"O filme é um dos poucos documentos históricos remanescentes da produção cinematográfica de Munique e um dos poucos de um diretor cujo nome foi apagado da história pelos nazistas". Confira a programação completa da Mostra Internacional de Cinema
A exibição de um filme mudo acompanhado de orquestra já virou programa anual disputado durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Na projeção levada ao Ibirapuera, clássicos como “Nosferatu” (1922) e “Metrópolis” (1927) atraíram mais de 15 mil pessoas cada um nos dois últimos anos.
A aposta da 37ª Mostra para a projeção prevista para o dia 26 é mais arriscada: “Nathan, O Sábio” (1922), de Manfred Noa, não é tão conhecido quanto seus antecessores. Em compensação, tem histórias de bastidores que dariam um filme dramático.
Confira aqui a programação completa da Mostra Internacional de Cinema
A peça homônima de Gotthold E. Lessing (1729-1781) nunca foi encenada com o autor em vida por causa da proibição da Igreja Católica, que achou o material ofensivo.
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Usando Jerusalém durante a Terceira Cruzada como pano de fundo de uma trama sobre como cristãos, muçulmanos e judeus são levados a uma guerra sem nexo, o texto critica a devoção religiosa.
A adaptação de Noa sofreu dificuldades ainda maiores. Em 1922, prestes a ser lançado, o filme foi levado para a aprovação do Conselho de Censores de Cinema de Munique e foi mantido “em suspenso” por representar “perigo à segurança pública”.
A razão, por baixo das palavras oficiais, era mais específica: no fim do longa, Nathan, um judeu, consegue unir todas as forças opostas.
Perdido
Com a ascensão do partido nazista e o crescente antissemitismo na Alemanha, o filme foi também perseguido. Um dono de cinema em Munique chegou a receber ameaças de detratores da obra, que deixariam o local “em pedaços” se ele exibisse “Nathan, O Sábio”.
Não há registros de sua exibição durante o regime de Adolf Hitler. O filme foi, então, considerado perdido.
“A equipe do Museu do Cinema de Munique encontrou uma cópia em 1996, em Moscou, com o nome errado de ‘A Retomada de Jerusalém'”, conta Stefan Drössler, que ficou responsável pela restauração, completa apenas dez anos depois da descoberta.
“O filme estava quase completo, não havia reconstrução para fazer. A principal tarefa era cuidar da qualidade da imagem e corrigir as cores.”
A escolha para ser exibido pela primeira vez na Mostra tem importância histórica.
“O filme é um dos poucos documentos históricos remanescentes da produção cinematográfica de Munique e um dos poucos de um diretor cujo nome foi apagado da história pelos nazistas”, afirma Drössler.
Além disso, a Orquestra Petrobras Sinfônica, sob o comando de Carlos Prazeres, terá a adição do músico libanês Rabih Abou-Khalil, que compôs a trilha para a ocasião e é um dos maiores especialistas em oud, uma espécie de alaúde (instrumento de cordas) árabe.
Folhapress