A ausência de educação sexual faz com que qualquer coisa fora da heteronormatividade fundamentalista vire alvo de especulações e fantasias
Eu não sei tanto quanto gostaria de saber sobre diversidade sexual. E não imagino que este quadro esteja 100% preciso. Simplificações sempre são um grande risco. Em sexualidade, um enorme risco. E às vezes precisamos recorrer à linguajar mais popular para passar uma ideia.
Mas precisamos avançar nessa discussão. Eu leio muita coisa nas áreas de comentários, quando há posts sobre sexualidade, que sei serem conceituações inadequadas.
Às vezes parecem provocações, mas no mais das vezes parecem desconhecimento mesmo. É o que dá, acho, não haver educação sexual nas escolas. Além de que as pessoas não buscam ler, se informar. Ficam naquele papai-mamãe convencional, como se homens e mulheres fossem clones infinitos de Adão e Eva, e qualquer coisa fora da heteronormatividade fundamentalista vira alvo de especulações e fantasias.
Vejo pessoas confundirem travestis (que com frequência são homossexuais e se identificam com o seu gênero biológico) com transexuais, que são pessoas com corpo distinto de sua identidade de gênero (o que a pessoa sente ser.) Transexuais são transgêneros também, mas são em geral heterossexuais em sua identidade, não são, no mais das vezes, “gays” ou “lésbicas”.
As pessoas também confundem orientação sexual (hétero, bi, homo), que é algo inato, com expressão de gênero (mais masculino, mais feminino), que são comportamentos influenciáveis e em muito aprendidos. As pessoas falam como se não houvesse homens héteros pouco “másculos” e mulheres hétero menos “femininas”.
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Nesse carnaval de desinformação, em geral se esquece que dois homens querendo adotar uma criança estão querendo ser dois pais, não um pai e uma mãe. Recíprocas verdadeiras para lésbicas.
Muito comum também é as pessoas imaginarem coisas ilógicas, como esperar que haja mais LGBTs em uma classe social que em outras. O que acontece é que LGBTs mais pobres são mais auto-invisibilizados por uma série de coisas. Na verdade, há tantos LGBTs pobres, que sofrem duplo preconceito, que uma melhor percepção disso diminuiria o desinteresse e omissão tão típicos dos políticos atuais (e dos “politizados” atuais.) Mas isso é ainda outra estória, o que eu quero debater aqui é a diversidade sexual que existe.
E há também questões práticas de cotidiano. Que artigo ou pronome usar para travestis (que não são transexuais)? O da expressão de gênero, claro. Em geral, homens travestidos, por exemplo, apreciam que se lhes reconheça a expressão feminina. Na dúvida, não imponha a sua visão de mundo, mas respeite o desejo dos outros.
Apesar de eu ter tentado ser cuidadoso, posso ter errado. Agradeço comentários e correções.
Gunter Zibell, jornal CGN