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Fora do Eixo: outro relato de um ex-integrante

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Ex-integrante do Fora do Eixo critica o coletivo, mas procura evitar generalizações e demonstra interesse em que o grupo reveja suas posições

Segue abaixo alguns pontos interessantes do relato de cinco páginas, que pode ser lido na íntegra aqui.

“1 – Opinião: o Fora do Eixo é talvez o que de mais bacana aconteceu na música nos ultimos 10 anos no Brasil, analisando o movimento em seu papel macro, que fez com que diferentes pessoas pelo Brasil com o sonho de viver de cultura se conectem e troquem informações de forma colaborativa e solidária.”

Alejandro Vargas (Reprodução / Facebook)

“Os dias são bem corridos e o trabalho intenso, por conta de sua ansia por crescimento veloz o núcleo mais influente cobra desse “grupo durável das casas” uma rotina de dedicação extrema e exclusiva onde as demais conexões com aquilo que não é a prioridade da rede fica fora de contexto. Dentro dessa rotina as atividades lúdicas eram bem escassas, passei dois meses em São Paulo e saí da casa somente para acompanhar pessoas no aeroporto, no mercado, e em compras, uma vez para o SESC Pompeia para uma produção e durante o congresso Fora do Eixo daquele ano 2011. Bem diferente da vivência em Fortaleza em que a casa tinha uma dinâmica muito diferente e as pessoas que fazem parte da PRODISC viam como fundamental para a saúde mental e física as atividades de descompressão. “

“5 – Marketing FdE: O fora do Eixo tem como grande ativo para apresentação seus números sempre volumosos com o objetivo sempre de parecer maior do que é na realidade. Isso na maioria das vezes é puxado pelo ego do Pablo, que joga os números em alguma conversa externa sem alinhar com a rede e de repente a rede inteira se vê tendo que correr atrás desses números.”

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“8 – Cupula e Intimidação: Posso confirmar que esse receio habitava em mim alem de outros relatos, também tive reuniões de “Papo Reto” e “Choque Pesadelo²”. Confirmando a formação dessa cupula: Pablo Capilé, Lenissa Lensa, Marielle Ramires, Carol Tokuyo e Felipe Altenfelder. Com um poder de persuasão muito maior do Pablo, ele era inquestionável a não ser quando ele desse espaço para isso.”

“10.1 – Roda Viva – A falha do Fora do Eixo é ter caído na armadilha da mídia tradicional e conectar ainda mais a iniciativa NINJA com o Fora do Eixo. Foi um erro tático colocar para representar a parte do Fora do Eixo o cara mais agressivo e com imagem mais desgastada da rede, porque um dos meninos que foram para as ruas não sentaram ao lado do Torturra? Notem que a rede horizontal tem o mesmo representante nacional ha 7 anos e não venha dizer que tem lideres em todos os cantos do Brasil, quem fala em nome de todos no Brasil em 90% dos casos é o Pablo Capilé.”

“10.2 Fora do Eixo – Existe um Fora do Eixo descentralizado de coletivos e iniciativas distribuidas pelo país (em torno de 50 ativas) cheias de boas intenções e legitimidade, com o intuito de distribuir, colaborar e buscar melhoras para seus locais conectados com o resto do mundo, os Alagoanos, Paraibanos, de Rondônia e Roraima, os interiores de Minas, os Baianos, os Cearenses. E por outro lado essa “cupula”, que pelos motivos citados acima foge de tudo que é de mais básico nas ideologias pautadas na rede, por acreditar que os fins justificam os meios (uma rede que disputa meios, diga-se de passagem) se dispõem a todo tipo de jogo sujo “em nome de um proposito maior”, mas que continua sendo o proposito que eles escolhem, que constroi o respeito encima de alicerces que tem medo, intimidação, jogos de interesses e humilhação como reboco, desvalorizando o que ha de mais importante e macro no contexto global que são as relações humanas, vendendo um “novo mundo possível” que na verdade são velhas praticas em pele de cordeiro. “

Abaixo, matéria do Diário de Pernambuco

Fora do Eixo em Pernambuco: ex-representante revela as ações da rede no estado

por Carolina Santos

“O que me move para fazer estas declarações depois de tanto tempo? Medo, vergonha, falta de clareza do que havia acontecido foi o que me impediu. E agora, quando vejo outros colegas se exporem e ver em seus relatos as mesmas vivências pelas quais passei.”

