PSTU é contra a vinda de médicos estrangeiros para atender à população abandonada das cidades onde nenhum médico brasileiro quis ir trabalhar
Matéria publicada no portal do PCO critica a rejeição do PSTU ao Mais Médicos, programa que direciona profissionais de saúde para regiões precárias do Brasil. Confira abaixo.
PSTU e a direita não querem mais médicos
O PSTU é contra a vinda de médicos estrangeiros para atender à população abandonada das cidades onde nenhum médico brasileiro quis ir trabalhar. Num texto de 3 de junho, em seu site, com o título “Sobre a intenção do governo federal de importar médicos para o SUS”, diz o PSTU:
“O PSTU é contra a importação de médicos, inclusive cubanos, porque compreende que este projeto de governo é um ataque aos direitos trabalhistas, é altamente precário e porque não representa uma medida estrutural para construção do SUS.”
Curiosamente, a direita também anda preocupada com direitos trabalhistas ultimamente. Ficou famoso o texto “Avião negreiro”, de Eliane Cantanhêde, na Folha do dia 25 de agosto. Prevendo objeções que o PSTU não previu, o texto todo vem depois de um “mas”. Por quê? Porque a primeira frase do texto diz: “Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo estrangeiros, até populações que não têm médicos.” E depois vem o “mas”, em que ela argumenta que os médicos cubanos são escravos. A escolha do título, pelo menos, deixa escapar uma verdade, nesses aviões tinha muitos negros. Em Cuba há muitos médicos negros, em conformidade com o perfil étnico do país.
Outra vantagem da Eliane (aquela da “massa cheirosa”) é que ela não precisa fingir que está defendendo os trabalhadores. No último parágrafo ela deixa bem claro a quem ela se dirige:”Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas.” Ela se dirige a quem contrata, não a quem é contratado. Eliane é coerente, defende a burguesia e portanto é contra a vinda de médicos cubanos.
É claro que Reinaldo Azevedo também se juntou à Eliane e ao PSTU. Basta citar aqui um dos extenuantes títulos do blogueiro da Veja para vermos a coincidência: “Mão de obra análoga à escravidão, sim! Ou: Estatuto do Estrangeiro será usado para manter cativos os médicos cubanos. Ou ainda: A única mercadoria que Cuba comercia é gente! E o governo do PT compra”. Ufa!
Eliane Cantanhêde, Reinaldo Azevedo, PSTU e muitos outros na imprensa burguesa estão contra a vinda de médicos estrangeiros, particularmente cubanos.
Ataque aos trabalhadores
Mas o PSTU, diferentemente de Reinaldo Azevedo e Cantanhêde, precisa maquiar seus argumentos para que eles pareçam de esquerda, porque, por incrível que pareça, eles ainda têm uma base de esquerda e ainda tem gente, até agora, que leva a sério o que esse partido diz. E é preciso continuar a manipular esse pessoal.
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Daí a tese do PSTU de que importar médicos seria um ataque aos trabalhadores. O que o PSTU está fazendo quando diz isso é defender reserva de mercado para os médicos daqui, reproduzindo os argumentos do Conselho Federal de Medicina (CFM). É uma defesa do corporativismo dos médicos contra a sociedade.
Mas como esperam que o trabalhador de uma cidade sem nenhum médico acredite que finalmente ele ter um médico é um ataque a ele? Como esperam convencer alguém de que é melhor pra classe trabalhadora não ter mais médicos atendendo as pessoas?
Medidas estruturais
Mas o PSTU tenta convencer, e em quase 20 mil caracteres. Boa parte das mais de 2.700 palavras no texto deles são para falar dos problemas estruturais da saúde pública no Brasil. De fato, importar médicos é uma solução “tapa buraco”. No entanto, em que não trazer esses médicos resolve os problemas estruturais da saúde? Uma medida não se opõe à outra. Gastam parágrafos e parágrafos com um falso dilema.
Sim, o PT cedeu à direita e seu programa de privatizações. Sim, o programa Mais Médicos é insuficiente. Mas não trazer esses médicos vai ser pior ainda, e não trazê-los não implica em fazer as melhorias estruturais. A direita se opõe à importação de médicos para manter tudo como está, e se opõe junto com o PSTU. A posição da direita, que o PSTU, acompanha, é a de impedir que o governo faça qualquer coisa pela população para atacar a sua performance eleitoral, atacando o povo.
A única posição democrática, progressista e revolucionária nestas questões é reivindicar mais e assim impulsionar a organização popular independente. Que trabalhador pode levar a sério um partido que se diz popular e quer bloquear o envio de médicos às populações carentes?