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Tio de menino suspeito de assassinar família contesta versão da polícia

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Tio, parentes e amigos de garoto suspeito de assassinar família em São Paulo questionam versão da polícia

Durante velório na tarde desta terça-feira (6), no Cemitério Gethsemâni na Anhanguera, o empresário Sebastião de Oliveira Costa, 54, tio do adolescente Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, discorda da versão apontada pela polícia.

O garoto é suspeito de ter assassinado ontem o pai, o sargento da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa da elite da Polícia Militar, Luís Marcelo Pesseghini, a mãe, a cabo da PM Andreia Regina Bovo Pesseghini, além da avó Benedita de Oliveira Bovo, 65, e da tia-avó Bernardete Oliveira da Silva, 55,

“Ele tinha até a roupinha da Rota. Queria ser policial igual o pai. É mentira o que estão falando aí. Ele não sabia nem ligar o carro. Outra coisa, ele é destro e quem atirou era canhoto. Não dá para entender. Eu e família não acreditamos que ele fez isso.”

PM diz que Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini é o principal suspeito do extermínio em São Paulo (Foto: Arquivo)

Ele diz não acreditar que ele tenha atirado, “de jeito nenhum”. Acha que o que aconteceu é retaliação por parte de criminosos. “O policial prende o ladrão, e o ladrão vem e mata o policial. É isso aí que vem acontecendo”, disse.

O tio está inconformado. “[Marcelo] Era uma criança sossegadinha. A criança não tinha problema nenhum, era normal. Eu entrei na casa junto com a polícia depois do crime. Estavam todos de costas com tiros na cabeça. Todos na mesma posição, os cinco. Só a minha sobrinha, a Andreia, que estava de joelhos. Aí eu achei estranho.”

Ligação suspeita

O tio diz ter atendido o telefone duas vezes na casa do garoto enquanto estava com a polícia ontem [na segunda-feira] pela manhã. “A pessoa falou ‘eu sou da escola e eu estou preocupada com o Marcelinho, aconteceu alguma coisa com ele?’. Perguntei quem estava falando. Daí ela não respondeu e disse: ‘Por que o Marcelinho não veio para a escola hoje?'”, contou o tio.

“Desliguei o telefone e, dois minutos depois, outra pessoa ligou fazendo a mesma pergunta. ‘Aconteceu alguma coisa com o Marcelinho?’ Eu falei, quem é você? E a pessoa refez a pergunta: ‘Por que o Marcelinho não veio para a escola hoje?’. Como disseram que ele foi para a escola?”, questiona o tio.

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“Ele não sabia dirigir, imagina usar uma arma. Só queria jogar videogame. Era sossegadinho. Não se envolvia em briga, confusão.”

A polícia diz que o menino pode ter dirigido o carro da mãe, até a escola, no dia do crime.

Sebastião disse que o adolescente era “pequenininho”. “O próprio capitão falou ontem para mim. Se uma criança dá um tiro, a arma cai no chão, é muito pesada. O menino é destro e a arma estava na mão esquerda. Ele tava caidinho, com a arma embaixo da barriga dele. Como teria atirado na nuca?”

Amigo do sargento

O engenheiro agrônomo Marcos [que não quis fornecer o sobrenome], amigo do sargento da Rota assassinado, que se formou com ele em 2003, diz que participou de vários churrascos na casa de Luís Marcelo e diz que a família era “sossegada”.

“Uma excelente pessoa. A corporação perdeu um excelente prestador de serviço. O lema dele era sempre um nome a zelar. Como um filho adora o pai, adora a vó, adora a mãe e iria fazer isso. Impossível. O moleque sempre foi tranquilo.”

Sandra Alves Feitosa, sobrinha de Bernardete, diz que era uma família unida e não entende como pode ter acontecido dessa forma. “Não quero acreditar, mas afirmo que, se foi a criança que fez isso, foi por uma força do mal. Uma criança muito inteligente”, diz

Ela disse que todos levavam uma vida normal. “Dá impressão que foi vingança, alguma coisa desse tipo. Uma coisa armada, sabe. Tudo planejado. Como abre a porta, nem um sinal de roubo, não levaram nada. Uma coisa muito sinistra.”

Escola

C.R.B.O.C., 14, amigo de classe de Marcelo, disse durante o velório que o garoto era meio brincalhão, não era de brigar e falava bastante de policia. “Ele dizia que queria ser policial, queria pegar os bandidos. Ele falava que queria ser da Rota.”

C. disse que Marcelo perguntou ontem para a professora de inglês Ana Paula se ela, quando começou a dirigir, já tinha deixado o carro morrer. “Depois a professora pediu para ele dar um abraço nela.”

C. afirmou que o adolescente estava quieto ontem. “Ele ficou distante da gente e não entendi isso. Estava muito estranho. Nem participou de um trabalho em grupo e foi embora que nem vi.”

“O Marcelo era muito tranquilo para fazer isso. Ele não seria capaz “, diz outro amigo de classe.

Marivaldo Carvalho, UOL