Sinal da escalada da homofobia, grupo russo de extrema-direita cria em rede social “safári” para “caçar” gays
A atuação é simples e efetiva. O grupo utiliza o Vkontakte, rede social mais importante da Rússia, para anunciar a data dos “safáris” (como chamam a busca aos “criminosos”) e por módicos 250 rublos (R$ 18), qualquer um pode participar da “caça a pedófilos e a homossexuais”. Para os que estão ainda mais motivados pela “nobre causa de proteger as crianças russas”, o grupo Occupy Pedofilia faz um desconto – três caças por 600 rublos (R$ 43).
O Occupy Pedofilia, grupo russo de extrema-direita, é efeito direto da escalada da violência contra a comunidade LGBT na Rússia. Recentemente, foram aprovadas leis regionais e federais para proibir a propaganda de relações consideradas “não tradicionais” pelos parlamentares russos. A popularidade dos grupos neonazistas vem crescendo paralelamente ao sentimento homofóbico no país e a Internet tem aparecido como terreno fértil para a divulgação das ideias dos movimentos neonazistas.
No mês passado, entidades de direitos humanos acusaram Occupy Pedofilia, que se articula principalmente através das redes sociais, pela morte de um jovem gay do Uzbequistão. Apesar das fotos em que o jovem aparece ensanguentado e cercado de sorridentes membros do grupo Occupy, além das inúmeras postagens destacando o “heroísmo” dos extremistas, ninguém foi preso. Por medo de represálias, a maior parte das vítimas do grupo não denuncia à polícia.
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Fundado pelo ex-skinhead Maksim “Tesak” Martsinkevich em 2012, logo após ter cumprido uma pena de três anos por incitação a crimes de ódio étnico, o Occupy Pedofilia explica em sua página oficial que o objetivo do movimento é “criar um banco de dados de pedófilos” para que “qualquer um possa conferir se tem algum colega, professor ou médico” que se encaixe no perfil-alvo do Occupy. Em uma das páginas do grupo, há mais de 160 mil seguidores.
Os membros do grupo Occupy dedicam seu tempo a encontrar homossexuais ou supostos pedófilos através da Internet e tudo acontece como nos habituais flertes virtuais: frases elogiando a foto do perfil, estabelecimento de uma amizade, troca de telefones e finalmente o encontro real.
Na hora do encontro, a surpresa. A vítima do trote é forçada a confessar para as câmeras que é um pedófilo ou um homossexual (para os “justiceiros russos”, os termos se equivalem) e logo em seguida passam por diversos tipos de humilhação, como ter que tirar a roupa, falar para os “entrevistadores” segurando uma banana, passar maquiagem e até mesmo beber urina. Em muitos dos casos, há também covardes agressões.
Nos vídeos postados na Internet pelo grupo e nas discussões nos fóruns (abertas a qualquer internauta), os ataques mais comuns são aos “viados” – “pidor”, como chamam vulgarmente em russo, numa diminuição do termo “pederasta” – e não aos pedófilos, como anunciam.
Em um dos casos que ganhou maior destaque, o ativista gay Artem Gorodilov, da cidade russa de Kamensk-Uralsky, foi sequestrado no meio da noite e levado até um cemitério onde está enterrado um outro ativista que se suicidou depois de ter sua sexualidade exposta pelo mesmo grupo neonazista.
Na noite em que foi sequestrado, Artem foi obrigado a correr em frente de um carro enquanto carregava uma cruz que havia sido arrancada do próprio cemitério. A Igreja Ortodoxa fez uma denúncia à polícia – por causa da cruz destruída -, os neonazis foram chamados a depor, mas soltos em seguida. Depois de ter sido interrogado pelas autoridades, um dos neonazis atacou Artem outro vez e jogou urina em cima do jovem.
Sandro Fernandes, Opera Mundi