Globo enche a bola do governador Geraldo Alckmin por seus fracassos no combate ao PCC. Será o calendário eleitoral?
Helena Stephanowitz, RBA
Demorou sete anos desde que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) deflagrou um grande ataque que paralisou São Paulo para que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se mexesse um pouco mais enfaticamente. Só agora se tem notícia de uma investigação supostamente profunda com interceptações telefônicas de ligações dentro e fora dos presídios, revelando, inclusive, infiltração do crime dentro da força policial paulista mediante propinas. Por que só agora, se tudo isso poderia ter sido feito nos últimos sete anos? Leia também
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Há um forte indício que pode explicar: o calendário eleitoral. Estamos a um ano das eleições nas quais o governador é candidato natural de seu partido à reeleição, e os sucessivos governos tucanos começam a demonstrar “fadiga de material”, ou seja, o eleitor paulista está cansado de o tucanato não resolver seus problemas de segurança pública, educação, saúde, transporte, corrupção, etc, que vêm se acumulando ao longo de vinte anos no poder. Nas pesquisas de opinião pública feitas em São Paulo, a segurança desponta como uma das maiores preocupações dos cidadãos. Sem dúvida é um ponto fraco dos governos tucanos paulistas.
Os indícios aumentam quando o Jornal Nacional, da TV Globo, dá destaque quase diário a esta investigação de forma praticamente laudatória ao governador. O destaque lembra a operação pirotécnica feita na chamada “cracolândia” antes das eleições de 2012, que, em vez de resolver, apenas mudou o problema de endereço. Vamos lembrar que a emissora tem um histórico de procurar favorecer candidatos de sua preferência, seja no plano federal, seja no estadual, e estes têm sido os tucanos.
Durante a campanha eleitoral de 2010, a emissora chegou a protagonizar o episódio da bolinha de papel, fazendo uma cobertura sem compromisso com o esclarecimento da verdade, o que acabou tornando-se um vexame jornalístico, com internautas decompondo os vídeos quadro a quadro para comprovar que a versão apresentada pela emissora e pelo candidato José Serra não se sustentava.
Nas eleições estaduais de 1982, a TV Globo também fez a cobertura da apuração no Rio de Janeiro apresentando números que vieram a se provar que eram fraudados. Era a versão que interessava à candidatura do partido, de apoio à ditadura, contra a candidatura de Leonel Brizola, no escândalo “Proconsult”.
Agora, no noticiário sobre a organização criminosa, a emissora também falha ao não mostrar os outros lados da questão que são desfavoráveis ao governo de Geraldo Alckmin. As falhas das escolhas políticas da Secretaria de Segurança Pública nas gestões tucanas nem são citadas.
O porquê desta investigação demorar tanto a ocorrer também é omitido. Noticiar casos de propinas a maus policiais como se fosse novidade é outra coisa que chega a ofender a inteligência do telespectador, sobretudo o cidadão paulistano, cansado de saber que existe a prática e dono de um sentimento de que houve má vontade para apurar durante anos. Na verdade a polícia precisava estar sendo depurada há muito tempo, como todas as instituições de Estado devem ser, em processo contínuo. E faltou nas reportagens, já que estão sendo veiculadas há vários dias, a opinião de cidadãos, de especialistas que a emissora gosta tanto de ouvir, e de deputados estaduais da oposição que têm a função de fiscalizar o Executivo e tiveram diversas CPIs barradas. Só assim a notícia formaria um quadro completo. Mas, certamente, essa honestidade iria na contramão dos interesses eleitorais do governador.
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