O ex principal nome do Fora do Eixo em Pernambuco, o venezuelano Alejandro Vargas, postou hoje o seu depoimento sobre a rede de coletivos culturais, da qual se desligou no mês de fevereiro. É um relato longo em que Alejandro começa elogiando a rede – “O Fora do Eixo é talvez o que de mais bacana aconteceu na música nos últimos 10 anos no Brasil” – e depois aponta os deslizes do FdE e os motivos de sua saída.

O relato é diferente dos demais já publicados porque mostra o ponto de vista de alguém que estava atuando aqui em Pernambuco. O texto completo é indispensável e está disponível na íntegra aqui, com links para documentos e outros depoimentos.

Abaixo, selecionei alguns trechos do depoimento de Alejandro Vargas.

Pernambuco X FdE

“No ultimo dia do Congresso FdE de 2011, dia em que o Pablo proferiu palavras rancorosas sobre rancor na cena cultural de Pernambuco, por volta das 22h entra na sala um dos meninos do CdC (núcleo de audiovisual que depois se junta com a comunicação e forma a Midia NINJA) e o Pablo pergunta se dava para tirar do ar a parte em que ele falava de Pernambuco ele afirma e o Pablo pede pra tirar o video do ar, so que já era tarde.”

Financiamento e nome sujo na Serasa:

“Por outro lado, faz parte da prática cotidiana de algumas Casas Fora do Eixo, como São Paulo e Belo Horizonte, a utilização dos cartões de quem mora na casa, assim tem um poder de compra maior. Para explicar: tem a grana que vem de projetos, tem a grama que vem de eventos, banquinhas etc, tem o investimento em serviços (trabalho) de quem faz parte da rede (o Card) e tem também os créditos de cartões de quem faz parte da rede e parceiros próximos esse nunca entra na fala de quem explica a capacidade de realização, porque só são pagos alguns cartões. Por exemplo meu caso, meu cartão foi emprestado para a compra de passagens dos palestrantes do congresso em São Paulo, 2011.

Em Fortaleza tínhamos disponibilizado o cartão para ser um ativo econômico da “casa” para as necessidades coletivas. Ao pedir para ver a possibilidade de pagar a fatura do cartão, para que ele continue ativo, o que escutei foi um NÃO bem grande e um “eu não tenho nada a ver com isso, vocês fizeram isso em SP, aqui é outra coisa. Não podemos assumir esse compromisso.” Fomos, eu e minha colega rebatidos e não houve diálogo para se pensar numa outra forma, sobre como poderíamos resolver. São Paulo não comentou nada sobre o assunto. Não tínhamos salário, logo, a dívida do cartão entrou para o SPC Serasa e até hoje tem um nome sujo por lá.”

Marketing FdE:

Em 2012 durante as madrugadas a equipe de mídia das casas fez uma campanha silenciosa de votos para a Gaby Amarantos no VMB desse ano. Todas as noites o núcleo de comunicação tinha que votar no site da MTV para que a Gaby saisse vencedora naquele ano..Não posso afirmar quanto ao peso desses votos no resultado final, mas ela foi real. Já para o Prêmio Virada Sustentável onde o Pablo era indicado o resultado não foi o mesmo, mas ele ficou entre os 10, link aqui, a equipe da mídia mudava de IPs para contar votos, isso por várias madrugadas. Então se o Fora do Eixo valora tanto um premio na MTV, não se enganem, se a VEJA falasse bem do Fora do Eixo eles compartilhariam como se fosse um trofeu! Provas: Desqualificaram o relato da Beatriz e Laís por conta da materia no Blog da VEJA, link aqui, mas compartilharam a reportagem de O Globo quando a fala lhes é favorável, link aqui

