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Tuitadas de Eike Batista dariam cadeia em outros países

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Desrespeitando todas as regras de comunicação de uma companhia aberta, o dono do ex-império X usou a ferramenta para passar informações ao público de modo a valorizar suas ações. Na SEC americana, caso daria prisão

Eike Batista ultrapassou todas as regras de comunicação corporativa ao distribuir promessas, no seu perfil do twitter, a um público composto por investidores, especialmente pequenos, os minoritários. Um crime contra a boa fé pública.

No dia 23 de março deste ano, quando as ações da OGX ainda tinham algum valor, cotadas então a R$ 3,00, Eike respondeu a uma indagação do perfil @MinoritariosOGX  com afirmativas de mais investimentos, novos poços de petróleo e “uma grande virada!” em 2014, quando mais ainda a companhia perfuraria. Nesta semana, porém, a OGX emitiu comunicado ao mercado informando o fechamento de seus poços, suspendendo perfurações sem ter encontrado petróleo em escala viável comercialmente.

– Chegam esse ano e já começamos a instalar novos Poços (com maiúscula) ainda em 2013 e continuamos em 2014 iniciando a grande virada!”, comprometeu-se Eike, com todas as letras, a seus seguidores mais de 1 milhão de seguidores. Pode-se dizer assim, sem medo de errar, que pelo menos 1 milhão de seguidores de Eike no Twitter, repita-se, foram colocadas na rota inversa da verdade sobre a OGX por seu fundador e presidente. Ele lugar de crescer, a empresa simplesmente fechou, parou de perfurar.

Nota-se pela comunicação no Twitter que o perfil @Minoritarios demonstra ter confiança em Eike, como era de se esperar. Inicialmente, pede de maneira elegante ao “sócio”, como o empresário foi chamado, para saber se ele “pode se pronunciar”. Uma interrogação bastante leve, que levou Eike a fazer três juras em três frases: mais poços em 2013, mais em 2014 e a grande virada. Mas não foi tudo.

– E aquilo que falou de pegar os vendidos de calça curta, questiona o interlocutor, demonstrando que promessas anteriores já haviam também sido feitas.

– Vai acontecer na hora certa!”, retruca Eike, na prática garantindo que quem vendeu os papeis da OGX iria se arrepender. Outra vez absolutamente fora do protocolo legal das companhias abertas, que demanda comunicações oficiais.

Abaixo, a tuitada de Eike:

(Reprodução: Twitter Eike Batista)

DINHEIRO DOS INVESTIDORES VIROU PÓ – Eike distribuiu mentiras quatro meses antes de admitir oficialmente seu fracasso, e tornar pó o dinheiro investido por quem acreditou nele, com a nítida finalidade de levantar o seu papel. De fazer as pessoas acreditarem que a companhia estava prestes à “grande virada” e na direção aos velhos bons tempos, quando a sua ação chegou a valer R$ 19,00.

Comunicar diretamente ao mercado a perfuração de novos poços demandaria à petroleira, legalmente, um Fato Relevante junto à Comissão de Valores Mobiliários. A ausência desse instrumento de comunicação oficial já é um crime, que pode ser classificado na categoria de inside information. Mas Eike fez ainda pior. A informação que ele transmitiu nada tinha de verdade, podendo até ser um delírio de um homem que quis ser Midas, mas é certamente um gesto para se aproveitar da boa fé das pessoas, uma tapeação grosseira. Isso é crime tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, onde a SEC costuma botar na cadeira espertalhões do mesmo naipe.

TUBARÕES X PEIXINHOS – Aqui, a CVM presidida por Leonardo Rodrigues Pereira informou, sem apontar o motivo específico, que irá abrir investigação sobre as empresas X. A derrocada desse império de papel rebaixou o Índice Bovespa, que regula todos os investimentos do mercado, em 14%, segundo estudo divulgado esta semana. Agora em magérrimos 45 mil pontos, pior marca desde 2007, a Bolsa poderia estar melhor, não fosse o peso de quase 6% do ex-império X na composição de seu principal índice.

Com seu estilo, no mínimo, inusual, Eike está protagonizando o maior escândalo financeiro da sempre conturbada Bolsa brasileira – e no maior vexame empresarial do mundo.

A jornalista Miriam Leitão publicou nesta quinta-feira 4 artigo em que critica duramente a CVM por ter permitido a comunicação direta de Eike com o mercado, “permitindo a especulação”. Ela procurou a autoridade do mercado financeiro, que informou não poder se pronunciar sobre casos de empresas específicas. No Rio de Janeiro, o Ministério Público junta elementos para abrir uma investigação criminal contra Eike. “Os tubarões sempre ganham. Mas e os peixinhos?”, pergunta Miriam. “Quem protege os pequenos investidores?”.

Dessa vez Eike vai se salvar?

Brasil 247

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