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Carlos Latuff: ameaça de morte ganha repercussão internacional

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Al Jazeera repercute ameaças sofridas por cartunista Carlos Latuff. Jornalista recebeu mensagens após fazer provocação por caso de morte de famílias de PMs em São Paulo

Opera Mundi

Cartunista Carlos Latuff concedeu entrevista à Al Jazeera após ameaça de morte (Foto: Reprodução)

A rede de televisão árabe Al Jazeera repercutiu na última sexta-feira as ameaças de morte realizadas contra o cartunista brasileiro Carlos Latuff após sua recente provocação contra a violência da Polícia Militar. Latuff concedeu uma entrevista de cinco minutos à emissora, em que afirmou temer ser assassinado ou agredido, principalmente após receber ameaças explícitas no Facebook.

Os trabalhos de Latuff têm grande repercussão no Oriente Médio e no Norte da África, principalmente após os levantes populares ocorridos no início de 2011 durante a Primavera Árabe. Muitas de suas charges eram levadas em cartazes pelos manifestantes durante os protestos, em especial no Egito, durante a queda do regime de Hosni Mubarak (1981-2011).

As ameaças começaram depois de terça-feira (06/08), quando ele comentou o recente caso da morte de um casal de policiais e de toda sua família em São Paulo – as investigações apontam até agora, como único suspeito, o filho de 13 anos do casal, que também morreu (as investigações cogitam que ele teria se suicidado). “Garoto mata seu pai, que era policial da ROTA…esse menino precisa de duas coisas: atendimento psicológico e uma medalha”, postou.

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Na entrevista, ele afirmou que está acostumado a sofrer ameaças na carreira e que no Brasil isso é comum para quem critica a brutalidade policial. “Essa não é a primeira vez que estou envolvido ao denunciar a brutalidade policial. Tenho recebido ameaças de morte durante minha carreira. Mas agora está mais claro, porque eles estão mais organizados, não só a polícia, mas os fascistas estão organizados em comunidades no Facebook, incitando pessoas a me matarem, me atacarem, agredirem fisicamente. Há uma oportunidade mais objetiva para me atacarem, inclusive nas ruas”, afirma.

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“O problema não é apenas minha segurança, mas mostrar que a brutalidade policial no Brasil é tratada como um tabu. Você pode estar em perigo ou ser morto ao denunciá-la. Ok, podemos dizer que meu comentário foi de mau gosto, mas esse tipo de ameaças de morte mostram que no Brasil isso é algo que você não pode falar”, disse o cartunista. “Meu comentário foi provocativo, minha intenção era desvelar uma discussão. “E acho muito importante abordar esse tema e sobre liberdade de expressão especialmente após os protestos em junho e julho”.

Além da entrevista na AL Jazeera, Latuff recebeu moção de solidariedade na Sérvia e de vários grupos progressistas no Brasil. Na última quarta-feira, ele divulgou uma carta aberta em que falou sobre as ameaças. Ele também pediu o fim da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), de São Paulo, e do Bope (Batalhão de Operações Especiais), do Rio de Janeiro, o que chama de esquadrões de extermínio oficiais, “que só fazem matar pretos e pobres”.

“Isso não é novidade pra mim. Desde 1999, quando fiz meu primeiro protesto contra a violência policial, realizando uma exposição virtual de charges intitulada ‘A Polícia Mata’. Ao longo dos meus 23 anos de profissão como cartunista, já fui detido três vezes por desenhar contra a truculência da polícia brasileira e já recebi inúmeras ameaças, seja de judeus sionistas por conta de minhas charges em favor dos palestinos, seja de extremistas muçulmanos pelas minhas charges sobre a questão egípcia e síria. Portanto, ameaças fazem parte do meu trabalho”.

Antecedentes

Como o próprio cartunista lembra, esta não é a primeira vez que ele tem problemas em razão de sua obra. Latuff, de origem libanesa, já chegou a ser criticado via Twitter pelo governo do Bahrein, em abril de 2012, quando ele criticava a repressão às manifestações pela abertura democrática no país ao mesmo tempo em que a ilha organizava uma etapa do Grande Prêmio de Fórmula 1.

Na ocasião, a IAA (sigla em inglês para Autoridaade para Assuntos de Informação) pediu ao brasileiro que refletisse sobre a “integridade jornalística” e a “falta de neutralidade” de seus desenhos.

“Nós do IAA estamos preocupados com seus desenhos. Embora sejamos defensores da liberdade de expressão, seus desenhos ultrapassam o limites dessa liberdade com acusações infundadas e uma representação desequilibrada dos eventos ocorridos no Bahrein. Muitos de seus cartuns possuem erros jornalísticos e factuais graves. Pedimos que você reflita sua arte através da integridade jornalística”.

Em seu site, o cartunista ironizou o recado: “É curioso que uma instituição governamental como a do Bahrein use termos como ‘integridade’ e ‘liberdade de expressão’, valores que definitivamente não se aplicam ao regime de Hamad [bin Isa al Kalifa, rei do Bahrein]”, rebateu o brasileiro, citando em seguida relatório da Anistia Internacional denunciando violações de direitos humanos por parte do regime.

Em dezembro do ano passado, o Instituto Simon Wiesenthal o colocou em uma lista “dos 10 maiores antissemitas do mundo”, por suas charges contra ações do governo de Israel. A acusação foi prontamente repudiada por Latuff em artigo.