Favorecimentos, tramas e influências:

“Em 2011 Ivan Ferraro, Talles Lopes, Pablo Capilé e Felipe Altenfelder e mais um colaborador vieram ao Recife participar do Porto Musical, os dois ultimos não tinham hospedagem pelo evento e fiquei com a responsabilidade de providenciar essa logística. um pouco antes de recebe-los recebi uma ligação de São Paulo falando que deveria arrumar hospedagens mais “hypes” para 3 meninas que estavam chegando, mas que isso não deveria ser relatado de forma alguma. O Pablo e Felipe falaram que essas meninas vinham para o evento para fazer articulações, elas eram novas no processo, o pedido de sigilo era para não haver distorções a respeito da finalidade delas nessa viagem. Elas de fato vieram com esse intuito, mas não somente, 2 delas já tinham se relacionado com os dois e essa viagem também serviu de pretexto, mas não podia ser falado em rede.”

“Em julho de 2011 tivemos um encontro do PAN (ponto de articulação nacional) em Brasília para reunião com Secretarias do MINC. Naquela viagem estavamos presentes muitos homens e uma Mulher, a maioria ficamos hospedados na casa de um parceiro e a mulher em outra casa. Nessa viagem rolou o papo que deveria ficar ali, sobre “fazer a entrega para a rede”, compreenda “tem o cara ou menina mais feios, mas que trampam muito” e os que tem mais “chances de se dar bem”, só que não da pra “pagar de gatão” tem que fazer a entrega para alimentar o estimulo de quem é menos provido de beleza, inclusive de fora da rede, para trazer para dentro.

Depois disso o Pablo começou a se gabar como um jovem de seus 20 e poucos anos, de suas aventuras sexuais nas viagens de articulação, foram surgindo relatos e nomes, até que um dos presentes duvidou de um desses nomes e o Felipe (a pedido do Pablo sempre) tira seu computador, mostra arquivos para quem indagou e alguns outros olharam os arquivos chocados com o conteudo, eu não olhei por isso não posso afirmar se eram fotos, videos ou outros, rolou o comentario: “se alguém pegar essa pasta tamo fudido!””

Política de descredibilização e Esvaziamento

“A política do esvaziamento é praticada depois de um parceiro corta relações ou um membro da rede sai. Essa politica compreende as seguintes ações:

7.1 – Nâo há comunicado oficial de que alguma pessoa não faz mais parte da Rede, até hoje alguns membros me procuram como se eu fosse da rede. Eu saí em Fevereiro. Isso é para não despertar a curiosidade dos motivos;

7.2 – Para o grupo pequeno que esta na casa se desqualifica completamente as pessoas que saem, exemplos:
O que se sentia empregada domestica, a patricinha que não queria dividir os sapatos, a filhinha que não aguentava a distancia da mamãe, o playboy… Aqui vai uma prova desse procedimento

7.3 – Ninguém mais curte (em redes sociais) ou fala com os que saem. Isso simboliza um medo da cúpula de que quem fica ouça novas perspectivas a respeito do que acontece na rede.”

Mea culpa

Sim, claro, afinal não to aqui para me fazer de vítima do processo, afirmo que cometi sim em anguns momentos atos de desqualificação de integrantes do coletivo em que participava. Atos que sempre discordei internamente quando eram cometidos contra mim e que em um determinado momento repliquei. Eu acreditei que por algo maior teria de ser assim, minha colega sempre rebateu isso em mim e eu argumentei ao meu favor. Sinto vergonha e o mínimo que posso fazer neste momento é me retratar publicamente às pessoas com quem fui severo e tratei com dureza em excesso. Para vocês minhas sinceras desculpas e a certeza de que a reflexão dessas atitudes fazem parte do meu dia a dia.

com advivo