Cidade do RS com segunda melhor distribuição de renda do Brasil oferece estrutura, R$ 10 mil por mês e até faculdade de graça, mas faltam médicos
Localizada na Serra Gaúcha, a cidade de Carlos Barbosa é a segunda melhor no Brasil em distribuição de renda e tem o 23º maior PIB per capita do Rio Grande do Sul. Com 25 mil habitantes, o município tem um centro de saúde, inaugurado em dezembro de 2004, e cinco unidades para atender a população.
A prefeitura oferece exames laboratoriais, de raio-X, tomografias, mamografias, ecografias, endoscopias, colonoscopias, eletrocardiogramas, ressonâncias magnéticas, ecocardiogramas. Os médicos recebem salário de R$ 4.630,31 (20 horas semanas) e R$ 9.260,61 (40 horas), além de um adicional de insalubridade de R$ 529,55. Mesmo assim, faltam médicos para atender a população.
A cidade gaúcha recentemente encerrou as inscrições para preencher as vagas de médicos. Mesmo com o salário de quase R$ 10 mil e a infraestrutura oferecidos, com quatro vagas ofertadas para contratação imediata, somente uma pessoa se inscreveu.
“Aqui, nós estamos muito bem posicionados. Estamos a 100 quilômetros de Porto Alegre, 40 km de Caxias (do Sul), 15 km de Bento Gonçalves. Nós temos uma boa estrutura física. Nós temos um centro de saúde que o (Fernando) Lucchese (cardiologista famoso por seus livros para o público leigo) esteve aqui e disse que ‘parece mais um apart-hotel do que um centro de saúde’. Temos toda uma infraestrutura aqui”, diz o prefeito Fernando Xavier da Silva (PDT).
Segundo Silva, se não é a estrutura nem qualidade de vida na cidade que afastam os médicos, sobra uma explicação: os salários. Para ele, os médicos na região conseguem mais dinheiro com consultórios privados e planos de saúde e a remuneração não é atraente para esses profissionais da saúde.
“Acredito que o valor-hora oferecido pela cidade não seja atraente para os médicos, pela própria concorrência do mercado ao redor, principalmente de Caxias (do Sul) e Bento (Gonçalves)”, diz Fernando Matos, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers). Para ele, a região da Serra Gaúcha oferece uma remuneração muito alta, principalmente os planos de saúde, e os profissionais da saúde não escolhem trabalhar no setor público.
E para pagar um salário maior? Os cofres públicos aguentariam? “Aí vai depender da capacidade gestora de quem tem a obrigação de fazer a administração pública. Eu acho que nós teremos que fazer algum tipo de corte em algum lugar e repassar para a área da saúde algum recurso para tentar via remuneração melhor (atrair médicos), e eu estou fazendo um estudo para passar para R$ 6 mil para 20 horas e, consequentemente, R$ 12 mil para 40 horas para ver se torno mais atrativo esse serviço aqui no município”, diz o prefeito.
Mais Médicos
Para tentar acabar com o déficit de médicos, a prefeitura de Carlos Barbosa se inscreveu no programa Mais Médicos, do governo federal, que oferece bolsas de R$ 10 mil para esses profissionais de saúde.
O prefeito afirma que o programa “tem algum fundamento”, mas precisa de ajustes. Silva defende que o projeto deve se esforçar em trazer médicos brasileiros. “Aí se, não tendo condição (deve-se contratar estrangeiros), e o Revalida é fundamental.”
Um dos principais pontos de discórdia entre as associações e o governo, o exame de revalidação de diploma do médico que se formou no exterior deve ficar de fora do Mais Médicos (veja detalhes no quadro abaixo).
“Não tem discussão. Médico brasileiro ou estrangeiro que fez curso no exterior tem que seguir as leis brasileiras”, diz Matos, ressaltando que esses profissionais têm que saber falar português para fazer atendimento com qualidade.
“O Mais Médicos teria, a meu ver, apenas um benefício: de conscientizar a todos de que tem que fazer investimento em infraestrutura, criar mais hospitais, mais condições de trabalho e criar também um plano de carreira para os médicos, estabelecendo um valor para o trabalho médico digno”, diz o vice-presidente do Cremers. Matos não diz qual seria esse valor digno, afirma que essa definição deve ser feita com os sindicatos médicos. Ele critica também o pagamento do programa ser feito por bolsa, que devem ser garantidos contrato e direitos trabalhistas aos profissionais.
Matheus Pessel, Terra
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