Policias militares não se intimidam com fotografias e filmagens e espancam brutalmente uma estudante. Manifestantes que tentaram impedir a covardia foram afastados: “Não atrapalha o trabalho da polícia”. Imagens da agressão estão correndo o mundo
A mãe da estudante de cinema Rani Messias, 19, agredida por policiais militares durante protesto no centro do Rio de Janeiro na noite de terça-feira (27), afirmou nesta quarta (28) que a filha foi vítima de truculência.
“Que Estado é esse? Os policiais estão nas ruas para dar proteção a todo cidadão, e não para fazer um absurdo desses”, disse Leslie Messias, mãe de Ranii.
Alguns dos manifestantes tentavam impedir a agressão e eram também afastados com violência. No meio da confusão, um dos PMs disse: “Não atrapalha o trabalho da polícia”.
Vídeo:
A PM informou que a Coinpol (Corregedoria Interna de Polícia) “vai analisar cada uma das imagens envolvendo a atuação de policiais militares a fim de identificá-los e ouvi-los. Caso fique comprovado que houve excessos, estes serão punidos”.
De acordo com a mãe, a filha estava nos arredores da 5ªDP (Centro) filmando e fotografando o protesto para um projeto para a faculdade que cursa em Londres quando foi atingida pelos policiais. “Ela não fez nada contra os policiais. Estava apenas fotografando, quando em determinado momento tirou umas fotos de policiais que estavam do outro lado da rua. Foi aí que outros policiais vieram para cima dela daquela forma que está no vídeo”, disse. “O pior ato dela foi protestar contra a corrupção que domina esse país.”
A jovem foi detida e levada para o interior da distrital pelos PMs, fato que aumenta ainda mais a indignação da mãe. “É um completo absurdo. Batem na minha filha e ela que vai presa. Não sei que mundo é esse”, disse. “Se um pai bate numa filha é preso, mas os policiais podem fazer o que querem. Na ditadura pelo menos faziam escondido. Hoje a coisa está tão escandalosa que se faz a olho nu, em qualquer horário.”
De acordo com a amiga da vítima, Julia Del Penho, 23, as agressões a deixaram em estado de choque. “Pelo que eu conheço da Rani, mais que a agressão física, doeu nela essa violência psicológica de ter sido vítima de policiais que agiram fora da lei. Ela ficou em estado de choque e ficou com o braço machucado em razão das agressões dos policiais, felizmente nada grave”, afirmou.
Apesar da lesão, a jovem decidiu voltar ao “Ocupa Cabral” — acampamento de manifestantes em frente à casa do governador do Estado – ainda na terça-feira. “O movimento é lícito. Eles estão tentando fazer algo que é para o bem de todos nós. Eu preferiria que ela não ficasse mais lá”, disse a mãe. “Não pelas pessoas que lá estão com ela, mas eu não posso mais confiar na polícia.”
A estudante passou por exame de corpo de delito na manhã desta quarta-feira no IML (Instituto Médico Legal). Ainda de acordo com a mãe da estudante, a intenção é processar os policiais que cometeram a agressão.
com Felipe Martins, UOL-RJ. Indicação do leitor Carlos Gomes