Cidade com pior IDH do Brasil receberá dois médicos cubanos pelo programa Mais Médicos. "Espero que os cubanos fiquem", diz prefeito
A cidade de Melgaço, no Arquipélago de Marajó, no Pará, teve nesta terça-feira (3) a confirmação de que receberá dois médicos cubanos pelo programa Mais Médicos, do governo federal. O prefeito Adiel Moura (PP) se disse “esperançoso” com a chegada dos cubanos e afirmou que a preocupação da prefeitura é trabalhar para garantir que os médicos se adaptem e permaneçam na cidade.
Melgaço, que está entre as 701 localidades que não foram escolhidas por nenhum brasileiro na primeira fase do programa, ficou conhecida recentemente por ter o menor IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do Brasil.
Para chegar a Melgaço é necessário encarar no mínimo 16 horas de barco, partindo da capital Belém. Para o prefeito, o fato de o município estar em uma região isolada é uma das razões para a falta de interesse dos profissionais.
“Estamos confiando nesse programa do governo. Acreditamos que são profissionais preparados, qualificados. Só depois poderemos avaliar, mas agora temos que acreditar. Nós que estamos aqui no final, na ponta, temos muita dificuldade em encontrar médico. Quando eles vêm, acabam vindo um período muito curto. Então espero que seja um trabalho com reflexo constante, que os médicos fiquem e cumpram aquilo que foi acordado”, disse.
Os 400 cubanos que atualmente estão em fase de treinamento no Brasil começarão a trabalhar no próximo dia 16. Os contratos têm validade de três anos.
De acordo com o prefeito, há atualmente quatro médicos atuando em Melgaço, cidade que tem quase 25 mil habitantes. Por conta do isolamento, no entanto, dois desses médicos ficam apenas dez dias por mês na cidade; os outros dois trabalham durante 15 dias. “Foi o contrato que fizemos, porque só aceitaram ficar por esse período. Então a gente trabalha por rodízio: temos médico todo dia na cidade, mas nem todo dia temos dois médicos atendendo”, disse.
“Não sei se por ser distante, por ser Marajó. O fato é que não conseguimos médicos que queiram ficar mais tempo por aqui”, disse.
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O prefeito afirma que o município fará o possível para garantir que os médicos cubanos permaneçam em Melgaço. “A contrapartida do município é dar hospedagem e alimentação para os profissionais. Então estamos nos preparando. É uma preocupação: dar o mínimo de conforto para que não queiram deixar a cidade”, disse Moura. “Não sei se vão se adaptar ao clima, à nova cultura. Pode ser que tenham alguma dificuldade com o idioma, mas acredito que isso não será um problema.”
Moura diz ainda que os profissionais não encontrarão problemas relacionados a estrutura. “A estrutura que a gente tem dá para trabalhar. O problema aqui é a falta de médico”, afirmou.
Os quatro profissionais brasileiros que trabalham em Melgaço em esquema de rodízio recebem cerca de R$ 1.000 por dia trabalhado, “um salário muito alto em uma realidade pobre”, de acordo com o prefeito.
“Por isso não conseguimos entender a dificuldade para um médico brasileiro escolher a nossa região. O argumento que os médicos dão é de que acaba não compensando. Podem trabalhar em Belém e em cidades vizinhas, por exemplo. Por mais que não ganhem a mesma coisa, acaba compensando por que não têm esse deslocamento.”
Pior IDH
Em uma escala que vai de 0 a 1, a nota obtida por Melgaço no IDHM foi de com 0,418, o que faz com que o município figure na faixa de áreas com muito pouco desenvolvimento humano. A maior parte da população (77,82%) vive em área rural.
O índice leva em conta dados dos censos do IBGE de 2010 em três dimensões: educação, saúde (expectativa de vida) e renda. A escala varia de 0 a 1 (quanto mais próximo do 1, mais desenvolvido) e está dividida em cinco faixas (de muito baixo a muito alto desenvolvimento).
Para o prefeito Adiel Moura, os médicos cubanos têm “muito a contribuir” com o município “neste momento crucial com a questão do IDH”. Moura, no entanto, diz não acreditar que Melgaço tenha de fato o pior IDH do país. “O IDH usa uma referência de 2010. Eu tenho toda certeza de que nosso município não está nesse patamar de pior. Nós que moramos aqui sabemos que não somos o pior do Brasil”, afirmou.
Débora Melo