O baixista do Charlie Brown Jr viu dois amigos se suicidarem antes de tirar a própria vida com um tiro na boca
Um tiro na cabeça, trancado num quarto, a mulher grávida de cinco meses. O suicídio do baixista do Charlie Brown Jr., Champignon, acontece seis meses depois da overdose de drogas de seu amigo e líder da banda, Chorão.
Luiz Carlos Leão Duarte Junior, o Champignon, tinha montado A Banca. Fazia turnês em homenagem a Chorão. O último foi em Santos, para levantar fundos para a pista de skate que Chorão construiu na cidade.
Era uma relação clássica de amor e ódio. Os dois se conheceram crianças em Santos, montaram o grupo nos anos 90, ralaram, fizeram sucesso. Em 2005, Champignon saiu por causa do acúmulo de discussões causadas pelo temperamento intempestivo de Chorão, que piorava com as drogas. Voltou em 2011. Num show no Paraná, Chorão, num de seus rompantes, pegou o microfone e passou-lhe uma esculhambação em público, num dos momentos mais estúpidos da história da música.
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No desabafo, Chorão falava em “400 mil reais” e que o músico havia retornado para a banda por causa de dinheiro. Grana: é por isso que 99,9% dos grupos terminam — e por isso se juntam, também. Como resumiu Paul McCartney no último disco dos Beatles, “you never give me your money, you only give me your funny paper”.
Ficou visivelmente abalado com a morte de Chorão. Era um baixista talentoso. Reconhecia no amigo um irmão. Ambos sabiam que funcionavam melhor na companhia um do outro. Em sua A Banca, abandonou o baixo para assumir o posto de cantor, numa espécie de troca de identidade com Chorão.
Champignon morava num apartamento no Jardim Caboré, região do Morumbi. Voltava de um jantar com a mulher. De acordo com testemunhas, a câmera do elevador registrou o instante em que ele passou dois dedos na garganta enquanto subia para o décimo andar.
Ninguém se mata de uma hora para outra. É uma ideia que amadurece. O suicídio de outro colega, o guitarrista Peu, em maio, não ajudou no quadro. Na época, Champignon comentou: “Os dois perderam a fé. Quando perdem a fé, perdem a vontade de viver. Eu acho que as pessoas, em algum momento da vida, perdem a fé. Independentemente se morrem por droga, ou enforcadas. Se perdem a vida sem culpa de ninguém, acredito que em algum momento perderam a fé”.
Champignon já havia perdido a fé antes do tiro na madrugada de segunda. RIP.
Kiko Nogueira, diário do centro do mundo