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Pastor Marcos Pereira mandou matar quatro, aponta investigação

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Investigação aponta que pastor mandou matar quatro. Vítimas seriam três homens que teriam filmado orgias e uma fiel abusada. Mulheres eram estupradas pelo pastor sem preservativo; o líder religioso tinha um médico para fazer abortos

Denunciado pelo Ministério Público por dois estupros e coação de testemunha, o líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), pastor Marcos Pereira da Silva, pode estar envolvido em mais três assassinatos — ele já é acusado de mandar matar Adelaide Nogueira dos Santos, uma de suas fiéis.

Investigações da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) apontam que o religioso teria determinado a execução de três homens que filmaram orgias com a participação dele.

As denúncias foram feitas por testemunhas, em depoimentos, mas a polícia ainda levanta a identificação das vítimas. Se condenado, o religioso pode pegar até 24 anos de prisão.

Pastor Marcos Pereira (Foto: Divulgação)

Preso na noite de terça-feira, Marcos Pereira teve dois pedidos de liberdade negados pela Justiça. Ele é investigado também por associação ao tráfico de drogas, maus tratos, lavagem de dinheiro, além de ser suspeito de ter cometido outros estupros.

Segundo o Ministério Público, o pastor violentava as mulheres até na igreja. O número de vítimas pode chegar a 20, e algumas seriam menores de idade quando teriam sido violentadas.

“Existe ainda a suspeita de que pessoas acolhidas por ele, após, supostamente, deixarem o tráfico de drogas, continuavam cometendo crimes a mando do pastor, como homicídios e roubos de cargas”, disse o delegado da Dcod, Márcio Mendonça.

Nas investigações aparecem 17 imóveis, um deles um apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, avaliado em R$ 8 milhões, onde também o pastor abusaria das vítimas.

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“Estamos levantando todos os imóveis da igreja e empresas em nomes de terceiros que tenham sido comprados por pessoas da confiança do Marcos, que eram pobres e ficaram ricas de repente”, disse Márcio Mendonça.

Segundo testemunhas, o pastor fazia orgias em motéis com garotos de programa, prostitutas e travestis. Em depoimento, uma testemunha contou que ele gostava de ver mulheres fazendo sexo grupal.

Mulher conta que foi refém por dois anos

Adelaide Nogueira dos Santos, morta em 2006, começou a frequentar a igreja em 2005, quando conheceu Marcelo Saint Clair, que seria traficante.

Ele é um dos suspeitos de matá-la. Testemunhas apontam o pastor como mandante. Sobrinho de Marcos Pereira, Geferson Rodrigues Gomes é um dos condenados em primeira instância.

Adelaide também teria sido obrigada a manter relações sexuais com o pastor. No entanto, passou a recusar suas investidas e a investigar seus crimes, o que teria motivado o assassinato.Segundo a testemunha, ela foi morta por Marcelo após Marcos dizer a ele que Adelaide o traía e que estava grávida de outro homem.

Uma das vítimas contou que, em 1990, foi morar no abrigo da igreja de Marcos. Meses depois, eles ficaram sozinhos na casa, e ele introduziu o dedo no ânus dela.

Segundo o depoimento, mesmo após se casar com um homem de confiança do pastor, ela conta que foi obrigada a manter relações sexuais com Marcos na igreja por dois anos.

Pastor Marcos Pereira sendo entrevistado pelo deputado e também pastor Marco Feliciano (Foto: Divulgação)

Ex-mulher do pastor, Ana Madureira Silva disse que foi violentada por ele, mas depois negou as afirmações em declaração feita em cartório.

Nos planos, a explosão do Engenhão

Uma das supostas vítimas do pastor Marcos revelou que, em 2007, antes da inauguração do Engenhão, o religioso procurou um traficante da Favela do Barbante, em Campo Grande, conhecido como Veneno, para explodir o estádio.

Local que teria servido para orgias do pastor, apartamento em Copacabana foi doado por um empresário que o conheceu na década de 1970, quando Marcos era balconista.

Ele contou que reencontrou o pastor 20 anos depois, quando teria sido curado por ele de uma asma. Muito rico, ele tinha desavenças com a família e por isso fez a doação do apartamento.

Promotor diz que pastor teria médico para fazer abortos

De acordo com o promotor Rogério Lima, da 8ª Promotoria de Investigação, o pastor Marcos fazia sexo anal com as mulheres que se diziam virgens.

De acordo com testemunhas, vítimas que não eram mais virgens eram estupradas sem preservativo. “Uma relatou que ele tinha médico para fazer abortos”, disse Lima.

O pastor é investigado por mais quatro estupros. No entanto, o promotor explicou que outros depoimentos de vítimas não viraram denúncia por causa da alteração do Código Penal, em 2009.

Pastor Marcos está preso em Bangu | Foto: Divulgação

Por não terem sido relatadas violências e agressões e pela antiguidade dos crimes, as informações serão utilizadas para corroborar os estupros.

Homem de Deus

De acordo com testemunhas, o pastor Marcos tinha relações sexuais com membros de sua igreja com a justificativa de que não queria se envolver com mulheres da rua, do mundo, porque se considerava um ‘Homem de Deus’.

Conserto espiritual

Uma das vítimas, que morava no abrigo do templo, ao decidir deixar o local, ouviu do pasto que ela teria que fazer “conserto espiritual”, com perguntas sobre antigos namorados e relações sexuais. Poucos meses depois, ele ficou sozinho com ela na casa e os abusos começaram.

Pragas do apocalipse

Uma das testemunhas contou que começou a ser abusada pelo pastor Marcos aos 16 anos, quando frequentava a assembleia dos Últimos Dias. Ainda segundo a menina, o religioso mandava que ela ficasse só de roupa íntima.

Para convencer a adolescente a transar com ele, Marcos dizia que era ‘anjo de Deus’ e que o Criador havia mandado ela fazer sexo com ele, caso contrário as pragas do Apocalipse cairiam sobre ela.

Deus fez uma revelação

Para assediar uma das fiéis que trabalhava na igreja, de 13 anos, Marcos disse a ela que Deus fez revelação para ele perguntando se a jovem já havia tido algum relacionamento antes.

A garota disse que ficou assustada porque havia se relacionado com homem antes, mas que ninguém sabia e contou a história para ele. Ela disse que o pastor sempre falava que sentia que a jovem era uma pessoa de Deus e que colocava as mãos nas pernas dela.

A menina contou que as relações começaram aos 14 anos e que o pastor pedia para outras pessoas saírem do local para dar revelação à escolhida.

Alessandor Lo-Bianco, Jornal O Dia