Estudantes rebatem matéria que indicava possível “curso secreto” da USP limitado aos melhores da Fuvest
Prezados,
Em referência à matéria de Chico Felitti, “Todo ano, melhores da Fuvest recebem convite para tentar curso “secreto” da USP”, publicada no último domingo (14/07/2013), nós, alunos e docentes do Curso de Ciências Moleculares (CCM), gostaríamos de esclarecer algumas afirmações equivocadas feitas na reportagem.
Primeiramente, o curso não é secreto. Com ou sem aspas. Ao contrário do que diz a reportagem, o curso consta no manual da FUVEST há mais de dez anos e informações atualizadas sobre a proposta didática e o processo seletivo podem ser acessadas na página oficial do curso.
Aproveitamos para salientar que não é cultivando o anonimato que pretendemos obter destaque dentro da Universidade. Queremos que mais alunos conheçam o curso e que mais pessoas se interessem pela proposta e contribuam para o seu crescimento. Acreditamos na importância da promoção da pesquisa multidisciplinar e sabemos que não faltam alunos na USP com interesse e potencial para tal.
Quanto a ser “convidado” para o curso: anualmente há cartazes de divulgação do processo seletivo por todo o campus, além de um evento de livre acesso na sede da Fuvest, divulgado na página própria da Universidade de São Paulo. O intuito é atingir todos os alunos inscritos em cursos de graduação da Universidade e não somente os melhores classificados no vestibular. Estes apenas recebem uma carta que os convida para o evento de divulgação e os informa do processo seletivo.
Após essa seleção anual, existe uma garantia de que os aprovados poderão seguir suas carreiras originalmente escolhidas no vestibular, caso não estejam interessados na proposta do CCM, ou não se adaptem à experiência.
O curso é voltado para a formação de cientistas multidisciplinares e, portanto, pressupõe interesse em diversos campos da ciência, o que não exclui a possibilidade do ingresso de alunos da área de humanas. A classificação do Conhecimento em grandes áreas é uma separação artificial e o curso visa exatamente diminuir essa divisão, sendo seus alunos um instrumento de comunicação entre as áreas.
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São selecionados aqueles que manifestam o interesse pela proposta de aprender a dialogar com diferentes áreas do conhecimento, adquirindo ferramentas que os tornam capazes de realizar pesquisas de cunho interdisciplinar. Procura-se selecionar os alunos que melhor se adaptem à proposta, o que envolve essencialmente interesse e muita disposição e que não pressupõe genialidade.
É por esses motivos que os seus alunos não devem ser rotulados e estereotipados como “a elite da Universidade”.
Outro ponto que gostaríamos de esclarecer é que o programa não prevê uma “rigidez na grade curricular”, como é mencionado na reportagem. Ao contrário, nos dois últimos anos de sua graduação, o aluno de Ciências Moleculares tem a oportunidade de escolher disciplinas oferecidas em todas as unidades do campus para compor sua formação interdisciplinar. Mais detalhes sobre o programa podem ser encontrados aqui.
A submissão dos projetos de iniciação científica e das propostas de grade dos alunos à comissão diretora do curso (que é mencionada no texto como um “tribunal” de professores) tem a função de evitar que os alunos sejam inconsistentes em suas escolhas. O projeto deve orientar a elaboração da grade, mas não engessá-la. Os projetos e as grades de alguns dos alunos podem ser consultados na página oficial do curso, e dão uma boa ideia de que é bastante possível ter uma formação ampla sem deixar de ser bem direcionada.
Quanto às declarações dadas pelos alunos que “preferiram não se identificar”, a natureza dessas afirmações é duvidosa e, nós, alunos, não temos por que nos manter anônimos, já tendo participado de outras entrevistas e reportagens sobre o curso.
Sabendo da importância da USP na produção acadêmica no país e na América Latina, é necessário que haja transparência e seriedade em relação à sociedade que a sustenta. Anima-nos que mais pessoas saibam de nosso curso e de suas particularidades. Além disso, ficamos ainda mais satisfeitos quando a divulgação é efetiva e feita com clareza. Esperamos que futuramente a pesquisa multidisciplinar não soe como regalia de privilegiados, mas como uma necessidade na formação de qualquer pesquisador.
Atenciosamente,
Viviane Santos (Turma 19)
Thaís Costella (Turma 21)
Tomás Aquino (Turma 21)
Representantes do Corpo Discente
Prof. Antônio Martins Figueiredo Neto
Profª. Regina Pekelmann Markus
Prof. Fábio Armando Tal
Profª. Maria Regina D’Império Lima
Prof. Frank Herbert Quina
Comissão Diretora do Curso de Ciências Moleculares da Universidade de São Paulo