Por que aceitamos na vida adulta que homens sejam chefs de cozinha, mas na infância, as panelas e tarefas domésticas cabem sempre às meninas?
Ana Cláudia Bessa, Trezentos
Há mais de 1 ano atrás eu fiz uma enquete num antigo blog pessoal:
Pergunta para mãe/pai de meninOs: Você deu ou daria brinquedos como bonecas, vassouras e panelinas para seus meninos?
Apenas 66 pessoas responderam e o resultado foi que 47% daria sem problemas. O restante não daria por diversos motivos, mas não daria.
Por que eu fiz esta pergunta? Porque meu filho me pediu uma boneca. Sua justificativa era que seus bonecos (homens) estavam precisando da companhia de meninas. Diante desse argumento -e eu sempre procuro ceder diante de bons argumentos-, foi impossível não dar à ele sua desejada boneca ( ele ganhou duas : uma Susi –Barbie NOT- e uma Jessie (Toy Story). Afinal, nada mais saudável do que cultivar relacionamentos entre homens e mulheres de maneira igualitária através das brincadeiras. Pelo menos, é isso que prego e acredito.
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Mas talvez isso também não seja algo tão surpreendente se avaliarmos que eu dou brinquedos femininos para meus dois meninos. Não me prendo a cor ou ao gênero do brinquedo. Sendo assim, na nossa casa, não é surpresa alguma encontrar meus filhos brincando com panelinhas cor-de-rosa.
Além dessa questão, outra coisa me faz ver tudo isso com muita naturalidade e acredito plenamente que também a meu filhos: o pai deles, é um homem que faz tudo dentro de casa e usa camisa rosa: cuida dos filhos, cozinha, varre… ele não faz a menor distinção sobre o que é considerado tarefa feminina ou masculina.
Se essas brincadeiras são uma forma das crianças entenderem a sociedade e sua realidade, acredito que estamos criando meninos para serem ótimos companheiros e pais. Espero que minhas noras valorizem e nos tratem muito bem…rs….
Mas talvez isso também não seja algo tão surpreendente se avaliarmos que eu dou brinquedos femininos para meus dois meninos. Não me prendo a cor ou ao gênero do brinquedo. Sendo assim, na nossa casa, não é surpresa alguma encontrar meus filhos brincando com panelinhas cor-de-rosa.
Além dessa questão, outra coisa me faz ver tudo isso com muita naturalidade e acredito plenamente que também a meu filhos: o pai deles, é um homem que faz tudo dentro de casa e usa camisa rosa: cuida dos filhos, cozinha, varre… ele não faz a menor distinção sobre o que é considerado tarefa feminina ou masculina.
Se essas brincadeiras são uma forma das crianças entenderem a sociedade e sua realidade, acredito que estamos criando meninos para serem ótimos companheiros e pais. Espero que minhas noras valorizem e nos trate muito bem…rs….
Contudo, é triste ver que quando vamos a uma loja de brinquedos, os fogões, vassouras e eletrodomésticos de brinquedos são todos rosa ou lilases. Por que aceitamos na vida adulta que homens sejam CHEFS de cozinha, mas na infância, as panelas e tarefas domésticas cabem sempre às meninas?
Na década de 70, as bonecas vinham com nomes que valorizavam a mulher submissa (afinal “Amélia é que era mulher de verdade”) e santificavam a imagem da mãe. Aos meninos cabem os carros (como se mulher não gostasse de dirigir), as armas e junto com elas, a violência masculina banalizada desde a infância. E talvez isso explique muita coisa no comportamento violento de muitos homens jovens e adultos.
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Aos meninos cabe também toda a gama de cores (exceto o rosa). Enquanto as meninas, ficam presas num mundo monocromático de princesas cor-de-rosa e tarefas consideradas menores. Ou ainda num mundo de consumo excessivo que cabe à Barbie oferecer em profusão com um apelo de uma beleza plástica irreal, levando nossa sociedade a uma busca insana pela beleza perfeita e inexistente que gera doenças como bulimia, anorexia e depressão.
Fico pensando no que será desse mundo de princesas quando elas crescerem e virem que os homens não são príncipes encantados, E também aos homens que cresceram acreditam em princesas que não existem. Será também que esta visão equivocada da realidade entre homens e mulheres, incentivada na infância, não é um fator determinante para essa total falta de sintonia entre os sexos gerando essa enorme dificuldade que nossa sociedade apresenta em se relacionar afetivamente?
No dia das crianças já fiquei longe dos meus filhos, num evento voltado para a discussão do incentivo ao consumo na infância. Quando recebi o convite, não pude deixar de aceitar porque estaria longe dos meus filhos no dia das crianças. Essa data é uma data comercial que ficou famosa nos anos 60 quando divulgada por uma indústria de brinquedos. A fábrica acertou na estratégia e hoje o dia das crianças é uma data exclusivamente comercial e aceita por todos como um dia de ganhar presentes. Eu fiquei longe dos meus filhos neste dia, ele receberam brinquedos simples e não comemoramos nada. E no que pudermos oferecer a eles, vamos mostrar que o mundo é um lugar de homens e mulheres que partilham todas as suas tarefas de forma igualitária, com respeito e companheirismo, sempre. E gostaria que o dia das crianças fosse um dia de brincar de qualquer coisa. Mas não um dia de mostrar que só é feliz quem ganha presentes mirabolantes (e sexistas). Parece piegas dizer mas mais importante do que ser feliz por causa de um brinquedo, é ser feliz sem ele. É aprender que a felicidade não depende de uma fator externo.
Logo chegará o Natal. Hora também de mostrar que a felicidade deve estar dentro de nós para que possamos enfrentar com serenidade as dificuldades e limitações que a vida nos apresentará. Isso sem remédios como a ritalina e rivotril.
Dê mais presença, mais afeto. Não deixe o presente material ser o centro das atenções. O que nos faz humanos, é o afeto.