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“Não podemos nos alinhar aos Jabores e Datenas”

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Membro do Movimento Passe Livre alerta para a tentativa da direita de ‘adotar o movimento’ com interesses escusos. "O grito dos jovens está longe de bradar contra políticas de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza"

“Somos progressistas”, diz militante do MPL em crítica à adesão de representantes dos setores conservadores ao movimento (Reprodução / Protesto em SP)

Desde o ato da última quinta-feira contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre: a instrumentalização do povo.

A evidente mudança de postura da imprensa em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso porque nos últimos dias imperou o comentário: “Agora até a grande mídia defende as manifestações”. Como se isso fosse algo positivo.

Por um lado, a máxima “não é só pelos 20 centavos” conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas. Por outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política em São Paulo?

É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais.

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Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.

Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade…Falácia.

É evidente que essas questões também são importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.

O grito dos jovens está longe de bradar contra os “mensaleiros”, contra a inflação, contra as políticas sociais de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de saber lidar com uma ameaça feroz: a direitização.

O aparelho midiático que serve a esses interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer seu recado ser entendido.

Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.

O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.

Vamos à luta!

Por Paulo Motoryn, militante do MPL. Publicado na revista Vaidapé e republicado no site Diário do Centro do Mundo

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