Se continuar neste caminho, Lobão poderá ser lembrado no futuro como o parceiro de Reinaldo Azevedo em uma cruzada delirante contra a ameaça comunista
Marcos Sacramento, diário do centro do mundo
Fiquei meio desapontado com o anúncio da coluna de Lobão na Veja. Não que tenha sido uma surpresa, tendo em vista as besteiras que ele tem dito ultimamente. Havia a esperança de que essa verborragia fosse apenas um surto, vontade de aparecer, mas o negócio parece ser sério. Lobão passa a borracha em seu histórico no rock nacional ao virar colunista de uma revista reacionária e divorciada da realidade. Deu um passo largo em direção ao ostracismo artístico. Leia também
O trabalho de Lobão ajudou a forjar meu gosto musical. Fui criança nos anos 80 e cresci cantarolando seus hits. Não era fã, mas as músicas dele estavam sempre ali entre as tantas influências da época. Ironicamente, por meio dele tive o primeiro contato com Che Guevara, através da letra de “Panamericana”.
Mais tarde, admirei sua briga contra a indústria fonográfica e a investida no mercado independente. Minha música favorita do seu repertório é dessa fase: “Mais uma vez”, do álbum A Vida é Doce.
Resta saber se Lobão vai significar alguma coisa para a garotada que está começando a ouvir rock agora. Arrisco um palpite, pegando como exemplo Aracy de Almeida. Dona de uma voz preciosa e principal intérprete da obra de Noel Rosa, é mais conhecida pelo grande público por seu trabalho de jurada do programa do Sílvio Santos.
Se Lobão continuar nesse caminho, será lembrado no futuro como o parceiro de Reinaldo Azevedo em uma cruzada delirante contra a ameaça comunista. Ou como o velhinho enfezado do youtube. Só os mais curiosos saberão do seu passado musical criativo e contestador.
A diferença é que ser calouro do programa Sílvio Santos não compromete o caráter de ninguém. Já escrever uma coluna na revista que avacalha o país empalidece qualquer biografia de respeito.