil a 100 mil assinaturas – quase um quinto das 492 mil necessárias para viabilizar o novo partido. “Já visitamos quase todas as denominações evangélicas”, diz. No mesmo dia em que foi ao Ministério do Belém, Malta pediu apoio ao pastor Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus do Brás, e ao presidente do Partido Ecológico Nacional (PEN), Adilson Barroso, ligado à Assembleia de Deus.
A busca de assinaturas entre evangélicos, no entanto, é apenas um dos caminhos investidos pelos articuladores do Rede Sustentabilidade para tentar viabilizar o partido. Na comemoração do 1º de Maio, o grupo pediu permissão ao presidente da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (PDT), para coletar assinaturas na festa da central sindical e conseguiu cerca de 3 mil apoios, segundo Malta.
As universidades são um dos focos do partido. A coleta é reforçada quando Marina é convidada a fazer palestra aos estudantes, como na USP leste, na capital paulista, na semana passada. Parques, praças públicas e onde há aglomeração de pessoas, como perto de estações de metrô, são outros pontos em que há voluntários do Rede.
Há também a mobilização de deputados de diferentes legendas, como o tucano Feldman, Dr. Ubiali (PSB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Alfredo Sirkis (PV-RJ), que poderão ingressar na sigla.
Artistas têm ajudado a dar visibilidade ao grupo e nesta semana a coleta de assinaturas será reforçada durante show de Adriana Calcanhoto, com Nando Reis e convidados em São Paulo, feito exclusivamente para apoiar o partido e angariar fundos para bancar a coleta.
O partido também investe na mobilização nas redes sociais e na internet. Há uma ficha disponível no site da legenda para quem quiser coletar assinaturas por conta própria. Responsável pela coordenação executiva do grupo, a advogada Marcela Moraes, de 32 anos, diz que há sete mil pessoas inscritas como voluntárias em todo o país.
A presença de Marina nos eventos de coleta dá visibilidade nos meios de comunicação. Em visita a São Paulo, em março, cercada por jornalistas e fotógrafos, a ex-senadora chamava a atenção nos mercados públicos por onde passou para pedir apoio. Com calça jeans e tênis, Marina explicava: “Não é filiação ao partido. É endosso. É concordar que o partido seja criado”.
Depois de cumprimentar Marina, a aposentada Madalena Prestes, de 64 anos, diz ter assinado a ficha por desejar mudanças na política. “Quero que ela faça alguma coisa. Estou cansada desses partidos”.
Para bancar parte dos custos, o grupo de Marina organizou dois eventos com empresários e apoiadores para levantar recursos, em São Paulo e em Brasília. A maior parte dos cerca de R$ 55 mil arrecadados veio de doadores da campanha presidencial de 2010, como Guilherme Leal, da Natura.
O Rede agora corre contra o tempo para conseguir o registro da Justiça Eleitoral até 5 de outubro, prazo que permitiria disputar a eleição de 2014 e dar legenda para a candidatura de Marina. E se não der tempo de registrar o partido até outubro, há possibilidade de concorrer por outro partido? Feldman evoca Marina e diz: “Ela sempre fala o seguinte: quem tem plano B não tem plano A”, afirma. “Não existe a possibilidade de não dar certo”.
Por Valor Econômico. Via Limpinho&Cheiroso