Gerentes no Brasil já ganham quase o dobro que na França e Inglaterra
Pesquisa dá a medida de como a diferença de salários de profissionais em cargos de gerência na América Latina e na Europa está aumentando – a favor dos latino-americanos
Se até antes da crise global, as remunerações eram maiores nos países europeus, hoje um gerente de marketing no Brasil, por exemplo, já ganha, em média, US$ 104 mil por ano (R$ 209 mil) no setor de telecomunicações – quase o dobro do salário para o cargo na Inglaterra e na França, de US$ 58.950 (R$ 118.747).
No México, a remuneração também é maior que em países europeus. Lá, um gerente de marketing ganha US$ 118 mil (R$237 mil) na média.
Pesquisas recentes já haviam apontando que executivos ocupando altos cargos de direção – diretorias de grandes empresas, presidências e vice-presidências – estão recebendo bônus e contracheques mais gordos em países emergentes e em desenvolvimento que na Europa.
O que esse levantamento confirma é que essa é uma tendência também nas posições de gerência de nível médio e alto.
Isso não significa que haja paridade na base da pirâmide salarial. Só para citar um exemplo, trabalhadores do McDonald’s em Londres têm um salário inicial de cerca de 970 libras, ou R$ 3.000, e em São Paulo ainda não recebem um terço desse valor.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), porém, identifica uma convergência crescente, ainda que lenta e gradual, mesmo nesses níveis salariais mais baixos.
Comparação
No caso de um gerente de contabilidade, no Brasil o salário médio é de US$ 94.250 (R$ 189.863), no México, de US$ 111.200 (R$ 223.918), e na Inglaterra, de apenas US$ 55.020 (R$ 110.791).
Um gerente de qualidade ganha US$ 97.500 (R$ 196.194) no Brasil e só US$ 52.400 (R$ 105.442) na França.
O levantamento da Michael Page comparou os salários médios de dez cargos em cinco setores de oito países – Brasil e México, na América Latina, Inglaterra, Alemanha e França, na Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália.
Na grande maioria dos casos os salários latino-americanos ficaram à frente dos europeus.
“É claro que as diferenças de remuneração variam muito em função do setor analisado”, disse à BBC Leonardo Souza, diretor da Michael Page.
Ele explica que há áreas que costumam pagar salários bem mais altos em determinados países em função de fatores como a escassez de profissionais especializados.
“Mas, no geral, a pesquisa confirma uma tendência sólida, que temos percebido em nosso trabalho de recrutamento e seleção: a de que, nesses níveis de gerência, os salários europeus também estão ficando defasados em relação às remunerações oferecidas no Brasil e no México”, diz Souza.
Causas
O fenômeno teria pelo menos três causas, segundo o diretor da Michael Page.
Primeiro, a falta de profissionais qualificados nos países emergentes e em desenvolvimento – que valorizaria o “passe” dos poucos profissionais com suficiente formação e experiência disponíveis nesses mercado.
Ao mesmo tempo, na Europa a crise financeira e os altos níveis de desemprego estariam pressionando para baixo as remunerações dos trabalhadores – segundo motor do fenômeno de inversão dos patamares de salários.
Para completar, principalmente no Brasil, a recente alta das remunerações dos cargos de gerência também refletiria um aumento dos custos de vida no país.
“Por causa desse aumento, cada vez mais os profissionais qualificados estão exigindo salários mais altos para mudar de emprego ou transferir-se para o país e as empresas também estão começando a achar razoável aceitar essa compensação”, diz Souza.
Entre todos os países analisados pela Michael Page, os salários mais altos ainda são pagos por países ricos – embora em alguns casos a diferença em relação aos emergentes já seja pequena.
O Japão é o que melhor remunera seus profissionais em todos os cargos de gerência considerados – segundo Souza, principalmente em função dos altos custos de vida do país.
Nos Estados Unidos e na Austrália, as remunerações dos gerentes também continuam mais altas que no Brasil e no México, com algumas exceções.
“A crise nos EUA não foi tão grave quanto na Europa e o mercado americano já está se recuperando – por isso os salários de lá têm resistido melhor que os europeus”, diz Souza.
Ruth Costas, BBC Brasil