Pequena cidade recebe apoio de regiões vizinhas contra neonazistas. Local foi escolhido pela extrema-direita para se tornar "comunidade de supremacia branca"
Depois de chamar a atenção da imprensa internacional por ter sido escolhida por neonazistas para se transformar numa comunidade de supremacia branca, a minúscula cidade de Leith, no estado norte-americano da Dakota do Norte, com apenas 24 habitantes, começou a atrair pessoas de regiões vizinhas mobilizadas para lutar contra a iniciativa.
Os residentes de Leith já haviam se manifestado contrários e surpresos em relação ao plano de Craig Cobb, um neonazista canadense que se mudou para a cidade e comprou diversos lotes, vendendo-os a outros adeptos da supremacia branca e doando-os a movimentos como o NSM (Movimento Socialista Nacional Americano) e o WAR (Resistência Ariana Branca). O único morador negro da cidade, Bobby Harper, deu uma entrevista à CNN dizendo que nunca havia sido vítima de racismo no local antes de Cobb aparecer.
Agora, entretanto, a resistência ficou mais forte, com o apoio de moradores de cidades próximas a Leith. No último domingo (22/09), mais de 300 marcharam pelas ruas do município carregando cartazes e bandeiras contra o racismo e outras atitudes discriminatórias. Enquanto caminhavam, cerca de 20 bandeiras brancas de temática nacionalista se tornaram visíveis na parte da frente da casa de Cobb.
Scott Garman, organizador do protesto do grupo anti-racista UnityND, gritou em um megafone, dirigindo-se a Cobb: “Esse não é um evento de um dia só, nós vamos voltar de novo e de novo, até que você vá embora”. O xerife do condado, Steve Bay, e outras autoridades formaram uma linha entre os manifestantes e a casa do idealizador do projeto de supremacia branca.
Cobb, por sua vez, chamou o protesto de “pura comédia”, ainda que tenha sido feito por um grupo maior do que ele esperava. Segundo ele, os manifestantes “não são humanos”. “Eles são uma força da natureza que fez um plano para impedir minha liberdade”, afirmou.
Entre as pessoas que apareceram em Leith para demonstrar seu apoio à causa dos moradores, o grupo que mais chamou a atenção foi o de senhoras indígenas das etnias lakota e dakota (que dá nome ao estado), que roubaram e queimaram uma bandeira com a suástica em protesto. Outros nativos indígenas também foram à cidade para se manifestar.
Também em solidariedade, um blog chamado Not in our town, dedicado a “apoiar e inspirar pessoas e comunidades para interromper o ódio e aumentar a segurança”, segundo o site oficial, criou uma campanha para ajudar os moradores de Leith que são contra a iniciativa racista. Eles pedem aos visitantes do site para que deixem um comentário de apoio e façam doações para ajudar nas ações legais contra Cobb.
Entretanto, o domingo de protestos anti-racistas também foi marcado pela chegada de vários neonazistas à cidade, incluindo o comandante do NSM, Jeff Schoep. Ele chamou os manifestantes de “agitadores de fora”, porque a maioria não era de Leith, e disse que sua visita tinha o objetivo de apoiar Cobb e seus planos.
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“Se alguém quer pisar nos nossos direitos ou nos direitos de nossos amigos, nós vamos nos envolver”, afirmou Schoep ao grupo postado em frente à casa de Cobb. Ele disse estar orgulhoso do canadense, que “está fazendo uma coisa ótima”. “Com a situação econômica do nosso país, temos muitos desempregados”, disse. “Essa é uma boa oportunidade para as pessoas virem para cá e construírem uma vida melhor”.
Condições sanitárias
Enquanto isso, os manifestantes contra o racismo podem ter ganhado um aliado inesperado. Na segunda-feira (25/09), o Departamento de Saúde do Estado informou que havia se expirado o prazo dado a Cobb para instalar água potável e uma saída de esgoto em sua casa. Sendo assim, o local deve ser declarado inabitável nos próximos dias.
Além disso, outras duas estruturas das quais Cobb é dono na cidade podem ser removidas no próximo mês, segundo o jornal The Bismarck Tribune. A casa do canadense fica diretamente em frente à de Bobby Harper, o único negro da cidade, e sua mulher.