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‘Roleta sexual’ – boato gera temores e exageros

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Boato de ‘roleta sexual’ gera temores e exageros. Alguns dos boatos incluem a suposta gravidez de uma menina de 14 anos por ter jogado a "roleta"

Embora seja foco de atenção da imprensa da Colômbia há mais de uma semana, a suposta prática da “roleta sexual”, na qual jovens participariam de jogos eróticos envolvendo relações grupais, ainda é algo sobre o que pouco se sabe com certeza.

De acordo com o tom da cobertura sobre o assunto no país, a “roleta” teria se tornado moda entre jovens de várias cidades do país, a ponto de ter alarmado as autoridades.

A maneira como o tema vem sendo tratado, no entanto, provavelmente diz mais a respeito aos temores da sociedade e à dinâmica dos meios de comunicação do que sobre os jovens colombianos.

Os relatos indicam que as regras do jogo incluem seguidas penetrações e colocam à prova a resistência dos homens.

De acordo com algumas versões, a “roleta sexual” seria praticada em boates ao som de reggaeton

A história teve início, sem dúvida, com um depoimento que parece ter sido tomado como verdade, sem questionamentos: o de uma menina de 14 anos que afirma ter engravidado após jogar a “roleta sexual”.

“Não pensei que poderia engravidar, porque não era muito tempo, era só um jogo”, teria dito a menor ao ADN, um jornal gratuito que circula em Medellín.

No mesmo artigo, o jornal também divulgou declarações de uma funcionária da Secretaria de Saúde reconhecendo que, nos relatos de jovens grávidas, cada vez mais se fala de “relações sexuais grupais, que em sua maioria são indiscriminadas e sem a devida proteção”.

A partir daí o assunto saiu de controle, porque os meios de comunicação colombianos não parecem interessados em determinar se o que está em questão são casos isolados ou uma prática generalizada, nem se este comportamento de risco sempre é de fato uma “roleta sexual”.

Declarações

Na busca por depoimentos que confirmem a popularidade do jogo, a imprensa também começou a oferecer como prova o que não passa de boato.

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Uma emissora local, por exemplo, não hesitou em apresentar como testemunha da prática a tia de uma jovem “que confessou ter participado na chamada roleta sexual”, mesmo que na entrevista, repleta de inconsistências, a tia admita que a sobrinha não tenha confessado e reconheça que “as meninas não falam” – o que, no entanto, não a impede de oferecer inúmeros detalhes sobre o jogo em questão.

E para dar ainda mais solidez às afirmações, a maioria dos meios de comunicação também reproduziram declarações da diretora encarregada do Instituto Colombiano do Bem-Estar Familiar (ICBF), que dão a entender que a instituição confirmou gestações produzidas pela prática da “roleta”, “inclusive em Bogotá e Cali”.

A diretora encarregada do ICBF se chama Adriana González. E toda a imprensa, inclusive de fora da Colômbia, a identificou como Adriana Monsalve, o que sugere que as declarações vieram de uma mesma fonte.

González explicou que o que o ICBF pôde comprovar é que havia jovens que diziam terem escutado falar sobre o jogo, e isso em um bairro de Bogotá. Em outras palavras, o que se pôde confirmar era a existência do boato.

Lenda urbana?

Alguns dos boatos incluem a suposta gravidez de uma menina por ter jogado a “roleta”

Para Carlos Mario Ramírez, vice-secretário de Saúde, Inclusão Social e Família de Medelín, cidade onde se originou a história, quase tudo o que se tem dito e escrito sobre o assunto até agora está baseado em rumores sem confirmação.

Segundo ele, o ADN “divulgou o caso e disse que a Secretaria de Saúde o havia confirmado. Mas nós verificamos e nunca houve uma declaração (da secretaria)”.

Ramírez diz que a ideia de que a “roleta sexual” estaria gerando um aumento no número de gestações de adolescentes na cidade também é contrariada pelas últimas estatísticas à disposição.

Obviamente, tudo isso não significa que o jogo não seja praticado por alguns jovens colombianos.

Mas, como disse o especialista mexicano Francisco Cortázar, muitas “lendas urbanas” também têm algo de verdade. E esta não é a única característica deste tipo de relatos que parece se aplicar às histórias sobre a “roleta sexual”.

“Em geral, as lendas urbanas costumam ser relatadas como se tivessem ocorrido com alguém próximo”, disse Cortázar, professor de Estudos Sócio-Urbanos da Universidade de Guadalajara.

“E fundamentalmente são histórias moralistas. Funcionam como histórias exemplares de que é o que pode acontecer se a pessoa não se comportar de forma adequada; transmitem medos, temores, fantasias, anseios, tabus.”

“Mas ainda que a sexualidade seja um tema de preocupação legítima, também ocorrem muitos exageros, muitas fantasias. E muitos dos comportamentos que acreditamos que os jovens têm não são tão disseminados. Pode ser que existam em alguns casos, que são irrelevantes. Mas ter conhecimento de apenas um é suficiente para desatar um temor generalizado na sociedade”, explica Cortázar.

BBC

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