Categories: Rio de Janeiro

A luta dos professores e o show de horrores no RJ

Share

Dessa vez, não daria para chamar os manifestantes de desinformados. Os mobilizadores são profissionais que vivem para informar. Muito mais do que “formar opinião” formam cidadãos

Waldemar Figueredo, em seu blog

O que observei hoje na Avenida Rio Branco… Pela manhã, o incômodo. Chegar para trabalhar foi difícil. Trânsito que determinava o atraso. O centro da produção da cidade menos veloz. Mas quem está incomodado com a agenda da Câmara dos Vereadores do Rio nesta terça-feira nublada? A proposta da prefeitura para o novo plano de carreira dos professores municipais do Rio de Janeiro é um deboche.

Dessa vez, não daria para chamar os manifestantes de desinformados. Os mobilizadores são profissionais que vivem para informar. Quem suporta ainda os tais formadores de opinião? Mas os que chegaram hoje cedo no centro do Rio trabalham pela formação de crianças e jovens. Ensinam a pensar. Quando os alunos dão sinal de autonomia os mestres se sentem gratificados.

Muito mais do que “formar opinião” formam cidadãos. Promotores de sociabilidades e fomentadores da vida comunitária.

Observei pessoas constrangidas por deixarem os professores gritarem na praça reclamando DIGNIDADE. Chegamos a essa situação e a sociedade não pode eleger Cabral e Paes como os bodes que devem sofrer fora no arraial. Erramos todos. Os diletos governantes foram eleitos sem precisar de segundo turno nas eleições. Podemos acusa-los de muitas coisas, menos de incoerência. Os caras disseram a que vieram e mantém coerência com suas biografias políticas.

Vi um senhor, grisalho, educador, chorar como criança. Magoado por ter corrido da polícia. Dizia ele aos prantos: eu não sou bandido, eu não sou bandido…

Vi por detrás do capacete um policial com olhar perdido, constrangido por correr atrás de professores. Tonto com a liturgia da farda. Confuso entre as palavras de ordem e os gritos dos professores. Seus passos eram incertos.

Vi trabalhadores pelas calçadas, apressados, talvez determinados a produzir mais para não depender dos serviços públicos. Parece que na cabeça de muita gente o sinal de que ascenderam socialmente é justamente quando deixam de depender diretamente dos serviços públicos. Nesse compasso, os emergentes da classe média passam correndo pelas calçadas querendo se diferenciar do bolo.

A terça-feira (1º) foi marcada por mais truculência policial contra professores da rede municipal; 17 pessoas foram detidas e 11 ficaram feridas (Foto: Pablo Vergara)

Vi alunos uniformizados alternando momentos de perplexidade e ódio. Hoje não teve aula! Não é bem assim. A aula de hoje o mestre Paulo Freire teria gostado de assistir. A didática das ruas. Os registros das câmeras de coisas pequenas, simples, prosaicas e cheias de sentidos. Material para ilustrar e animar as conversas em sala de aula. A história é uma produção humana. Podemos e devemos ser agentes de transformação.

Vi gente solidária que saiu de onde estava. Interromperam as suas atividades para engrossar o coro da educação. Para esses, o bordão tempo é dinheiro não os paralisa. Tempo é vida. Solidariedade é vida. Dispostos sempre a partilha. Gente que não quer perder o real sentido da coisa pública.

Já era noite quando desci as escadas e entrei no trem do Metrô. Olhos ardidos pelo efeito da fumaça de pimenta. Ao lembrar-me daquele professor chorando pela humilhação de fugir da polícia, aproveitei os olhos marejados e deixei as lágrimas rolarem.

Bem aventurados os que choram!

Bem aventurados os que têm fome e sede por justiça!

Bem aventurados os professores da Rede Pública do Rio que mesmo em condições tão precárias educam enquanto choram!

Dormirão o sono dos justos na esperança de amanhã vê nascer o sol da justiça.