Redação Pragmatismo
Especial 11/Set/2013 às 12:17 COMENTÁRIOS
Especial

Noruega: o que precisa um país quase perfeito?

Publicado em 11 Set, 2013 às 12h17

Fiordes azuis, alta qualidade de vida, problemas de luxo. Em plenas eleições, são poucos os motivos de reclamação na Noruega. Mas o que precisa um país que, aparentemente, já tem tudo?

noruega país perfeito
Eleição norueguesa expõe dilema de país quase perfeito

Por entre as árvores, a vista do jardim dá para o fiorde de Trondheim. A água brilha dourada, o sol se põe lentamente. A temperatura esfria no fim de tarde de verão na pequena cidade norueguesa de Stjordal, a cerca de 400 quilômetros de Oslo.

As luzes se acendem lentamente nas belas casas do conjunto habitacional Geving, enquanto as moscas invadem o jardim à procura de alimento. Apoiando-se no parapeito da varanda, o morador Rune Vist toma um gole de cerveja enquanto olha para o fiorde.

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“Viver aqui é melhor para a família”, diz. “Um lugar mais bonito para as crianças. Além disso, aqui é mais tranquilo e relaxante – mais qualidade de vida.”

O corretor financeiro de 41 anos trabalha num grande banco norueguês em Trondheim. Todas as manhãs, ele pega o ônibus para a cidade. Por volta das 16h, retorna para casa.

Depois de terem vivido por quase dez anos em Oslo, Rune e a esposa, Nina, se mudaram para o novo lar com as duas filhas pequenas. Uma casa pré-fabricada: ensolarada, moderna, com grandes fachadas de vidro, interiores espaçosos e pé-direito alto. No total, 250 metros de área residencial distribuídos em três andares – um espaço grande, mas que tem seu preço.

“Nós pagamos 6 milhões de coroas [750 mil euros] pela nossa casa”, explica Nina. Os preços de imóveis de uma pequena cidade norueguesa podem facilmente competir com o nível de grandes cidades europeias. Mesmo assim, há construções por todos os lados em Stjordal.

“Atualmente, a imigração de mão de obra na Noruega é muito alta”, explica Rune Vist. “Há muito poucos imóveis. Por isso, vale a pena, no momento, comprar casas para depois alugá-las.”

Problemas de luxo

A maioria dos noruegueses, no entanto, prefere investir em sua própria casa. Como a família Vist e seus vizinhos, um casal jovem com duas crianças, que já comprou a segunda casa num curto espaço de tempo. Mesmo as famílias mais jovens têm acesso fácil a empréstimos na Noruega – só é preciso apenas um pouco de capital, além de um contrato de trabalho.

E, na Noruega, trabalho é o que não falta. A taxa de desemprego gira em torno dos 3% – em Stjordal, ela é ainda menor. Os vizinhos, Atle e Lina Eikedal, estão empregados. Ela é comissária de bordo, ele trabalha na administração do aeroporto em Trondheim. Depois de um dia duro de jardinagem com a ajuda do pai de Atle, Stig Eikeland, o cortador de grama é guardado num trailer.

Casas de financiamento fácil, quase nenhum desemprego e quando se trata da mais alta qualidade de vida na Europa, na maioria das vezes, a Noruega ocupa a primeira posição. Em plenas eleições, o panorama leva à seguinte pergunta: o país ainda tem algum problema? Segundo Stig Eikeland, sim.

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“Nossas estradas são ruins, o sistema ferroviário também”, reclama irado o aposentado, que lembra também dos pedintes, que, segundo ele, deveriam desaparecer das ruas. “E uma porcentagem maior do fundo petrolífero deveria fluir para a seguridade social. Há dinheiro suficiente. Por que não investimos aqui no país?”

Buracos nas ruas, alguns pedintes ilegais do Leste Europeu e falta de consenso sobre quanto dinheiro deve ser economizado para tempos ruins em vez de aplicá-lo imediatamente no sistema social – problemas que seriam pequenos, senão ignorados, em outros países .

No entanto, na Noruega, esses foram os temas centrais da campanha para as eleições parlamentares desta segunda-feira (09/09). Para muitos noruegueses, o atual primeiro-ministro, Jens Stoltenberg, do social-democrata Partido dos Trabalhadores, é considerado demasiadamente hesitante.

Embora ele tenha deixado uma boa impressão após o massacre de Utoya, há dois anos, atendo-se prudentemente à sociedade aberta dos noruegueses, em termos de infraestrutura e política social ele deixou de cumprir muitas expectativas.

Petróleo em debate

Muitos noruegueses gostariam de ver o sistema social fortalecido através de um maior investimento de dinheiro proveniente do fundo estatal do petróleo. Nele são aplicadas as receitas provenientes da prospecção de gás natural e petróleo ao longo da costa da Noruega. Um tema que Rune Vist conhece bem.

“O fundo estatal de petróleo é dividido em duas partes. Uma pequena parcela é investida internamente e forma o seguro público de pensões e segurança social. A outra parte maior é usada somente para investimentos no exterior”, explica.

Quando ainda trabalhava em Oslo, Rune Vist assessorava grandes empresas em seus investimentos, entre elas, o fundo estatal de petróleo para o exterior.

E, nesse contexto, não se trata de somas pequenas. “Atualmente, o fundo de petróleo possui de 1% a 2% de todas as ações na Europa”, conta Rune Vist. “A Noruega é o maior investidor público do mundo.”

Calcula-se que o fundo disponha, no momento, de 560 bilhões de euros. E os ativos não param de crescer, já que são bem investidos.

“A matriz de investimentos está hoje em 60% de ações, 35% de títulos e 5% de imóveis”, diz o especialista financeiro. “Nos últimos tempos, o fundo de petróleo comprou, em grande estilo, imóveis em Londres, na Suíça e nos EUA. Em Londres, foi comprada uma parte da Regent Street, uma grande rua de compras.Na Suíça, foi comprada a sede do Credit Suisse e nos EUA, alguns shopping centers.”

Como investidor de grande visão, a Noruega é da opinião que é sensato investir em imóveis, segundo Rune. Para ele, o seu país deve ter alguma razão, afinal, ele mesmo acaba de investir muito dinheiro numa nova propriedade – para um futuro calmo e despreocupado próximo a um fiorde.

Deutsche Welle

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